A
luta pela igualdade na vida real também deveria ser esta: pela
igualdade de oportunidades no ponto de partida, não pela igualdade de
resultados no ponto de chegada. Luciano Trigo para a Gazeta do Povo:
Eu
adoro Olimpíadas. Meu impulso nestes últimos dias tem sido virar a
noite acordado assistindo às competições. Pode ser qualquer esporte,
envolvendo atletas de qualquer país. Também adoro acompanhar a evolução
do quadro de medalhas e o noticiário sobre os bastidores dos jogos - e
me emociono com as histórias de superação. Fiquei arrepiado com a
medalha de prata de uma menina brasileira de 13 anos no skate, Rayssa
Leal, a “Fadinha”.
As
Olimpíadas são uma metáfora da vida. Ali o orgulho da vitória e a
frustração com a derrota são expostos em sua forma mais elementar,
várias vezes ao dia. No pódio, não há lugar para todos: somente aos mais
talentosos, aos mais preparados, aos mais dedicados, aos mais fortes,
aos mais rápidos são reservadas as premiações. No pódio, não há cotas
nem mecanismos de compensação.
Uma
dose de sorte também é indispensável, é claro. Como na vida, aliás. Mas
a premissa é que todos ali estão competindo em igualdade de condições.
Sem mimimi, sem lacração, sem dívida histórica a reparar, sem mecanismos
de compensação para quem tem sobrepeso, nem para quem opta por
determinada orientação sexual, nem para quem vem de nações que sofreram
com a opressão de colonizadores séculos atrás.
Nas
Olimpíadas o vitimismo não tem vez. O que conta é o desempenho, simples
assim. Sua pontuação não vai aumentar com base no seu peso, na sua
etnia ou na sua orientação sexual. Seu adversário não vai sentir pena,
se você errar.
A
diversidade, evidente nas transmissões das competições, não implica
qualquer tratamento preferencial dado a tal ou qual minoria. Ninguém tem
uma nota de partida maior nem uma vaga garantida nas finais em função
de sua etnia ou orientação sexual – da mesma forma, evidentemente, que
ninguém é prejudicado em função de sua etnia ou orientação sexual.
E,
desnecessário dizer, os atletas vencedores frequentemente integram
minorias – e vencem não por serem tratados com condescendência ou por se
beneficiarem de regras compensatórias, mas por serem melhores. As
diferenças – algumas inatas, outras resultado de escolhas pessoais – não
interferem na premissa essencial de que o que importa e faz diferença,
no esporte como na vida, é o mérito.
Nesse
sentido, as Olimpíadas são um tapa na cara da narrativa progressista,
igualitária, compensatória e identitária que vem sendo imposta à
sociedade nos últimos anos. Uma narrativa que odeia o mérito e
transformou “meritocracia” em palavrão. Uma narrativa que, embora na
aparência exalte a diferença, no fundo odeia a diferença, começando pela
diferença de opinião, pois persegue a massacra todos que não pensam da
forma “certa” e hegemônica.
Nos
jogos, a celebração da diversidade não se opõe à verdade óbvia (ou que
deveria ser óbvia) de que os indivíduos são diferentes – nas aptidões,
nos talentos, na persistência, na inteligência, na força, na disposição
de fazer sacrifícios - e de que essas diferenças importam. Nada mais
distante da ideia "progressista" de que as pessoas não são responsáveis
pelos seus sucessos ou fracassos, mas vítimas de um sistema malvado que
precisa ser combatido.
As
Olimpíadas são a celebração do individual (cada indivíduo é diferente
dos demais) e do universal (todos os indivíduos são iguais em humanidade
e direitos), duas categorias negadas pelo discurso tribal progressista,
no qual o individual se dilui no grupo e o que importa não é o
reconhecimento de uma humanidade comum e universal, é o nicho ao qual
você pertence – cada nicho buscando seus próprios privilégios, ou, pior
ainda, buscando ocupar o lugar do opressor.
A
luta de muitos movimentos identitários não é pelo apagamento das
diferenças, isto é, por uma sociedade em que não faça diferença, em
termos de direitos, o grupo a que se pertence; ao contrário, a
estratégia é acirrar as diferenças, de forma a perseguir privilégios
para o próprio grupo, transformando os demais em inimigos a abater. Não
se luta para deixar a posição de vítima oprimida, mas para reforçar essa
posição de forma a tirar proveito dela.
A
igualdade nos jogos olímpicos está no ponto de partida – todos competem
nas mesmas condições – não no ponto de chegada – já que só alguns saem
vitoriosos, e a grande maioria volta para casa sem medalhas. A luta pela
igualdade na vida real também deveria ser esta: pela igualdade de
oportunidades no ponto de partida, não pela igualdade de resultados no
ponto de chegada, o que é uma falácia.
Na
educação, por exemplo, o caminho escolhido no Brasil não foi lutar por
uma educação básica universal de qualidade, que garantiria a todos a
oportunidade de competir em condições justas por um lugar ao sol, mas a
distribuição compensatória de diplomas de curso superior, quando o mal
já está feito, e cujo resultado é uma geração de graduados em lacração,
mas desempregados e despreparados para o mercado de trabalho.
Se
as Olimpíadas aderissem ao discurso identitário progressista, o quadro
final de medalhas já estaria previamente estabelecido: tantas medalhas
para os atletas LGBTQA+, tantas medalhas para atletas de tal ou qual
etnia, tantas medalhas para “corpos gordos”, tantas medalhas para
atletas trans. A única exceção seriam os homens brancos heterossexuais,
que não teriam direito a medalha alguma.
Todas
as competições terminariam empatadas, para não ferir a sensibilidade de
atletas com sobrepeso, ou cujos ancestrais foram explorados por
colonizadores séculos atrás. Aliás, todas as medalhas dadas a atletas
brancos e heterossexuais em todas as edições passadas das Olimpíadas
seriam canceladas, e os registros apagados da História. E a estátua do
Barão Pierre de Coubertin, considerado o fundador das Olimpíadas da era
moderna, seria incendiada, aos gritos de "homofóbico!", “racista!” e
“genocida!”.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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