Exposição ao amianto aumenta risco de câncer de pulmão e bexiga.
Contato frequente com agrotóxicos pode causar leucemia.
No caso dos trabalhadores da construção civil o risco é aumentado pelo contato diário com agentes químicos provenientes do cimento e das tintas, mais a aspiração da poeira da madeira e de metais pesados.
Para os agricultores, o risco está ligado ao acesso a diferentes agrotóxicos, com conteúdos considerados cancerígenos.
O motivo é a exposição a substâncias como o amianto, formol, metais pesados e agrotóxicos, consideradas cancerígenas.
“A gente já reconhece como cancerígena a indústria da madeira, do couro, dos metais, do aço porque lida com uma série de agentes químicos que são classificados como cancerígenos”, diz Otero.
| Tumores ligados ao trabalho, segundo dados de 2009: | |||
|---|---|---|---|
| Câncer de pele | 48% | ||
| Leucemias e linfomas | 12% | ||
| Câncer de laringe e pulmão | 10% | ||
| Câncer de estômago | 6% | ||
Em um levantamento anterior, dos 749 casos de câncer relacionados ao trabalho registrados em 2009, 48% foram de câncer de pele, 12% de leucemias e linfomas, 10% referentes ao câncer de laringe e de pulmão e 6% de câncer de estômago.
“Essas estimativas devem ser maiores. Já que nelas não se leva em consideração as condições de trabalho no Brasil, onde a indústria não é limpa, os maquinários são muitos antigos e não tem uma legislação tão restritiva”, diz Otero.
Construção civil x amianto
O contato com o amianto usado na indústria de produtos feitos de fibrocimento, como caixas d’água, telhas, isolamentos térmicos ou acústicos está ligado a incidência de câncer de pulmão, de tumores na cavidade nasal, na bexiga e até mesmo no estômago e esôfago.
A aspiração das fibras do amianto podem causar lesões nos pulmões e em outros órgãos até 50 anos antes do diagnóstico de câncer.
O "mesotelioma de pleura", um tipo de tumor maligno no pulmão, é considerado um câncer ocupacional por excelência, já que estudos mostram que entre 70% e 95% das pessoas que desenvolveram a doença estiveram expostas ao amianto no trabalho.
O silicato que já foi banido de diversos países, ainda é usado no mercado brasileiro, segundo a publicação. O país está entre os cinco maiores produtores de amianto do mundo, com uma produção média de 250 mil toneladas por ano. Estima-se que 125 milhões de trabalhadores no mundo estejam expostos ao amianto em ambientes de trabalho, segundo a publicação.
Para evitar esse tipo de risco, Otero reforça a necessidade de banir o material do mercado brasileiro. “Basta adaptar às novas tecnologias. O amianto já foi banido em tantos países e o Brasil ainda não tem política de proibição efetiva. Não é mais admissível que ele circule. Mas deve ser descartado apenas em locais para resíduos perigosos”, afirma Otero.
O risco de câncer de bexiga aumenta entre esses trabalhadores se eles tiverem contato com tintas e metais, pois ambos liberam substâncias tóxicas relacionadas ao tumor. Esse tipo de câncer afeta mais os homens (70%) e tem como principais fatores de risco o tabagismo e a exposição de cancerígenos químicos no ambiente de trabalho.
Há ainda evidências de que a exposição ocupacional ao amianto também aumente o risco de câncer de ovário, de intestino e de reto.
Trabalhadores rurais x agrotóxicos
Assim como o amianto pode ser extremamente danoso aos trabalhadores da construção e da indústria, os agrotóxicos são os vilões da saúde no campo. De acordo com o levantamento do Inca, o contato constante com esses produtos aumenta o risco de tumores no sangue, como leucemia, mieloma múltiplo e linfomas não-Hodgkin, assim como de câncer no pulmão, ovário, próstata, mama, e no sistema nervoso central.
“Os agricultores que ficam restritos às áreas rurais estão lidando cada vez mais com produtos químicos altamente tóxicos, sendo que já há estudos sobre o potencial cancerígeno desses agentes, além da exposição à ação solar, que pode causar câncer de pele”, diz a coordenadora da publicação.
O levantamento aponta ainda a exposição a fungicidas, herbicidas e inseticidas a um risco aumentado de câncer de estômago e esôfago e de câncer de pâncreas em função das substâncias químicas liberadas, e pela possibilidade de inalar vapores de combustíveis fósseis e poeiras típicas do trabalho rural.
Brasil não tem dados concretos
Diferente de países europeus que quantificam os casos de câncer relacionados ao trabalho há anos, o Brasil não ainda não tem um programa eficaz de vigilância para quantificá-los. Isso acontece porque os sistemas de saúde regionais ainda notificam a incidência e as mortes por câncer sem questionar dados profissionais dos pacientes, diz a pesquisadora.
“Não existe um sistema de vigilância consistente aqui no Brasil. Pacientes com câncer não são questionados quanto a sua ocupação e estabelecer esse nexo é muito complicado. Quando fazem os registros de mortalidade por câncer só olham o prontuário e, se não tem essa resposta, ela não é lançada no sistema, e a gente fica em um silêncio epidemiológico”.
Para mudar esse quadro, a coordenadora afirma ser necessária a criação de políticas públicas a partir de ações conjuntas entre as secretárias estaduais e municipais de saúde com as indústrias e setores que ainda usam e emitem essas substâncias tóxicas.
“O objetivo dessa publicação é ajudar no reconhecimento público dos profissionais de saúde que existem fatores de risco no trabalho e que precisam ser identificados”, reitera Otero.
Ainda segundo a coordenadora do Inca, vale salientar que nem todos esses trabalhadores terão tais doenças, já que o surgimento do câncer depende também de fatores genéticos.
“O que sabemos é que não existem limites seguros de exposição [a agentes tóxicos]. Não se pode garantir que uma pessoa que respirou fibras de amianto vai começar um processo de carcinogênese. Mas uma pessoa que fuma e se expõe tem um risco muito maior do que aquela que não fuma. A gente sugere que evite a exposição”.
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