O que temos, nesse curioso processo de aprendizado em que se aprende cada vez menos a cada quatro anos, é a costumeira aglomeração de casos perdidos. J. R. Guzzo, em sua coluna na Gazeta:
Mais
uns dias e eis as cidades do Brasil de volta ao mesmo lugar de quatro
anos atrás e numa situação provavelmente pior. São as eleições
municipais, outra vez. Já estamos a caminho de umas dez eleições dessas,
uma depois da outra, desde que foi aprovada a Constituição Cidadã de
1988 – essa que nos trouxe a democracia, criou as “instituições” e
iluminou o sistema solar com seus 250 artigos, suas mais de 100 emendas e
as regras que produzem os políticos com essa extraordinária qualidade
que todos conhecem.
Nossas
“instituições” nos dão agora mais uma chance de votar neles, desta vez
para cerca de 5.500 prefeitos e não longe de 60 mil vereadores. A
desgraça é que em vez de melhorarem (pelo menos um pouco) a cada
eleição, como preveem os melhores manuais de ciência política, os
candidatos brasileiros só pioram. Ou seja: está dando errado.
Faça
um teste prático, sobretudo se você vive numa capital ou em cidades de
200 mil habitantes para cima: quem se lembra, sinceramente, de um bando
de candidatos piores do que estes nas eleições em que já votou? O que
temos aí, tirando as poucas exceções de sempre, são três tipos de gente
pedindo o seu voto: os ladrões, os incompetentes e os que são as duas
coisas ao mesmo tempo. O resultado é que o eleitor estará, mais uma vez,
diante da necessidade de votar no ruim para não votar no péssimo. Resta
a tentativa de encontrar uma das exceções – trabalho que consome tempo e
na maioria das vezes é mal sucedido.
O
que temos, nesse curioso processo de aprendizado em que se aprende cada
vez menos a cada quatro anos, é a costumeira aglomeração de casos
perdidos. São políticos bichados, que não podem melhorar nunca. É gente
que já teve chance de ir ao governo e não fez nada. São os perdedores
natos. São os estreantes que, vendo um nível tão baixo nos candidatos,
acham que também eles podem tentar a sua boquinha – por que não? São as
nulidades absolutas, os aventureiros e as anomalias de circo: “votem na
Monga, a mulher-gorila”, “votem no bezerro de duas cabeças”, etc, etc.
Em suma: é o mais agressivo desfile de vigaristas que o Brasil tem a
oferecer no momento.
Isso
tem cura, e nem é uma cura complicada – a única complicação é que os
sócios-proprietários das “instituições” brasileiras preferem encarar um
enfarte maciço das coronárias a aplicar uma dose mínima do remédio
disponível para melhorar o mecanismo eleitoral que escolhe os nossos
governantes, de vereador a presidente da República. É natural: as regras
que estão aí foram escritas por eles mesmos com o único propósito de
beneficiar a si próprios. Por que raios iriam mudar isso?
A
qualidade das eleições – e dos homens públicos que saem delas para o
governo – só vai ficar melhor se acabarem, no mesmo minuto, o voto
obrigatório, a propaganda eleitoral “gratuita” no rádio e tevê, e as
verbas dos fundos partidários que são extorquidas a cada ano da
população – e que atraem todo tipo de marginal para a vida pública.
O
veneno está aí – e não dá para melhorar nada, em 30 ou em 300 anos,
enquanto o processo eleitoral estiver envenenado de “A” a “Z” como está
hoje. É preciso acabar com os suplentes. É preciso acabar com o foro
privilegiado. É preciso acabar com a Justiça Eleitoral, aberração que
não existe em nenhuma democracia do mundo, não melhorou em um miligrama a
qualidade da política brasileira desde 1988 e só serve para gastar, com
o seu “superior” tribunal em Brasília, seus 27 tribunais regionais e o
resto da geringonça, R$ 20 milhões de dinheiro público por dia. E com
uma cereja no bolo: a Justiça Eleitoral é capaz de gastar mais nos anos
em que não há eleições.
Enquanto
não jogarem tudo isso no lixo, vamos continuar obrigados a escutar as
lições de moral e cívica do ministro Luis Roberto Barroso e a votar na
mulher-gorila.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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