MAP – “O Puxador” foi exibida no local em 2013, durante a exposição “Outra Presença”
O advogado Sérgio Carvalho, 55 anos, está para
oficializar mais uma aquisição para a sua coleção de obras de arte
composta, atualmente, por mais de 1.500 peças. Ao contrário das outras
vezes, ele não levará nenhuma pintura, desenho, escultura, instalação,
vídeo ou fotografia. Uma papelada passará a integrar o acervo do
colecionador. Trata-se de uma série de orientações para executar as
performances “Tríptico Matera” e “Maleducação”, de criação do Grupo
Empreza. O pagamento, inclusive, já foi feito. O novo dono diz que está,
agora, acertando os detalhes finais do contrato. A compra é tida como
inusitada porque não é recorrente a venda de performances no Brasil –
muito menos para particulares.
O mercado ainda galga espaço. Uma das razões pode ser tirada de uma das respostas obtidas pelo Hoje em Dia: “nunca foi nosso interesse (a compra de performance)”. A afirmação é do gerente do Memorial Minas Gerais Vale, Wagner Tameirão. O mais surpreendente é que a instituição é uma grande apoiadora de performances no estado mineiro.
Desde a inauguração há cinco anos, o museu, que integra o Circuito Cultural Praça da Liberdade, já apresentou por meio do projeto “Performance no Memorial” 57 performances. No acervo, porém, não consta nenhuma obra do tipo. “O acervo que a gente construiu é fotográfico e videográfico. Procuramos dar oportunidades aos performers por meio das apresentações”, explica Tameirão.
Problema histórico
Em Minas, o Inhotim e o Museu de Arte da Pampulha (MAP) são as entidades que têm performance em coleção. O “pioneirismo” do país, porém, é do Museu de Arte Moderna (MAM), de São Paulo. Em 2000, a instituição adquiriu “Bala de homem = carne / mulher = carne” (1997) e “Quadris de homem = carne / mulher = carne” (1995), ambas da artista mineira de Governador Valadares Laura Lima, 44 anos.
Laura, no entanto, não vê glória alguma em ter desbravado o filão. “Quando penso que eu abri (o mercado), acho uma lástima por ter demorado tanto. Há muitos colegas que começaram a trabalhar muito anos antes de mim”, diz.
Segundo a artista, o cenário ruim, contudo, não é exclusividade brasileira. “A área sempre esteve num estado experimental e (performances) são mais difíceis de serem adquiridas por serem (vendas de) instruções. Isso é uma questão que acontece no planeta, faz parte da história da arte”, considera.
Falta oportunidade
Uma das referências quando se fala em performance em Minas, o artista Marco Paulo Rolla, 48 anos, assim como a maioria, ainda não conseguiu entrar para o negócio. São as apresentações que realiza a sua fonte de renda principal.
“Não surgiu oportunidade de vender uma performance minha. Essa é uma coisa nova; ainda está se aprendendo como fazê-la”. Segundo ele, a galeria que o representa, a Vermelho, só vendeu uma performance no país até agora – “O Nome”, de Maurício Ianês, para a Pinacoteca, na capital paulista, em 2015.
Mesmo assim, Rolla diz ser este um momento bom para a arte. “Existem vários esforços em BH, como os do BDMG Cultural e do Memorial”, aponta. Em julho, o projeto “Manifestação Internacional de Performance”, de iniciativa de Rolla, trará novo fôlego à cidade, com workshops e 21 apresentações do gênero.
Efemeridade e imaterialidade das performances prejudicam a venda
A efemeridade é outro fator que prejudica a venda de performances. Apesar dos contratos darem o direito de exibição, o problema pode ocorrer porque existem autores que não abrem mão de executar suas respectivas obras. Em caso de morte do autor, não há mais como apresentar a arte. Como Laura Lima nunca participa das próprias criações – as quais ela não chama de performance e nem rotula com outro nome –, fica mais fácil de executá-las. “Muitos artistas trabalham com documentação. No meu caso, são instruções. O museu, então, contrata pessoas para seguir estas instruções. Dessa forma, a obra pode ser sempre atualizada”.
Sérgio Carvalho não terá a mesma facilidade. As performances compradas pelo advogado poderão ser apresentadas somente pelos criadores ou alguém indicado por eles. “Como sabe-se lá quando será possível apresentar aquela performance, (o comprador) prefere ter um quadro”, diz o colecionador, se referindo à imaterialidade da arte.
Partindo desse pressuposto, quais seriam então os motivos que levaram-no a fechar o negócio? “A performance está começando a deslanchar. Quando a venda foi oferecida pensei: ‘já tenho vídeo, instalação... mas cadê a performance? Tenho que ter uma’”, explica.
Quanto custa?
Laura, que já vendeu obras no exterior e assina duas no Inhotim e uma no Museu de Arte da Pampulha (MAP), não revela os valores dos contratos. A objeção em falar de valores também foi adotada pelos demais entrevistados pela reportagem. Manter o sigilo parece ser uma questão mercadológica. “O valor é dado a partir de uma média da importância histórica do artista ou do grupo. Também é levado em conta se a obra é premiada, se ela participou de exposições importantes... O valor é subjetivo”, esclarece o artista João Angelini, do Grupo Empreza.
Objetivamente falando, o que se sabe é que o MAM ganhou, neste ano, da colecionadora Cleusa Garfinkel, a performance “Parangolé”, de Lourival Cuquinha, que custou R$ 25 mil.
Já sobre as artes de Laura, a única indicação é que as angariadas, em 2005, pelo Inhotim – “Dopada” (1997) e “Marra” (1996) – “foram mais caras”. “Elas são dos anos 90. São históricas, especiais”, diz ela.
Planos
Conforme Jochen Volz, um dos curadores do Inhotim, as obras compradas de Laura são fruto da vontade do instituto em expandir a arte “para além das formas convencionais”. No entanto, no momento, não há confirmação de negociações por parte do museu neste sentido.
Já a gestora do MAP, Ana Carolina Andreazzi, articula que não é “política” da entidade comprar nenhum tipo de arte. Segundo ela, a performance “O Puxador”, de Laura, que integra o acervo desde 2002, foi uma contrapartida resultante de uma negociação intermediada pelo então curador do museu Adriano Pedrosa.
Já Carvalho, para a alegria dos performers, tem planos diferentes. “Irei para Recife conversar sobre a compra de outra performance”, conta, fazendo segredo sobre o nome do artista em questão.
O mercado ainda galga espaço. Uma das razões pode ser tirada de uma das respostas obtidas pelo Hoje em Dia: “nunca foi nosso interesse (a compra de performance)”. A afirmação é do gerente do Memorial Minas Gerais Vale, Wagner Tameirão. O mais surpreendente é que a instituição é uma grande apoiadora de performances no estado mineiro.
Desde a inauguração há cinco anos, o museu, que integra o Circuito Cultural Praça da Liberdade, já apresentou por meio do projeto “Performance no Memorial” 57 performances. No acervo, porém, não consta nenhuma obra do tipo. “O acervo que a gente construiu é fotográfico e videográfico. Procuramos dar oportunidades aos performers por meio das apresentações”, explica Tameirão.
INCENTIVO – O Memorial Minas Gerais Vale aposta em
performances desde a sua fundação, há cinco anos. Na foto, o curitibano
Maikon K, que apresentou “DNA de DAN”, no local, até sábado
Em Minas, o Inhotim e o Museu de Arte da Pampulha (MAP) são as entidades que têm performance em coleção. O “pioneirismo” do país, porém, é do Museu de Arte Moderna (MAM), de São Paulo. Em 2000, a instituição adquiriu “Bala de homem = carne / mulher = carne” (1997) e “Quadris de homem = carne / mulher = carne” (1995), ambas da artista mineira de Governador Valadares Laura Lima, 44 anos.
Laura, no entanto, não vê glória alguma em ter desbravado o filão. “Quando penso que eu abri (o mercado), acho uma lástima por ter demorado tanto. Há muitos colegas que começaram a trabalhar muito anos antes de mim”, diz.
Segundo a artista, o cenário ruim, contudo, não é exclusividade brasileira. “A área sempre esteve num estado experimental e (performances) são mais difíceis de serem adquiridas por serem (vendas de) instruções. Isso é uma questão que acontece no planeta, faz parte da história da arte”, considera.
MAIS UMA – Em 2008,o MAM adquiriu “Palhaço com buzina reta – monte de irônicos” (2007), de Laura Lima
Uma das referências quando se fala em performance em Minas, o artista Marco Paulo Rolla, 48 anos, assim como a maioria, ainda não conseguiu entrar para o negócio. São as apresentações que realiza a sua fonte de renda principal.
“Não surgiu oportunidade de vender uma performance minha. Essa é uma coisa nova; ainda está se aprendendo como fazê-la”. Segundo ele, a galeria que o representa, a Vermelho, só vendeu uma performance no país até agora – “O Nome”, de Maurício Ianês, para a Pinacoteca, na capital paulista, em 2015.
Mesmo assim, Rolla diz ser este um momento bom para a arte. “Existem vários esforços em BH, como os do BDMG Cultural e do Memorial”, aponta. Em julho, o projeto “Manifestação Internacional de Performance”, de iniciativa de Rolla, trará novo fôlego à cidade, com workshops e 21 apresentações do gênero.
Efemeridade e imaterialidade das performances prejudicam a venda
A efemeridade é outro fator que prejudica a venda de performances. Apesar dos contratos darem o direito de exibição, o problema pode ocorrer porque existem autores que não abrem mão de executar suas respectivas obras. Em caso de morte do autor, não há mais como apresentar a arte. Como Laura Lima nunca participa das próprias criações – as quais ela não chama de performance e nem rotula com outro nome –, fica mais fácil de executá-las. “Muitos artistas trabalham com documentação. No meu caso, são instruções. O museu, então, contrata pessoas para seguir estas instruções. Dessa forma, a obra pode ser sempre atualizada”.
Sérgio Carvalho não terá a mesma facilidade. As performances compradas pelo advogado poderão ser apresentadas somente pelos criadores ou alguém indicado por eles. “Como sabe-se lá quando será possível apresentar aquela performance, (o comprador) prefere ter um quadro”, diz o colecionador, se referindo à imaterialidade da arte.
Partindo desse pressuposto, quais seriam então os motivos que levaram-no a fechar o negócio? “A performance está começando a deslanchar. Quando a venda foi oferecida pensei: ‘já tenho vídeo, instalação... mas cadê a performance? Tenho que ter uma’”, explica.
INHOTIM – Na foto, uma apresentação da performance “Marra”, de autoria de Laura Lima
Laura, que já vendeu obras no exterior e assina duas no Inhotim e uma no Museu de Arte da Pampulha (MAP), não revela os valores dos contratos. A objeção em falar de valores também foi adotada pelos demais entrevistados pela reportagem. Manter o sigilo parece ser uma questão mercadológica. “O valor é dado a partir de uma média da importância histórica do artista ou do grupo. Também é levado em conta se a obra é premiada, se ela participou de exposições importantes... O valor é subjetivo”, esclarece o artista João Angelini, do Grupo Empreza.
Objetivamente falando, o que se sabe é que o MAM ganhou, neste ano, da colecionadora Cleusa Garfinkel, a performance “Parangolé”, de Lourival Cuquinha, que custou R$ 25 mil.
Já sobre as artes de Laura, a única indicação é que as angariadas, em 2005, pelo Inhotim – “Dopada” (1997) e “Marra” (1996) – “foram mais caras”. “Elas são dos anos 90. São históricas, especiais”, diz ela.
INVESTIMENTO – A primeira performance comprada por Sérgio Carvalho foi “Tríptico Matera”, do Grupo Empreza
Conforme Jochen Volz, um dos curadores do Inhotim, as obras compradas de Laura são fruto da vontade do instituto em expandir a arte “para além das formas convencionais”. No entanto, no momento, não há confirmação de negociações por parte do museu neste sentido.
Já a gestora do MAP, Ana Carolina Andreazzi, articula que não é “política” da entidade comprar nenhum tipo de arte. Segundo ela, a performance “O Puxador”, de Laura, que integra o acervo desde 2002, foi uma contrapartida resultante de uma negociação intermediada pelo então curador do museu Adriano Pedrosa.
Já Carvalho, para a alegria dos performers, tem planos diferentes. “Irei para Recife conversar sobre a compra de outra performance”, conta, fazendo segredo sobre o nome do artista em questão.
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