Mesmo com limitação de movimentos, jovem intensifica treinamentos.
Família diz que paixão por cavalo e vaquejada ajudou na recuperação.
Maria Angélica treina para voltar as pistas após graves problemas de saúde (Foto: Gustavo Almeida/G1)
Superação, força de vontade e amor pela vaquejada. Essas são
características que marcam a vida de Maria Angélica Bida Veloso, 20
anos. Natural da cidade de Altos,
a 37 km de Teresina, a jovem começou a disputar vaquejadas aos 15 anos,
depois de recusar um carro como presente de aniversário do pai e optar
por um cavalo. Começava ali a trajetória de vitórias, tanto nas pistas
como na vida da adolescente.A jovem vaqueira começou a virar atração de forma meteórica nos parques de vaquejada, conquistou prêmios em competições importantes do Piauí e virou rainha da vaqueirama na cidade de Altos. Mas a carreira seria interrompida dois anos depois, quando a jovem foi diagnosticada com um angioma cerebral e precisou fazer uma delicada cirurgia na cabeça.
Adolescente virou símbolo das vaquejadas na região
de Altos (Foto: Arquivo Pessoal/Maria Angélica)
Após o processo cirúrgico, Angélica teve graves complicações, ficou
oito dias em coma e nesse período ainda sofreu um Acidente Vascular
Cerebral (AVC) que a deixou sem movimentos no lado esquerdo do corpo.
Ainda em decorrência das complicações da cirurgia, a vaqueira teve
osteomielite, uma infecção no osso craniano que resultou na retirada de
toda a massa óssea do lado direito da sua cabeça.de Altos (Foto: Arquivo Pessoal/Maria Angélica)
Apesar da gravidade do problema, a adolescente encontrou forças na família e no amor pelo mundo das vaquejadas para superar o drama. Segundo ela, nunca passou pela cabeça desistir de sua grande paixão. "Sempre me mantive confiante. Voltei a montar apenas três meses depois da cirurgia, ainda com o curativo na cabeça", disse.
Maria Angélica montada ainda com o curativo na cabeça (Foto: Arquivo Pessoal/Maria Angélica)
A paixão por cavalo e por vaquejada é tão grande que a vaqueira
piauiense confessa até mesmo ignorar o receio dos médicos em certos
momentos. "Minha lesão foi muito grande, mas confesso que não me baseio
muito por eles não [risos]. A principal recomendação é montar com
capacete para proteger a cabeça", falou.Quando saiu do hospital, Maria Angélica não conseguia andar e voltou para casa usando uma cadeira de rodas. Para recepcionar a filha vaqueira, a família colocou um grande outdoor na cidade de Altos. O outdoor tinha uma grande foto dela montada em um cavalo e trazia os dizeres: 'Maria Angélica. Você é nossa campeã. Nós te amamos'.
Outdoor colocado para recepcionar a jovem ao sair
do hospital (Foto: Arquivo Pessoal/Maria Angélica)
Mesmo com o corpo bastante fragilizado e sem boa parte dos movimentos,
ela conta que não teve medo de voltar a montar no seu cavalo, apelidado
carinhosamente de Pitchula. "Eu não conseguia montar e por isso
precisaram me colocar no animal. Depois que estava montada queriam
segurar o cabresto, mas eu não deixei. Não tive medo e queria andar
sozinha", relembrou.do hospital (Foto: Arquivo Pessoal/Maria Angélica)
O pai de Angélica, Francisco Veloso, conta que a paixão por cavalo contribuiu bastante na recuperação da filha. "Hoje nós reconhecemos que chegamos a fazer loucura por ela, pois a levamos para ver o cavalo ainda com a cabeça aberta", disse. Segundo ele, o estado físico da filha logo após o retorno do hospital era lastimável, mas o desejo de voltar a competir e conviver com os animais fez Angélica superar as dificuldades.
"Ela tem um amor muito grande pelo cavalo. Acho que ela gosta mais do cavalo do que do pai", disse aos risos.
Jovem durante treinamento para voltar a disputar competições (Foto: Arquivo Pessoal/Maria Angélica)
A mãe da adolescente, Argentina Bida Veloso, conta que uma das
primeiras coisas que Angélica perguntou quando acordou do coma foi pelo
cavalo. Ela afirma que temia vê-la montar após os graves problemas que
enfrentou, mas relata que aquilo fazia bem à filha. "Eu temia, mas
apoiei porque apoio meus filhos em qualquer situação", disse.Três anos após o grave problema de saúde, Angélica treina nos fins de semana para voltar a disputar competições oficiais em 2016. Durante a semana, a jovem faz faculdade de direito em Teresina e passa por sessões diárias de fisioterapia. Ela já caminha sem dificuldades, mas ainda não movimenta plenamente o lado esquerdo do corpo. Mesmo assim, garante que está quase pronta para derrubar o boi na faixa nas vaquejadas.
Prêmios conquistados pela adolescente antes das
complicações de saúde (Foto: Arquivo Pessoal)
"No próximo ano espero voltar, pois é o tempo que também termino a
faculdade. Já consigo correr e derrubar o boi, mas ainda não estou
totalmente pronta para disputar competições agora", disse a jovem.
Devido a limitação de movimentos, Angélica não encaixa o pé esquerdo no
estribo e usa uma cinta improvisada pelos pais para se fixar no cavalo.complicações de saúde (Foto: Arquivo Pessoal)
Um dos desejos da vaqueira é competir nas vaquejadas de Juazeiro do Norte, no Ceará. Enquanto isso, na cidade de Altos a jovem é rainha dos vaqueiros em várias festividades. Como forma de agradecimento pela recuperação, todos os anos a família realiza uma grande cavalgada com a vaqueirama da região. O ponto de partida é a casa dos pais de Angélica.
Para a mãe da adolescente, a família é abençoada e só tem a agradecer. "Hoje nos consideramos uma família reabilitada de tudo que aconteceu. A Maria Angélica é uma pessoa muito amada por todos e sempre é convidada para os festejos da região. Acredito que ela hoje virou um mito nas vaquejadas", concluiu dona Argentina Bida.
Maria Angélica treina e promete voltar às pistas em 2016 (Foto: Arquivo Pessoal/Maria Angélica)
Angélica nunca gostou de "bater esteira" [função do vaqueiro que passa a
cauda do animal para o colega]. Ela mesma é quem bota o boi abaixo.
Enquanto aguarda para voltar a ouvir o tradicional 'valeu o boi' nas
festas de vaquejada, a jovem vaqueira piauiense já pode, sem dúvida,
ouvir o grito de 'valeu Maria Angélica'.
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