Napoleão Nunes Maia, ministro do STJ. |
Nomeação de filho de ministro do STJ ao CNJ une Centrão e o PT. Qual é a surpresa? J. R. Guzzo, em sua coluna no Estadão:
De
safadeza em safadeza, e com a regularidade das marés, a aglomeração de
vossas excelências e outros peixes graúdos que ocupa os galhos mais
altos das nossas “instituições” está varrendo da vida pública brasileira
os últimos átomos de constrangimento, na hora de fazer o mal, que ainda
possam resistir aqui e ali nessas cumieiras. A ideia geral de que não
se deve praticar certas coisas em público, porque “pega mal”, parece
caminhar rapidamente para a extinção; daqui a pouco vai ficar mais fácil
achar um mico-leão dourado. O que está valendo é o exato contrário.
Existe
uma opção entre o certo e o errado, nesse ou naquele assunto? Então
vamos fazer o que está errado. Acaba de acontecer, mais uma vez, com a
decisão da Câmara dos Deputados de nomear o filho do ministro Napoleão Nunes Maia, proprietário de uma cadeira no Superior Tribunal de Justiça,
para o Conselho Nacional de Justiça. Pode parecer uma piada, e é uma
piada – mas foi precisamente isso o que houve, porque nesse bioma a
regra em vigor é “cada um cuida de si, e todos cuidam de todos”. E se
aplicação da regra requerer que se cometa um deboche? Paciência; que
venha o deboche, então, e depois a gente se arruma. Nem se perdeu tempo,
nesse caso, com a nomeação de algum concunhado do ministro Napoleão, ou
o primo em terceiro grau, ou a sobrinha do colega que despacha na sala
ao lado – foi o filho mesmo, direto.
É
um desses casos em que o insulto se soma à injúria: como essa gente tem
a coragem de nomear o filho de um ministro para o Conselho que está
encarregado de julgar o comportamento do pai? Ninguém fica com vergonha –
o pai, o filho e os 364 deputados que montaram e aprovaram essa
tramoia? Ninguém, obviamente, tanto que o rapaz – cujas credenciais de
jurista são iguais a três vezes zero – foi para o CNJ, numa operação conjunta do Centrão (cujo presidente discursou em plenário a favor do seu preferido) e do PT.
Qual a surpresa? Em coisas assim (“fundo eleitoral”, etc.) Centrão e PT
estão sempre juntos. Na verdade, essa modalidade de trapaça é a
preferida por nove entre dez magnatas da nossa vida pública: ninguém
sabe direito o que é “CNJ”, nem se importa em saber – ou seja, é o lugar
ideal para uma vigarice.
Depois
de uns ruídos na hora da escolha, o assunto cai em exercício findo e
todos os interessados ficam em paz. Por que iriam se preocupar com
alguma coisa? A nomeação não poderia vir numa hora melhor para o
ministro Napoleão. Daqui há dois meses ele será obrigado a se aposentar
do STJ – e a partir daí poderá ser acusado de corrupção pela Lava Jato.
Nessas horas, nada como um filho no Conselho Nacional de Justiça. O
respeito intransigente às “instituições” vai salvar o couro de todo o
mundo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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