Por Paulo Roberto Sampaio*
Ainda estamos a um ano e uns 3 meses da sucessão presidencial (e estadual), mas as pesquisas já estão nas ruas, dos mais variados institutos, a aferir o quadro de momento, em especial para prever quem será o futuro morador do Palácio da Alvorada e a bater ponto diariamente no Palácio do Planalto.
As últimas que vi circular apontam o ex-presidente Lula
com uma invejável vantagem frente ao atual ocupante dos dois palácios,
Jair Bolsonaro, com Ciro Gomes se ensaiando como a eventual terceira
via.
Tudo bem que estamos falando de um quadro de momento, mas
ainda assim fico intrigado com o que essas pesquisas dizem ou retratam e
o que vejo no meu entorno. Receio viver numa bolha semelhante a que
parece viver o presidente, mas o fato é que 80% dos amigos ou dos que me
cercam, até porque nem todos posso classificar como amigos, são
bolsonaristas declarados. E as pesquisas parecem não chegar a esse
público.
Longe de mim duvidar da credibilidade dos institutos,
em especial do Datafolha, mas há algo no ar que não consigo captar. Sei
que pesquisa é um negócio bem complicado, não é chegar na esquina,
pegar um passante e perguntar em quem o cidadão vai votar. Há um
princípio científico, os cortes seguem o percentual da população, idade,
nível social, escolaridade, renda e daí sai um retrato da sociedade.
Mas se as pesquisas estão mesmo certas, tem muita gente calada e os
próximos meses reservarão muitas emoções.
Minha dúvida acaba
reforçada com as tais "motociatas". Sei que motociclistas e motoqueiros
adoram um passeio em grupo, fazer barulho e mostrar suas máquinas
potentes, principalmente as super máquinas, mas todos eles são
bolsonaristas... De onde veio essa paixão tão grande que coalha o
asfalto quando se anuncia uma "motociata" do mito... Se é só pelo prazer
e pela farra, por que os lulistas ou ciristas não fazem a sua... É
outro ponto intrigante nessa história.
No interior, onde fiz
algumas campanhas levado pelo marketing político, a coisa funciona - ou
funcionava - na base do tanque cheio. Os postos faziam a festa. “Alguém”
ia lá e pagava tudo, muito bem camuflado, com cada candidato procurando
mostrar mais apoio, mais motos, para fazer inveja ao adversário e
arrebanhar os eleitores indecisos.
Mas aqui e com a dura
vigilância no abuso do poder econômico, isso está fora de cogitação.
Então alguém há de me explicar de onde vem essa súbita admiração dos
motoqueiros pelo mito, senão pelo propósito de apoiá-lo mesmo...
Por
fim, falemos do voto impresso. Até que surjam as provas concretas de
fraude, acho um retrocesso, mas não descarto. Se dúvidas existem, melhor
dirimi-las logo e se o modelo proposto não retarde a divulgação do
resultado, não me parece fora de cogitação.
Enfim, cabe ao
Congresso decidir. Se resolver deixar como está, o lado perdedor nessa
pugna vai chiar. Se resolver adotar o voto híbrido ou auditável, os
defensores do modelo atual vão torcer o nariz. Que pelo menos tudo isso
aconteça bem antes das eleições, para que o mercado absorva e o país
chegue forte às urnas.
*Paulo Roberto Sampaio é diretor de Redação da Tribuna e escreve neste espaço quinzenalmente às terças-feiras.
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