MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Catadores de lixo mudam forma de trabalho para sobreviver, em Goiás


Aterro Sanitário de Aparecida de Goiânia não permite mais acesso público.
Muitos migraram para as cooperativas e alguns procuraram outra profissão.

Paula Resende Do G1 GO

Cooperativa possui 30 catadores filiados em Aparecida de Goiânia, Goiás (Foto: Paula Resende/ G1 GO)Cooperativa possui 30 catadores de materiais recicláveis (Foto: Paula Resende/ G1 GO)
A vida das famílias que sobreviviam do dinheiro arrecadado com a venda de materiais recicláveis colhidos no Aterro Sanitário de Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital, mudou com a proibição do acesso ao local, há pouco mais de um mês. Muitos catadores migraram para as cooperativas, alguns trocaram de profissão e há aqueles que se mudaram para lixões de outras cidades. O sistema de trabalho em grupo ainda não agrada a todos, mas quem continua na profissão espera que a situação melhore. “Está muito difícil, mas se a gente não tiver esperança de que vai melhorar, não melhora”, afirma o catador Mauri Lima Duarte, de 50 anos.

Mauri é um dos 30 associados da Cooperativa dos Catadores de Lixo de Aparecida de Goiânia (Coocap). Fundada em 2004, a associação só passou a funcionar, de fato, com o fechamento do lixão, que é uma adequação prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos.
“Antes, era cada um por si. Só começou a funcionar agora, mas, mesmo assim, muita gente não se acostuma com as regras. Vem um ou dois dias e não volta”, conta a secretária-auxliar da Coocap, a pedagoga Eldenice Mota Pinheiro, de 46 anos.
Para ser um dos cooperados, o catador não pode, entre outras regras, beber ou usar drogas no galpão. Além disso, o salário só é pago no final do mês e a pessoa ganha conforme as horas trabalhadas.
Romilda, Sisnalva e Mauri esperam ganhar mais dinheiro com a cooperativa em Aparecida de Goiânia, Goiás (Foto: Paula Resende/ G1 GO)Romilda, Sisnalva e Mauri querem ganhar melhor
na cooperativa (Foto: Paula Resende/ G1 GO)
Cunhada de Mauri e mãe de seis filhos, Romilda Correa dos Santos, de 40 anos, trabalhava há oito anos no lixão. Para ela, o maior problema da cooperativa é em relação ao financeiro, pois, há mais de um mês no local, ela ainda não recebeu. “É difícil esperar um mês, falta o que comer. Leite e fralda não vem em cesta básica. Já pedi leite e R$ 100 para os vizinhos. Antes tinha dinheiro todo dia e, se não tinha, ia para o lixão, catava e vendia. Se eu receber só R$ 700 não vai dar para nada”, afirma.
Mauri e a mulher, Sisnalva Correa dos Santos, de 38, também reclamam do que vão receber trabalhando na cooperativa, que deve ser, segundo a Coocap, cerca de R$ 300 para cada. “No lixão a gente tirava até R$ 1mil por semana, a gente não tira isso aqui por mês”, relata.
O casal gosta da profissão, mas não descarta mudar de área de trabalho. “Não falta vontade de trabalhar. Vamos dar uma chance por 90 dias, que foi o prazo que eles pediram para adequar. Eu sou pedreiro também. Então, se aqui não der mais dinheiro, eu vou voltar para a minha profissão”, diz.
Consenso entre os catadores é o fato de que eles passaram a ter melhor condição de trabalho. “Aqui a gente não pega chuva, não pega sol. Aqui é limpo, não tem bicho morto ou bicho entrando na bota da gente”, comemora Ricardo de Deus Marques.
Diferentemente da família de Mauri, Ricardo está feliz com a cooperativa. “Sair daqui só se a cooperativa fechar. O importante é o jeito, a condição de trabalho, mais do que o dinheiro”, ressalta.
Mudança necessária
Diretora do programa de resíduos sólidos da prefeitura de Aparecida de Goiânia, Márcia Nayane Rocha Santana, concorda que a adaptação não é um processo fácil, mas não teria como adiar o fechamento do acesso ao aterro. Ela conta que alguns catadores que não quiseram migrar para a cooperativa foram contratados pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano. “Treze catadores que não queriam ficar no galpão estão na secretaria. Eles pediram a oportunidade e nós demos. Tem gente que também foi contratado pela empresa que presta serviços terceirizados aqui”, afirma.
Com a proibição do acesso ao local, o coordenador do aterro, Geraldo Carlos da Silva, explica que as atividades passaram a ser feitas normalmente. Mais de 400 toneladas de lixo são despejadas diariamente na área.  “Antes tinha o risco de atropelar alguém. Tinha gente que vinha armado pra cá. Agora, a frente de descarga está limpa e funciona sem interrupção”.
Mesmo com a proibição expressa, catadores ainda tentam entrar no local. No entanto, Nayane afirma que eles não chegam a retirar material do local, pois são contidos por agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM), que vigiam a área de 823 mil m² do local. “O aterro está cercado, eles cortam a cerca e tentam entrar, mas veem a Guarda e fogem. No começo,  era maior o número de invasores. Ainda não acabou definitivamente, mas são poucos que ainda tentam”, afirma a diretora do do programa de resíduos sólidos.
Aterro Sanitário de Aparecida de Goiânia, Goiás (Foto: Paula Resende/ G1 GO)Aterro recebe mais de 400 toneladas de lixo pro dia (Foto: Paula Resende/ G1 GO)

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