Carlos Newton
O presidente do diretório estadual do PT de São Paulo, Emidio de Souza, perdeu tempo ao protocolar terça-feira uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na qual reivindica o mandato da senadora Marta Suplicy (sem partido). Num requerimento de 19 páginas, o PT denuncia que Marta abandonou o partido não por divergências éticas ou programáticas, mas por “ambição política” e “oportunismo eleitoral”.
“Não passasse de demagogia mal disfarçada e os motivos contidos na carta de desfiliação da senadora seriam outros – ambição política, oportunismo eleitoral e personalismo desmedido”, diz o texto apresentado ao TSE.
Segundo o repórter Ricardo Galhardo, do Estadão, o partido se amparou em entrevistas recentes, em que Marta Suplicy afirmou que a escolha de Fernando Haddad (PT) para disputar a prefeitura de São Paulo em 2012 foi a gota d’água para sua decisão de deixar o partido.
SUPREMO DIZ QUE NÃO
Para quem acredita em coincidências, é um prato feito. No dia seguinte, quarta-feira, quando a ação do PT contra Marta ainda nem começara a tramitar na Justiça Eleitoral, o Supremo Tribunal Federal colocou um ponto final na questão, ao decidir que detentor de mandato majoritário (presidente, governador, prefeito e senador) não perde mandato por abandonar o partido.
Nas discussões dos ministros, foi até citado o caso da senadora paulista, e o julgamento que a beneficiou aconteceu no plenário do Supremo, com decisão por unanimidade.
O episódio mostra a confusão que domina o PT, o governo e o Instituto Lula. Ninguém se entende, a base aliada foi para o espaço, o Planalto terceirizou a articulação política e a condução da economia, a presidente Dilma virou uma versão da rainha da Inglaterra, que reina, mas não governa.
NÃO HAVIA NENHUMA CHANCE
Na verdade, o PT não tinha a menor chance de tomar o mandato de Marta Suplicy. A legislação sobre fidelidade partidária é claríssima. Determina que o titular de mandato eletivo tem direito de abandonar a legenda, caso a agremiação esteja descumprindo o programa ou o estatuto partidário. No caso do PT, o fato é que a legenda preferiu descambar para a ignorância e partiu logo para o descumprimento da lei, que é muito mais grave. Não há a menor dúvida a esse respeito, e a senadora deixou o partido acusando a legenda de trair os ideais de sua fundação ao protagonizar seguidos escândalos de corrupção.
Marta vai continuar senadora, pode relaxar à vontade. E agora o PT está arriscado a perder mais dois importantes senadores – o gaúcho Paulo Paim e o baiano Walter Pinheiro. Se a presidente Dilma Rousseff desobedecer a Lula e vetar a nova versão do fator previdenciário, os dois parlamentares vão seguir o exemplo de Marta Suplicy e desembarcar do PT, rumo ao PSB. E la nave va, sem ninguém a comandá-la.
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