A combinação é mortal. Não há como escapar. O PT está caminhando
para a destruição. Não há milagres a fazer. Envolvido no mar de lama do
petrolão, com o tesoureiro preso e as denúncias chegando cada vez mais
perto de Lula e Dilma, o partido tenta tirar coelhos da cartola. Só que a
cartola virou um chapéu velho de palha. A recessão é inevitável. Ou
segue a receita do FMI de ajuste fiscal sem precedentes, tirando
direitos dos trabalhadores, ou perde o grau de investimento e a economia
vira pó. Porque o partido não tem coragem de cortar 110.000 cargos
comissionados e nem fechar a metade de 39 ministérios. Não corta a
própria carne. Corta a carne dos brasileiros mais pobres. Com isso, o
partido começa a rachar, comandado por Lula, que quer voltar em 2018 e
sabe que, com o fracasso de Dilma, a derrocada do PT já começará nas
eleições de 2016. Quem vai querer manter o PT no poder em prefeituras
como São Paulo, por exemplo? Quanto mais nas pequenas cidades, afundadas
em dívidas e na falta de repasses para saúde, educação e programas
sociais. Na segunda quinzena de junho, o PT realiza seu congresso
nacional, onde o racha interno vai se evidenciar. Para tentar vencer a
mistura explosiva e destrutiva de corrupção e recessão, seus líderes
buscarão o contraponto em saídas mágicas que não existem mais. O
resultado mostrará um partido sem rumo e sem saída. Rumo, finalmente, à
autodestruição. Abaixo, matéria do Estadão.
O Palácio do Planalto iniciou uma ofensiva para conter a hostilidade
contra o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, no 5.º Congresso do PT, que
ocorrerá de 11 a 13 de junho, em Salvador (BA). Preocupados com o tom da
resolução política a ser aprovada no encontro, no momento em que o PT e
o governo enfrentam sua mais grave crise, ministros petistas procuraram
dirigentes do partido e pediram cautela nas manifestações anti-Levy.
Desde que foram escancaradas as divergências entre o
titular da Fazenda e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, na
esteira da divulgação do corte no Orçamento - que ficou em R$ 69,9
bilhões -, a presidente Dilma Rousseff procura abafar os ruídos na
equipe. O receio do Planalto, porém, é que o PT jogue mais combustível
na crise durante a reunião de Salvador, provocando desconfianças e
agitando novamente o mercado financeiro. Convocado para debater o
programa do PT e atualizar o projeto do partido, em meio a sucessivos
escândalos de corrupção, o congresso petista deve ser tomado, na
prática, por críticas à gestão de Dilma e pressões por mudanças na
política econômica.
Chicago Boy. Nos bastidores, parlamentares do
PT chamam Levy de “Chicago Boy”, numa referência à Universidade de
Chicago, identificada com a visão neoliberal, onde Levy se graduou Ph.D.
Ex-secretário do Tesouro no governo Lula, Levy é considerado pela
maioria do PT como a encarnação do mal por causa de suas ideias
“ortodoxas”.
Embora o PT esteja dividido sobre a conveniência de pedir a cabeça do
ministro, a avaliação predominante no partido é que o modelo de ajuste
fiscal adotado porá a economia nas cordas, tornando o crescimento
inviável. O diagnóstico é que a tesourada nos gastos, o corte de
programas sociais e as restrições criadas a direitos trabalhistas, como
seguro desemprego, travam o desenvolvimento e afastam ainda mais o PT de
sua base social.
A disputa que atiça o PT nesta temporada é pelos rumos do
governo Dilma pós-ajuste e por maior protagonismo do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva na distante relação com o Planalto. Acuado, o
partido também tenta reagir para salvar sua imagem, ainda mais abalada
após a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que culminou com a prisão
do então tesoureiro João Vaccari Neto.
Nesse cenário, nove entre dez petistas recorrem ao ministro
Nelson Barbosa, visto como “desenvolvimentista”, na tentativa de criar
um contraponto a Levy. O movimento contraria Dilma - que decidiu
prestigiar o titular da Fazenda - e preocupa a equipe de Barbosa.
Inflado pelo PT, o titular do Planejamento teme sair enfraquecido do
embate.
Queda de braço. O confronto reedita uma queda de braço travada no
primeiro mandato de Lula, tendo à época Antonio Palocci (Fazenda) na
linha de tiro. Em novembro de 2005, Dilma, então chefe da Casa Civil,
chegou a chamar de “rudimentar” o ajuste fiscal de longo prazo proposto
por Palocci. Agora, no entanto, não esconde o aborrecimento com o “fogo
amigo”.
“É possível que existam críticas ao ministro Levy e as
divergências são normais, mas o PT deve entender que o próprio projeto
do partido passa pelo sucesso do governo Dilma”, disse o líder do
governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS). “Não podemos, depois de todo
o esforço para aprovar as medidas provisórias do ajuste, dar motivos
para insegurança.”
Em conversas reservadas, Lula não esconde o desconforto com a inflexão
na economia e a demora do governo em virar a página do ajuste fiscal,
criando uma agenda positiva. Lula está aflito por entender que, se a rota não for corrigida
a tempo, o PT sentirá ainda mais o peso do desgaste nas eleições
municipais de 2016, podendo sucumbir na disputa presidencial de 2018.
No Planalto, dois ministros fazem hoje a “ponte” entre o
governo, a direção do PT e os movimentos sociais. Um deles é Edinho
Silva, titular da Secretaria de Comunicação Social. O outro é Miguel
Rossetto, que comanda a Secretaria-Geral da Presidência. Próximo a
Dilma, Aloizio Mercadante (Casa Civil) distanciou-se da cúpula petista.
Reinvenção. Assessor especial da Presidência,
Marco Aurélio Garcia ajudou a redigir o manifesto da tendência
Construindo um Novo Brasil (CNB), que será apresentado no congresso do
PT. Assinado pela corrente majoritária, integrada por Lula, o documento
faz uma autocrítica, no rastro dos escândalos de corrupção - do mensalão
à Petrobrás - e diz que o partido precisa se “reinventar”. O que mais
chama a atenção no texto, porém, são os ataques à política econômica
conduzida por Levy.“Não se pode fazer da necessidade de sanear a situação fiscal a
ocasião para a apologia de uma política econômica conservadora, cujas
consequências bem conhecemos”, assinala o documento.
Para o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), a estratégia central do governo
tem de ser o crescimento, e não o ajuste fiscal. “Não podemos ficar
nesse samba de uma nota só”, insistiu
Lindbergh, após votar contra a MP que dificultou o acesso ao
seguro-desemprego. “Não é só o governo Dilma que está em jogo. É o nosso
futuro, do PT e da esquerda.”
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), discorda do
colega. “Levy faz o que Dilma pede. Então, quem critica Levy está
criticando Dilma”, argumentou Guimarães. “Uma coisa é criticar o ajuste e
outra é pedir a cabeça do ministro. Isso não dá para aceitar.”
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