BLOG ORLANDO TAMBOSI
A ditadura comunista se infiltra no cérebro dos seus súditos. Dagomir Marquezi para a Oeste:
Pesquisadores
chineses anunciaram com orgulho que já têm tecnologia suficiente para
ler a mente dos membros do Partido Comunista. O objetivo é torná-los
mais receptivos à “educação do pensamento”.
A
notícia do jornal britânico The Times cita o Centro Nacional de Ciência
Abrangente de Hefei como criador de um sistema capaz de “ler expressões
faciais e ondas cerebrais, analisando quão atento um membro está para a
educação política e do pensamento”.
O
objetivo, segundo o Centro Hefei, é “solidificar ainda mais a confiança
e a determinação de ser grato ao partido, de ouvir o partido e de
seguir o partido”. Atingir 100% de foco nos ensinamentos políticos e na
doutrinação ideológica. A tecnologia de leitura de ondas cerebrais já é
capaz de detectar se alguém, numa sala de estudos, está acessando um
site de pornografia ou se está cansado.
Exercícios esportivos numa escola em Xingtai
Na
sua busca pelo controle absoluto da população, o regime comunista
chinês já espalhou 170 milhões de câmeras de vigilância por lugares
públicos e é capaz de monitorar de uma maneira ou outra os atos de seu
1,4 bilhão de habitantes. A tecnologia de inteligência artificial é
capaz de apontar um punhado de “suspeitos” em aglomerações com milhares
de pessoas. O processo de identificação dura menos de um segundo.
Câmeras de identificação facial em Chongqing
Mas
controlar a liberdade dos cidadãos é pouco. O PCC quer controlar sua
mente. Ainda segundo o Times, o Partido espalhou um aplicativo chamado
“Estude Xi para tornar a China Mais Forte” aos seus quase 97 milhões de
membros. Xi, claro, é o todo-poderoso Xi Jinping, o presidente da China,
o autoproclamado novo Mao Tsé-tung.
O
partido já havia transformado outro aplicativo, o “Estude a Grande
Nação”, num grande sucesso. Mais de 100 milhões de chineses haviam
baixado o aplicativo, segundo reportagem do New York Times. Estudantes
que decoram as mínimas regras do socialismo de estilo chinês ganham
notas melhores na escola. Empregados são obrigados a mandar suas
avaliações para seus chefes, provando que aprenderam direitinho as
lições.
A
imprensa oficial (e qual não é oficial na China?) conta histórias
edificantes sobre cidadãos que abrem o aplicativo assim que acordam,
antes de tomar água ou fazer xixi. Solteiros são incentivados a se casar
com quem também usa o “Estude a Grande Nação”. “Você não pode se
distrair”, declarou o professor Haiqing Yu, da universidade australiana
RMIT. “É um tipo de vigilância digital. Leva a ditadura digital a um
novo nível.” A China de Xi Jinping está cada vez mais parecida com uma
versão high-tech da Coreia do Norte.
Os humanos não são iguais
Cada
membro do partido é obrigado todos os dias a ler no aplicativo quatro
artigos aprovados pelo grande líder, a assistir a três vídeos de nove
minutos e responder a três perguntas. Se acertar as respostas, ganha 40
pontos. Acumulando esses pontos, como num programa de milhagem, vai ter
mais chance de subir na burocracia do partido.
O
professor James Leibold, da Universidade La Trobe, em Melbourne,
Austrália, escreveu um artigo, em 2018, para o New York Times sobre essa
obsessão chinesa de controle sobre o indivíduo. Revelou que não é uma
novidade imposta pelo Partido Comunista quando tomou o poder, em 1949.
Segundo
o professor Leibold, já no século 3 a.C., o filósofo Xunzi definia a
humanidade como “madeira torta” que precisava ser retificada em nome da
“harmonia social”. O confucionismo (que exerce grande influência no
regime comunista chinês) determinava que o mais importante não eram os
direitos individuais, mas a aceitação da hierarquia social. Segundo essa
linha de pensamento, os humanos não são iguais, mas variam em “suzhi”,
ou qualidade. Confúcio falava em “pessoas superiores”. Os comunistas
falam em “quadros de liderança”.
Estátua de Confúcio, na China
Pessoas
“inferiores” podem se aperfeiçoar? Sim, desde que sigam as regras do
partido. Se um chinês é condenado à prisão, por exemplo, é imediatamente
isolado e incentivado a obedecer às regras. Recebe, conforme seu
comportamento, mais comida e horas de sono ou mais tortura e isolamento.
Faz parte do processo a “autocrítica”, o reconhecimento de que estava
errado. Segundo o filósofo contemporâneo Tu Weiming, é a jornada de “dor
e sofrimento” na busca de aperfeiçoamento e aceitação.
“Paralisar e controlar o oponente”
O
Partido Comunista chinês sempre deu atenção ao processo que ficou
conhecido como “lavagem cerebral”. A expressão vem da união de duas
palavras em mandarim, “xi” (lavagem) e “nao” (cérebro). O sistema
tornou-se tristemente conhecido durante a Guerra da Coreia (1950-1953),
quando militares norte-americanos aprisionados pelos chineses
confessavam crimes inexistentes e decidiam abandonar o próprio país e
viver com seus carrascos.
O
doutor Robert Jay Lifton, que trabalhou com veteranos da Guerra da
Coreia, identificou alguns métodos para quebrar a vontade dos
prisioneiros norte-americanos — o controle absoluto de seu ambiente, a
confissão de crimes não cometidos, a obrigação de permanecer em posições
dolorosas, a privação de comida e sono, o confinamento solitário e a
exposição permanente à propaganda comunista. A individualidade é
quebrada, e o prisioneiro se torna uma “nova pessoa”, dócil aos seus
captores, renegando seus próprios princípios.
Fotografia tirada durante a Guerra da Coreia
A
China não esconde uma outra possibilidade: a de inventar armas
destinadas a desorientar tropas inimigas, criando confusão mental em
massa. Segundo o jornal Washington Times, os chineses estão investindo
em biotecnologia destinada a “paralisar e controlar o oponente” e
“atacar o desejo do inimigo de resistir”.
Escravos voluntários
Toda
essa tecnologia de dominação mental, que parece sair de uma história em
quadrinho barata, é real e presente. Por enquanto, está sendo testada
na China, mas amanhã poderá estar no Irã ou em Cuba. A obsessão
controladora de Xi Jinping está dando um impulso definitivo para esses
métodos e tecnologias. Mas a questão não diz respeito só à China. E
muito menos à tecnologia em si.
A
questão de certa forma é mais simples — escravidão x liberdade. Ser
prisioneiro ou ser livre. O próprio ditador da China sabe que não existe
controle perfeito numa realidade que tende ao caos. Seu gigantesco
aparelho repressivo pode quebrar um dia, e a situação fugir ao seu
controle. Por isso se esforça tanto em criar escravos mentais, zumbis
sem vontade própria recitando as ordens do partido em busca de 40 pontos
no aplicativo e um carguinho melhor na estatal.
Reunião do Comitê Central do Partido Comunista da China
Todos
os ditadores do mundo sabem também que existem espíritos indomáveis,
mentes que permanecem livres mesmo fechadas nas mais sombrias prisões. A
própria China é uma panela de pressão soltando fumaça pela tampa. Não
há tecnologia ou sistema judiciário capazes de controlar 1,4 bilhão de
cérebros, é impossível.
Por
outro lado, existem pessoas que, mesmo sem ser obrigadas, se entregam à
mais abjeta escravidão mental. Esses prestativos escravos voluntários
não precisam de leitores de mentes, armas atordoantes nem aplicativos de
doutrinação para obedecer aos senhores de suas vontades. O Brasil, você
sabe, está cheio desses vassalos.






Nenhum comentário:
Postar um comentário