Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais de quarta-feira (para a tradicional malhação do bolsonarismo):
A
reforma da Previdência definhou, as outras estão paradas, privatização é
ainda um sonho, só o custeio da máquina do Estado consome praticamente
todo o dinheiro que é possível arrecadar, estourar o teto dos gastos
públicos é o sonho de toda a manada de chifrudos fura-tetos, o Governo
está dividido, a Covid já matou 160 mil brasileiros e o que se discute
no país? Se o SUS deve incluir na distribuição de vacinas a Coronavac.
Quais
os problemas que o presidente Bolsonaro vê na Coronavac? Na verdade,
nenhum, já que ainda se testa a vacina e até agora não houve problemas.
Mas a vacina tem, aos olhos de Bolsonaro, dois grandes defeitos: o
laboratório é chinês e trabalha em cooperação com o Butantan,
subordinado ao governador Doria. Trump mandou sabotar os chineses,
Bolsonaro obedece; Bolsonaro manda sabotar Doria, seus subordinados
obedecem.
E
daí? Daí, é perder tempo: mesmo se todas as vacinas em teste forem
aprovadas, não serão suficientes. Iremos usar as chinesas, a inglesa, as
americanas, ou não haverá o suficiente. Se a chinesa funcionar, será
usada. Se não funcionar, não poderá ser usada. É simples.
Isso
não lembra o famoso poema de Cervantes, citado no título? Riscando os
cavalos! Tinindo as esporas! Través das coxilhas! Saí de meus pagos em
louca arrancada! — Para quê? — Para nada!
Na
verdade, este poema não é de Cervantes, é de Ascenso Ferreira. Mas se
até a discussão está toda errada, por que o poema tinha de ser o certo?
Todos o kerem
O
presidente prometeu um ministro “terrivelmente evangélico” no STF,
depois prometeu alguém que tomasse Tubaína com ele. Acertou: Kassio
Nunes talvez nunca tenha tomado Tubaína, mas vai tomar. E, se precisar,
vai misturar com Diet Dolly e Licor de Ovos. Vejamos as características
de Sua Excelência: liberou aquele famoso cardápio de lagostas e vinhos
premiados, o que o torna credor de alguma simpatia no Supremo; não
concorda com o cumprimento da pena após decisão em segunda instância, o
que lhe traz a simpatia do PT, de boa parte dos parlamentares, daquele
senador que gosta tanto de dinheiro que mantém com ele relações
profundas; sua esposa já foi funcionária de senadores do PT; diz ter
simpatias pelo chavismo.
Talvez
até possa cumprir a ordem de Bolsonaro, de comprar arroz na Venezuela.
Só é criticado pelos lavajatistas e pela ala mais radical do
bolsonarismo – mas os filhos do presidente iriam brigar com quem se opõe
à prisão em segunda instância? Bolsonaro acertou em cheio: Kassio é um
retrato do Brasil de hoje.
O rigor implacável da Lei
Tão
logo acharam aquele rolo de cédulas no cofrinho do senador, o país se
alvoroçou: o ministro Barroso decidiu afastá-lo do mandato, mesmo
sabendo só o esconderijo do dinheiro, sem investigar sua origem;
falou-se em reunir o Comitê de Ética do Senado. Na prática, o
afastamento do mandato pelo STF ficou pra lá, a Comissão de Ética não se
moveu, o senador pediu licença por 121 dias. Este colunista até achou
que Sua Excelência iria mesmo precisar de algum tempo de recuperação
para sentar-se de novo na cadeira, mas a licença era só para dar posse
ao suplente, por coincidência seu filho. Graças ao paipai, tem bom
salário, nomeações à vontade – coisa fina.
Família acima de tudo
Não
é só o senador Chicofrinho Rodrigues que mistura cargo com família. O
suplente de Alcolumbre, presidente do Senado, é o irmão José Samuel. O
senador Ciro Nogueira tem a mãe, Eliane, na suplência. O senador Eduardo
Braga, a esposa, Sandra. O Senado aprovou emenda constitucional que
proíbe parentes na suplência. Mas sabe como é, né? O rigor implacável da
lei não é para os amigos. A emenda está parada há uns sete anos na
Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Para que mexer no que
agrada a todos?
Fato fake
O
ministro Ricardo Salles e o general Luiz Ramos fizeram as pazes. Mas
não é para levar a sério. Um cairá fora. O general tem apoio do Centrão,
mas o ministro Salles é apoiado pelo olavismo e pelos filhos do
presidente.
Problema 1 – Goiânia
O
ex-governador Maguito Vilela, MDB, candidato a prefeito de Goiânia, com
boas chances, tem quadro sério de coronavírus, com pulmões atingidos.
Foi transferido para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
Problema 2 – Jayme Lerner
Ex-prefeito
de Curitiba, com administração internacionalmente elogiada,
ex-governador cujo trabalho se transformou em lenda, Jayme Lerner está
no hospital, recuperando-se de cirurgia de apendicite realizada no
domingo, 25. A cirurgia foi bem sucedida, mas Lerner, 83 anos, só
descansa quando está internado. Atualmente, dedica-se à campanha de seu
amigo e assessor Gerson Guelmann, que colaborou em suas principais
obras, e que pela primeira vez disputa uma eleição. A propósito, dá
vontade de ser curitibano para votar em Guelmann, por ele mesmo e em
homenagem a Jayme Lerner.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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