O único irmão da presidente Dilma Rousseff é avesso a qualquer tipo de
badalação - e conhecido pelo desapego. Igor Rousseff, de 68 anos, já foi
hippie, porteiro de hotel e controlador de voo. Mora numa casa simples
em Passa Tempo, interior de Minas Gerais, e cultiva hábitos igualmente
frugais. Advogado, nunca gostou de exercer a profissão. Aposentado, ele
hoje investe seu tempo em um projeto de criação de tilápias. Na campanha
presidencial do ano passado, o irmão virou personagem da disputa ao ser
apontado pelo então candidato Aécio Neves como funcionário fantasma da
prefeitura de Belo Horizonte entre 2003 e 2009, durante a gestão do
petista Fernando Pimentel, seu amigo. Segundo a denúncia, recebia sem
trabalhar, o que ele sempre negou. Agora Igor Rousseff está às voltas
com outra suspeita. Seu nome apareceu em uma lista de beneficiários de
pagamentos irregulares oriundos da Confederação Nacional dos Transportes
(CNT). Em setembro do ano passado, a Polícia Civil e o Ministério
Público do Distrito Federal descobriram um desvio de mais de 20 milhões
de reais do Sest (Serviço Social do Transporte) e do Senat (Serviço
Nacional de Aprendizagem do Transporte). Administradas pela Confederação
Nacional dos Transportes (CNT), as duas entidades recebem verba do
governo federal para custear cursos profissionalizantes e prestar
assistência a trabalhadores do setor. A Operação São Cristóvão, assim
batizada em referência ao santo padroeiro dos motoristas, descobriu que
uma boa parte do dinheiro que entrava nas contas do Sest-Senat ia parar,
na verdade, nos bolsos de quem as administrava -- e também nos bolsos
de terceiros que nada tinham a ver com os serviços que deveriam ser
prestados aos trabalhadores. Os investigadores já detectaram repasses de
dinheiro a pessoas ligadas ao presidente da CNT, o ex-senador Clésio
Andrade (PMDB-MG). A partir das informações bancárias, as autoridades
elaboram uma lista com centenas de transferências consideradas
suspeitas. Algumas delas chamaram a atenção dos investigadores não
exatamente pelo valor, mas pelo sobrenome famoso: Rousseff. VEJA teve
acesso às planilhas. O irmão da presidente recebeu dez pagamentos entre
junho de 2012 e março de 2013. Foram nove parcelas mensais de 10.000
reais e uma de 30.000, num total de 120.000 reais. Os repasses estão
registrados na contabilidade da CNT como "pagamento a fornecedor". Não
está claro o que Igor Rousseff forneceu à confederação. Procurado, ele
não respondeu às perguntas de VEJA sobre os pagamentos. VEJA também
enviou perguntas à CNT. O diretor de relações institucionais da
entidade, Aloísio Carvalho, informou que não havia identificado, em
pesquisas internas, qualquer ligação da CNT com Igor Rousseff. Nesta
quarta-feira, depois de a entidade ser confrontada com os dados sobre os
pagamentos mensais feitos ao irmão da presidente, veio a seguinte
resposta: "A CNT não vai se pronunciar a respeito deste assunto". O
Ministério Público e a Polícia Civil pretendem ouvir todos os
envolvidos. Por enquanto, os pagamentos a Rousseff fazem parte apenas de
uma lista de operações suspeitas. (Veja)
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