Na busca por tratamentos mais naturais, muitas pessoas esquecem que toda medicação deve ter orientação profissional
A Organização Mundial de Saúde (OMS)
estima que, nos países em desenvolvimento, como o Brasil, cerca de 80% a
90% da população utiliza fragmentos naturais – sejam plantas, restos de
animais – na assistência básica de saúde. A prática, geralmente baseada
na sabedoria popular e transmitida oralmente, tem validade, mas o fato
de serem extraídos da natureza não significa que não possam causar mal.
De acordo com o professor da Universidade Federal da
Bahia Raymundo Paraná, médico hepatologista, é grande o número de
pacientes que chegam ao serviço de hepatologia do Hospital das Clínicas
com intoxicação e até mesmo doenças graves do fígado, como as hepatites
tóxicas, causadas pelos chás, fórmulas ou até mesmo suplementos
alimentares. “Infelizmente, no Brasil, há um campo vasto de exploração e
comercialização de produtos que não foram estudados ou testados e que
se disfarçam de naturais para conquistar a preferência dos
consumidores”, denuncia.
Paraná diz
que chás como hibisco, sena, cavalinha, chá verde, espinheira santa
possuem propriedades ativas que quando usados sem os devidos cuidados
podem gerar intoxicação e efeitos a longo prazo. Outro aspecto destacado
por ele, diz respeito ao fato dos chás serem produzidos com partes
distintas da planta, como folhas, caules e flores e cada uma dessas
partes possui princípios ativos diferentes em estágios distintos. “O
confrei, por exemplo, tem propriedades diferentes durante o período da
floração e depois”, diz. “Há uma cultura de santificação do natural e
demonização do sintético, esquecendo que a mistura de princípios ativos
presentes nesses produtos podem sobrecarregar e até comprometer o
funcionamento do fígado”, esclarece.
Editoria de Arte/Correio
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CuidadosCom
uma postura parecida, o coordenador do curso de farmácia da UNIME, José
Fernando Oliveira Costa, ressalta que o dado da OMS deveria alertar os
órgãos públicos de saúde porque não existe substância inócua ou seja sem
efeito e que, devido à grande diversidade da flora brasileira, o uso é
amplo e, na maioria dos casos, não se sabe o nível de eficácia ou
segurança da planta usada. “Infelizmente há um mercado que comercializa
milagres para tratar disfunção erétil, obesidade, queda de cabelo...Sem
as comprovações necessárias, muitas vezes, além de não funcionar, esses
produtos ainda podem impactar negativamente na saúde das pessoas”,
completa o farmacêutico.
Fernando
Oliveira destaca ainda que existem espécies de plantas estudadas e
recomendadas para fins terapêuticos, mas que nenhuma peça vegetal pode
ou deve ser usada sem antes haver uma orientação para sua utilização. “O
próprio Ministério da Saúde oferece na página oficial uma relação de
plantas brasileiras (Formulário Fitoterápico Nacional/
www.anvisa.gov.br/hotsite/farmacopeiabrasileira/conteudo/Formulario_de_Fitoterapicos_da_Farmacopeia_Brasileira.pdf)
que podem e devem ser usadas, mas é fundamental que as pessoas se
certifiquem das quantidades e da frequência do uso, além de checar se
esse produto não causa reação ou interação com medicamentos sintéticos
em uso”.
O professor lembra que a compra dessas ervas exige
um cuidado especial, uma vez que além das propriedades químicas de cada
uma delas, as plantas podem possuir fungos que ampliariam o potencial
tóxico. “Nas feiras livres é comum ver essas folhas e ervas armazenadas
de modo totalmente inadequado, então antes de consumir, vale a pena
olhar o aspecto geral, verificar embalagem, data de embalagem, validade
e, no caso das comercializadas em lojas, o selo do Ministério da
Agricultura, por exemplo”, orienta.
Alimentos
A nutricionista Graziela Brandão lembra que quando o assunto é perder
peso, não existe fórmulas milagrosas e que mesmo produtos naturais podem
oferecer risco não só ao fígado, mas aos rins e ao quadro clínico do
paciente de um modo geral. “Nos primeiros meses, pode ser que não haja
nenhum sintoma, mas o efeito dessas substâncias, geralmente, é
cumulativo e o chá, fórmula ou suplemento consumido hoje podem
apresentar efeitos apenas no futuro”, ressalta.
Graziela diz que até mesmo as vitaminas e
suplementos alimentares, quando usados sem critérios ou indicações,
terminam atrapalhando as estratégias para ganhar massa muscular ou
perder peso. “Os alimentos é que devem atuar para que as pessoas
alcancem suas necessidades nutricionais e os suplementos ou vitaminas só
devem ser indicados quando esses não estão cumprindo sua função”,
finaliza, destacando que só a reeducação alimentar e atividade física
podem garantir a verdadeira perda de peso e a manutenção da condição
alcançada.
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