Usualmente a malta mais velha teve licenciaturas de 5 anos (não esquecer). Mais, quando fez mestrados usualmente fê-los de 2 anos com teses de mais de 100 páginas (e sem ou quase sem internet). José Crespo de Carvalho para o Observador:
Sim, talvez defina o meu chassis e os motores que podem não funcionar tão bem. Ou a quantidade de cabelo e o ter brancos.
De
resto, não tenho qualquer pejo ou sinto qualquer sentido pejorativo por
ser mais velho. Sou mais velho, ponto. Faz parte da vida. Mas o ser
mais velho tem encantos. Como dizia num artigo recente no Link do
Leaders, “Contratem mais Velhos”. E dava o exemplo de três pessoas com
mais de 50 que foram agora contratadas. Não em Portugal, infelizmente,
pois nós, recrutadores e mandantes de recrutadores, somos canhestros de
cabeça.
Onde não sinto dificuldade por ter mais de 50 anos?
Em lidar com pessoas. Em relacionar-me. Em socializar. Em rapidamente estabelecer uma relação.
Em afastar-me e cheirar à distância de onde vêm os maiores problemas.
Em avaliar situações complexas e procurar rapidamente colocar-me do lado da solução.
Usualmente
a malta mais velha teve licenciaturas de 5 anos (não esquecer). E os
que não tiveram, a vida deu-lhes anos de experiência como ainda não deu
aos mais novos. Mais, quando a malta mais velha fez mestrados,
usualmente fê-los de dois anos com teses de mais de 100 páginas (e sem
ou quase sem internet). A malta sabe escrever. Tem, portanto, um
background de pensamento interessante e estruturado.
Se
percorrermos os skills necessários apontados pelo World Economic Forum
não vejo quaisquer problemas em os mais de 50 lhes fazerem fit.
Não
vejo quaisquer problemas com skills analíticos e competências de
inovação. Aliás, criatividade e inovação nunca foram um problema para os
mais velhos. Ou esquecemos que também há novos velhos que cristalizaram
mal nasceram? Esse estigma dos mais velhos e das zonas de conforto não
passa de um mito urbano nos dias que correm. Os mais velhos estão muito
mais novos de cabeça que mais velhos de gerações anteriores.
Não
vejo qualquer problema com o “active learning” e as “learning
strategies”. Acredito, como ser humano que sempre estudou a vida toda,
que não ande muito longe do que os meus pares gostariam também de ter
tido oportunidade de fazer.
Não vejo, até pela experiência, problemas de maior na resolução de problemas complexos.
Não vejo qualquer questão em pensamento crítico e análise.
Como
não vejo problema em criatividade, originalidade e iniciativa. Há novos
velhos muito diferentes dos que víamos em gerações anteriores, como
referia.
Sobre capacidade de liderança, estamos falados.
Sobre
uso de tecnologia e programação vejo alguma maior dificuldade de
adaptação. Potencialmente. Mas não me venham com histórias. No outro dia
acompanhei programação nuns ciclos de python e para quem esteve exposto
a Fortran IV e Fortran 77 à séria aquilo é canja de galinha.
Resiliência e tolerância ao stress? Pois, perguntem a cada um a história de vida.
Ideação, solução de problemas e capacidade de raciocínio. Estamos também falados.
Talvez
o mais complexo foi não termos nascido com um PC agarrado às mãos. Mas
fizemos uma história desde as perfuradoras de cartões até conseguirmos
escrever whatsapps com duas mãos. Alguma vez os mais de 50 são
desqualificados? Em quê? Ah, pois, estão mais vezes doentes. Sério? E
todos os mais novos que faltam só porque têm diarreia (não há casas de
banho nas empresas?), porque têm dores de cabeça, porque não lhes
apetece ir? Isso nada diz, certo?
É
claro que defendo o blend. Os mais velhos e os mais novos. Não posso é
aceitar que os mais velhos sejam sempre preteridos em recrutamento
quando trazem estabilidade, auto-conhecimento, boas performances
emocionais, solução de problemas de forma mais simples, experiência.
Misturem-se mais novos e mais velhos. Sem problemas e sem preconceitos.
E
num país como este, que paga mal, há mais velhos a pedirem salários
muito competitivos, de baixos que são, para tudo aquilo que aportam. Tão
competitivos que não os sabemos porque nem sequer equacionamos falar
com eles.
Pois
a apologia dos mais velhos tem de ter um grupo, uma associação e
lobbying senão não mudamos o estado de coisas neste país. Quem arranca
com uma coisa destas? Mercado há. Porquê? Porque daqui a nada seremos
todos mais velhos.

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