Ao longo das últimas quatro décadas diversas tentativas globalistas-ambientalistas fracassaram ao buscar respaldo científico e apelo popular duradouros. Artigo do biólogo e professor Rodrigo Penna-Firme, publicado pela Gazeta:
O
desejo de se estabelecer um governo ou império global remonta a séculos
antes de Cristo. Todos os grandes tiranos do mundo de que se tem
notícia ao menos pensaram nessa hipótese, de Alexandre “O Grande” a
Napoleão, de Stalin a Hitler. Contudo, pode-se dizer que é apenas a
partir da segunda metade do século 20 que a dimensão ambiental entra
decisivamente na arena do jogo de dominação internacional, passando a
fazer parte do centro dos discursos e das preocupações mundiais. No
presente século, as questões ambientais, tidas como globais, têm sido
usadas como justificativa para o avanço do pensamento
imperialista-globalista.
Os
meios utilizados no avanço desse projeto são sofisticados e sutis, mas
também tenebrosos e nefastos. A lógica que relaciona a demarcação de
problemas e suas soluções é relativamente simples. Imagine que só
existissem problemas ambientais locais e regionais – que são, de fato, a
vasta maioria dos casos. Haveria justificativa para se incorporar o
discurso ambientalista nos debates da ONU ou nos Fóruns Econômicos
Mundiais? Se problemas ambientais globais não existissem (ou se não
fossem discursivamente fabricados), qual seria a desculpa e/ou a
motivação para o estabelecimento de uma governança global dos recursos
naturais? Problemas globais requerem governança global, é o que nos
dizem.
Na
luta por poder, de um ponto de vista político-ecológico – disputas por
territórios e seus recursos naturais –, tanto faz se problemas
ambientais globais existem ou não, se são sérios ou nem tão graves
assim. Para fins de tomada de decisão e controle, importa apenas que
sejam capazes de persuadir e adotar justificativas palatáveis (não
aversivas), aquelas que agradam aos olhos e ouvidos da opinião pública e
ainda oferecem boas oportunidades aos experts. O pulo do gato é criar
medo global. Para que a estratégia funcione é preciso construir
casos/problemas terríveis que abram precedentes para a intervenção
daqueles que podem “nos salvar” de nós mesmos. Isso é essencial ao
globalismo ambiental da Nova Ordem (Eco)mundial.
Nesse
sentido, a cooperação internacional pode não fornecer os fundamentos
para a implantação de projetos totalitários, visto que a via da
cooperação pressupõe a participação de Estados-nação: autônomos e
soberanos, possuidores de culturas, histórias, com capacidades,
interesses e características extremamente singulares e, muitas vezes,
conflitantes entre si. É evidente que soberanias nacionais são o maior
obstáculo à aplicação de regras universais de uso e acesso de recursos
naturais, como as que vêm sendo elaboradas e aplicadas por agências
multilaterais, como a ONU, há quatro décadas. Tendo em vista esse
contexto geopolítico, cooperação internacional passa a ser apenas um
manto, uma “fase simulacro” para a formação de blocos continentais, que
por sua vez deverão ser subordinados aos centros de decisão de um
governo global hierárquico, multiescalar e policêntrico, mas, ainda
assim, (eco)totalitário.
Ao
longo das últimas quatro décadas diversas tentativas
globalistas-ambientalistas fracassaram ao buscar respaldo científico e
apelo popular duradouros. Isso se deu, dentre outros motivos, porque o
alcance dos problemas elencados no passado era predominantemente local,
regional e, quando muito, de escala continental. Ainda não havia uma
ameaça (real ou imaginária) que fosse suficientemente global e
inescapavelmente de origem humana. Os problemas de menor alcance
espacial eram, para citar alguns, a “primavera nuclear”, o pânico em
relação ao DDT, a chuva ácida e o “buraco” na camada de ozônio, para
citar os mais conhecidos. Eram problemas reais, contudo, em grande
medida exagerados e usados para fins políticos. Até hoje, nenhum deles
se mostrou uma ameaça à vida na Terra.
Somente
após os anos 1990 é que se consolidou entre pesquisadores e a população
em geral (com muita ajuda da mídia catastrofista) a hipótese do
aquecimento global antropogênico, assim como a ameaça global resultante
da perda “em massa” da biodiversidade do planeta. Em comum, todos os
danos do passado e do presente colocam os seres humanos como a causa
principal – portanto, o alvo do controle. Os globalistas-burocratas não
eleitos da ONU, por exemplo, conjecturam, de longa data, meios de
reduzir a população mundial, ao fomentarem programas dissimulados que
chamam de “planejamento familiar” e “direitos reprodutivos das
mulheres”. Para os terráqueos que insistem em permanecer no planeta,
oferecem diretrizes “inocentes e bem-intencionadas” para uma vida
próspera e feliz, desde que ecofriendly. As cartilhas do desenvolvimento
sustentável, que almejam a formação do bom cidadão (eco)global, e que
são elaboradas pelos profetas do apocalipse ambiental, versam sobre o
que devemos comer, como nos deslocar, onde morar e assim por diante. E
pasmem, a benevolência é tamanha que sugerem até quais causas ambientais
e sociais devemos abraçar. Quanto altruísmo!
Como
se não bastasse a ingerência sobre hábitos culturais, comportamentos
individuais e controle sobre os corpos, ainda nos inculcam direta ou
subliminarmente que, com exceção de comunidades indígenas e
“tradicionais”, não sabemos cuidar da natureza, da “casa” nem tão
“comum” assim. Pior ainda se somos habitantes de cidades do “terceiro
mundo”, do Global South ou dos “países em desenvolvimento” (todos
sinônimos). Nesse caso, representamos o ápice da degradação ambiental.
A
comunidade internacional está segura de que precisamos de tutela
ambiental. Aliás, como país em desenvolvimento, somos cada vez mais
rechaçados, na medida em que escolhemos caminhos de desenvolvimento
similares aos que possibilitaram progresso científico-tecnológico e
muitas riquezas aos nossos críticos externos. Segundo essa visão
hipócrita, o “Planeta-Mãe-Terra-Gaia” não suportaria mais gente (como
eles) vivendo bem e comendo do bom e do melhor.
Enquanto
discursos (eco)cêntricos e (eco)apocalípticos se tornam hegemônicos, e
são promulgados em alguns países com base no princípio da precaução, o
cenário vai tornando-se absolutamente tenebroso para a soberania
nacional, em especial de países como o Brasil, que detém incalculável
capital natural. Acionado por esse princípio – arbitrário e sem base
científica alguma –, a ocorrência de qualquer evento ambiental,
econômico ou cultural pode levar a “comunidade internacional” a
classificá-lo como risco (real ou imaginário) à “casa comum”. Nessas
circunstâncias, conforme ressaltei, ser real ou imaginário não importa.
Esse caminho, já aberto, poderá servir de álibi para crescentes e
permanentes ingerências internacionais, por exemplo, sobre o território
brasileiro e os recursos aqui produzidos, sejam eles commodities
agrícolas, minérios, plantas medicinais, florestas inteiras, ou até
mesmo atividades como o ecoturismo.
Apesar
dos benefícios reais da conservação da natureza – desde que sob bases
nacionais soberanas –, fica claro que o aparato (eco)ideológico
acadêmico e midiático dominante serve primordialmente aos interesses
internacionais, que por meio dele ampliam legitimidade para controlar
recursos naturais e “mentes” ambientalistas pelo mundo. É impressionante
o número surpreendente de acadêmicos brasileiros que apoiam agendas
progressistas-globalistas, sendo simultaneamente militantes de assuntos
da moda, que incluem estudos “descoloniais”, “virada ontológica
indígena”, “direitos da natureza”, “decrescimento” e assim por diante.
Esses que se autoproclamam membros de uma “casta superior”, “intelectual
não entreguista”, são os mesmos que adotam discursos que promovem
agendas globalistas-entreguistas, antinacionalistas e antipatriotas.
Conscientes ou não, abraçam calorosamente a retórica do colonialismo
contemporâneo, ou o (neo)colonialismo das elites globais. Ao contrário
do que imaginam, caminham contra a libertação efetiva das amarras
coloniais do passado. Enfim, se toda essa lógica prevalecer, com ou sem o
apoio dos “intelectuais”, cooptados ou não, qualquer nação que
“usurpar” do que as elites econômicas e políticas mundiais elegeram como
“bens comuns” será vigiada e punida.
Como
nação brasileira, ainda que participantes e dependentes de um mundo
globalizado, precisamos sair do jugo ambientalista-globalista. A
esperança não se resume aqui, mas passa pelo ressurgimento do
patriotismo não xenofóbico e não hiperprotecionista. Se precisarmos de
ajuda dos “sábios” do exterior, continuaremos solicitando sem orgulho,
imaturidade e irresponsabilidade. Mas, seja lá como for, precisamos
assegurar, acima de tudo, além de conservarmos a natureza, que as
decisões sobre como usar e acessar recursos naturais em território
nacional caibam somente ao povo brasileiro e seus representantes legais.
Rodrigo
Penna-Firme, biólogo, mestre em Ciências Ambientais e Florestais e
Ph.D. em Antropologia, é professor do Departamento de Geografia e Meio
Ambiente da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
BLOG ORLANDO TAMOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário