domingo, 3 de agosto de 2014

Especialistas alertam: Vitaminas, infusões e fórmulas só com prescrição médica


Na busca por tratamentos mais naturais, muitas pessoas esquecem que toda medicação deve ter orientação profissional
Carmen Vasconcelos (carmen.vasconcelos@redebahia.com.br)
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, nos países em desenvolvimento, como o Brasil, cerca de 80% a 90% da população utiliza fragmentos naturais – sejam plantas, restos de animais – na assistência básica de saúde. A prática, geralmente baseada na sabedoria popular e transmitida oralmente, tem validade, mas o fato de serem extraídos da natureza não significa que não possam causar mal.
De acordo com o professor da Universidade Federal da Bahia Raymundo Paraná,  médico hepatologista,  é grande o número de pacientes que chegam ao serviço de hepatologia do Hospital das Clínicas com intoxicação e até mesmo doenças graves do fígado, como as hepatites tóxicas, causadas pelos chás, fórmulas ou até mesmo suplementos alimentares. “Infelizmente, no Brasil, há um campo vasto de exploração e comercialização de produtos que não foram estudados ou testados e que se disfarçam de naturais para conquistar a preferência dos consumidores”, denuncia. 
Paraná diz que chás como hibisco, sena, cavalinha, chá verde, espinheira santa possuem propriedades ativas que quando usados sem os devidos cuidados podem gerar intoxicação e efeitos a longo prazo. Outro aspecto destacado por ele, diz respeito ao fato dos chás serem produzidos com partes distintas da planta, como folhas, caules e flores e cada uma dessas partes possui princípios ativos diferentes em estágios distintos. “O confrei, por exemplo, tem propriedades diferentes durante o período da floração e depois”, diz. “Há uma cultura de santificação do natural e demonização do sintético, esquecendo que a mistura de princípios ativos presentes nesses produtos podem sobrecarregar e até comprometer o funcionamento do fígado”, esclarece.

Editoria de Arte/Correio
CuidadosCom uma postura parecida, o coordenador do curso de farmácia da UNIME, José Fernando Oliveira Costa, ressalta que o dado da OMS deveria alertar os órgãos públicos de saúde porque não existe substância inócua ou seja sem efeito e que, devido à grande diversidade da flora brasileira, o uso é amplo e, na maioria dos casos, não se sabe o nível de eficácia ou segurança da planta usada. “Infelizmente há um mercado que comercializa milagres para tratar disfunção erétil, obesidade, queda de cabelo...Sem as comprovações necessárias, muitas vezes, além de não funcionar, esses produtos ainda podem impactar negativamente na saúde das pessoas”, completa o farmacêutico.
Fernando Oliveira destaca ainda que existem espécies de plantas estudadas e recomendadas para fins terapêuticos, mas que nenhuma peça vegetal pode ou deve ser usada sem antes haver uma orientação para sua utilização. “O próprio Ministério da Saúde oferece na  página oficial uma relação de plantas brasileiras (Formulário Fitoterápico Nacional/ www.anvisa.gov.br/hotsite/farmacopeiabrasileira/conteudo/Formulario_de_Fitoterapicos_da_Farmacopeia_Brasileira.pdf) que podem e devem ser usadas, mas é fundamental que as pessoas se certifiquem das quantidades e da frequência do uso, além de checar se esse produto não causa reação ou interação com medicamentos sintéticos em uso”.
O professor lembra que a compra dessas ervas exige um cuidado especial, uma vez que além das propriedades químicas de cada uma delas, as plantas podem possuir fungos que ampliariam o potencial tóxico. “Nas feiras livres é comum ver essas folhas e ervas armazenadas de modo totalmente inadequado, então antes de consumir, vale a pena olhar o aspecto geral, verificar embalagem, data de embalagem, validade e, no caso das comercializadas em lojas, o selo do Ministério da Agricultura, por exemplo”, orienta.  


Alimentos A nutricionista Graziela Brandão lembra que quando o assunto é perder peso, não existe fórmulas milagrosas e que mesmo produtos naturais podem oferecer risco não só ao fígado, mas aos rins e ao quadro clínico do paciente de um modo  geral. “Nos primeiros meses, pode ser que não haja nenhum sintoma, mas o efeito dessas substâncias, geralmente, é cumulativo e o chá, fórmula ou suplemento consumido hoje podem apresentar efeitos apenas no futuro”, ressalta.
Graziela diz que até mesmo as vitaminas e suplementos alimentares, quando usados sem critérios ou indicações, terminam atrapalhando as estratégias para ganhar massa muscular ou perder peso. “Os alimentos é que devem atuar para que as pessoas alcancem suas necessidades nutricionais e os suplementos ou vitaminas só devem ser indicados quando esses não estão cumprindo sua função”, finaliza, destacando que só a reeducação alimentar e atividade física podem garantir a verdadeira perda de peso e a manutenção da condição alcançada.

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