Tendo engolido o sapo da fuga do líder oposicionista Leopoldo López, Nicolás Maduro tem mais um plano para piorar a vida dos venezuelanos. Vilma Gryzinski:
Tudo o que Nicolás Maduro e asseclas fazem melhora o domínio do poder dos governantes e inferniza a vida dos governados.
A
última foi jogar o balão de ensaio sobre a compra de mísseis de longo
alcance fornecidos pelo Irã, o regime irmão que está ajudando a manter a
Venezuela
um pouco acima da linha de flutuação, fornecendo gasolina – sim, o
grande produtor de petróleo não tem como manter o país andando.
Desde
que Maduro disse, em agosto, que seria uma “boa ideia” comprar mísseis
do Irã, mais um problema autoprovocado entrou em cena.
A
coisa foi para a frente? Algo mudou? Talvez o desejo de aproveitar o
momento em que as eleições americanas dominam as atenções?
Seja
o que for, Elliot Abrams, representante especial do Departamento de
Estado, achou que seria o momento certo para dar uma cacetada na mesa.
“A
transferência de mísseis de longo alcance do Irã para a Venezuela não é
aceitável para os Estados Unidos e não será tolerada ou permitida”,
disse.
Precisa desenhar? Pois lá vai:
“Faremos
todos os esforços para impedir carregamentos de mísseis de longo
alcance e, se de alguma maneira chegarem à Venezuela, serão eliminados
lá”.
A possibilidade de um bombardeio americano em território venezuelano está bem no terreno das hipóteses.
Mas
dá para imaginar o pandemônio geopolítico que uma Venezuela com
foguetes sofisticados, com capacidade de atingir vizinhos ou naves de
patrulhamento, provocaria na Colômbia, em primeiro lugar, por sua
posição habitual como antagonista regional do regime madurista, e
também, claro, no Brasil.
“A
Venezuela está pagando em ouro para comprar gasolina do Irã e existe
uma presença iraniana no país”, disse Abrams, destacando a proximidade
entre os dois regimes.
Estaria o madurismo pensando que as coisas ficarão mais fáceis com um eventual governo Biden?
“Não
podemos ignorar que Maduro agora é um ditador, que perdeu toda a
credibilidade pelo sofrimento que infligiu ao povo venezuelano”,
respondeu, em entrevista ao site Infobae, Juan Sebastián González, o
homem de Biden para a América Latina.
Precisa desenhar? Pois lá vai:
“É
inaceitável que milhões de venezuelanos tenham que fugir de seu país
para comer e que Maduro se mantenha no poder submetendo intencionalmente
à fome os que lá continuam, enquanto os protegidos do regime vivem no
luxo e roubam bilhões do país”.
Detalhe:
González é um colombiano naturalizado americano, portanto, bom
conhecedor das artimanhas do regime que destruiu a Venezuela.
Mas Biden conseguiria o que Trump não conseguiu? E como faria isso?
Apesar
da veemência, González fala apenas em aumentar “a pressão multilateral
sobre o regime para que negocie de boa fé com a oposição”.
Sabemos exatamente para onde isso leva: a lugar nenhum.
Tendo
dominado absolutamente todas as instâncias do poder, inclusive ou
principalmente as instituições armadas, Maduro e companhia conseguem
sobreviver a qualquer tentativa de derrubada.
A mais séria delas, com a participação do chefe de inteligência, foi em abril de 2019.
Seu
líder mais importante, Leopoldo López, asilado na embaixada da Espanha
desde então, protagonizou na semana passada uma fuga espetacular,
reaparecendo em Madri, onde sua família já mora.
Apesar
de amargar o vexame da fuga bem debaixo das barbas do esquema de
segurança que cercava a residência do embaixador da Espanha, Maduro pode
sair ganhando: é mais confortável ter um líder carismático como López
fora do país do que dentro dele.
Nem seu pupilo, Juan Guaidó, tem tanto potencial de apelo popular.
Leopoldo
López certamente não fugiu sozinho. Quem colaborou para que saísse da
residência diplomática em Caracas e chegasse em Aruba?
Em algum momento saberemos.
Em tempo, na entrevista ao Infobae, disse Juan Sebastián González sobre o Brasil:
“Joe
Biden tem uma compreensão sofisticada sobre o Brasil e entende que a
importância estratégica do Brasil para os Estados Unidos vai além de
quem esteja no poder”.
“É
o maior exportador de produtos agrícolas do mundo, uma ponte natural
entre o G7 e o G77. Existe uma agenda global entre nossos países”.
“O
Joe Biden que eu conheço é alguém que sempre estende a mão,
principalmente agora que todos estamos sentindo o impacto da pandemia.
Mas é preciso um par para sambar”.
González
fez uma brincadeira com a expressão em inglês, “It takes two to tango”.
Os ritmos são bem diferentes, mas fica o recado.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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