BLOG ORLANDO TAMBOSI
O ex-presidente insiste em que se dirige aos progressistas. O que isso significa? Apoio aos ditadores, aos que destroem a democracia, aos liberticidas? Artigo do professor Denis Rosenfield para o Estadão:
O
ex-presidente Lula é o mais bem situado candidato a presidente da
República, segundo vários institutos de pesquisa. Logo, cabe explorar
com mais vagar o que pensa caso volte a exercer a função de mandatário
máximo de nosso país. Considerando que tem jogado parado, evitando dar
declarações ou assumir compromissos, aproveitando-se dos erros de seu
principal adversário, cabe verificar o que fez e disse em seu tour
europeu. Temos, aqui, um bom itinerário de suas ideias.
Em
seu discurso, repetidas vezes reitera que pretende “recuperar” ou
“devolver” a democracia a nosso país. Uma pessoa, por pouco curiosa que
seja, poderia se perguntar o que pretende dizer com isso. O candidato e o
seu partido têm demonstrado um compromisso inarredável com as ditaduras
cubana e nicaraguense, para não falar da Venezuela. Eleições fraudadas,
assassinatos e prisões de opositores, cárceres em condições insalubres,
inclusive com tortura, e assim por diante. Povos famintos, sem remédios
e vacinas adequadas e sem nenhum direito de manifestação. Eis a
democracia que Lula pretende instalar no País, neste seu esforço
incansável de “recuperação” e “desenvolvimento” democráticos?
Aliás,
quando presidente, regozijava-se de visitar, apoiar e elogiar ditadores
africanos, em nome, evidentemente, da irmandade do “Terceiro Mundo”,
enquanto os povos lá oprimidos viviam na penúria, na repressão mais
brutal e na ausência de liberdades. O Brasil, desculpem dizer uma
banalidade, tem eleições nas melhores condições de lisura e
transparência, de tal modo que mesmo um governante de extrema direita
deve abandonar o poder caso perca o voto de seus cidadãos. É isso
possível nos países onde imperam férreas ditaduras de esquerda? Há
alternância de poder?
Como
não poderia deixar de ser, comprouve-se com seu discurso habitual
contra as elites que o teriam posto na prisão. Quais elites? Não dá
literalmente para entender, pois foi a elite do Judiciário brasileiro,
isto é, o Supremo Tribunal Federal (STF), que o “libertou” após uma
série de malabarismos jurídicos, começando por reafirmar a regra do
“juiz natural”, que o mesmo Supremo havia inúmeras vezes dito não se
aplicar ao caso em questão. Num dia, certamente milagroso, decidiu rever
tudo o que tinha sido feito nas diferentes instâncias do Judiciário,
numa desconsideração para com este.
Querer,
agora, atribuir ao ex-juiz Sergio Moro, candidato presidencial, a
responsabilidade maior de uma suposta parcialidade é uma impostura.
Todas as suas decisões foram referendadas pelo Tribunal Regional Federal
da 4.ª Região (TRF-4), um dos mais sérios tribunais do País, pelo
Superior Tribunal de Justiça (STJ) e pelo próprio STF. Lula não foi
inocentado, as provas são abundantes e, infelizmente, devemos admitir
que o crime compensa em nosso país, sobretudo para os poderosos, não
para o cidadão comum. O dito fica pelo não dito, com direito a
reconhecimento no Parlamento Europeu, onde Lula foi recebido por
dignitários importantes.
Observe-se
que fotografou, sorridente, com o presidente Macron, representante de
um país extremamente protecionista de sua ineficiente agricultura e
pecuária. Aproveitando-se do desrespeito bolsonarista pelo meio
ambiente, Lula terminou aliando-se a alguém que procura prejudicar o
Brasil protegendo seus pecuaristas e agricultores. Quem ele defenderá
como presidente, os produtores franceses ou os brasileiros? Valeu a
foto? Os franceses devem estar rindo, com uma boa garrafa de vinho!
Brindaram! Santé!
Como
não poderia deixar de ser, posou como pacifista, uma pessoa do amor,
quando ele e seu partido não cessavam de repetir que se guiavam pelo
princípio do “nós contra eles”, em consequência, pelo discurso do ódio
pelo outro que deles discordava ou criticava. Procuraram sempre a
hegemonia política, baseada num discurso uniforme, ancorado no
politicamente correto. Invertendo posições e valores, Bolsonaro
colocou-se como discípulo dileto, igualmente voltado para o ódio e a
desconsideração do outro, apenas mais evidente por ter acentuado o lado
da morte em suas atitudes contra a vacina e o isolamento social e suas
poções mágicas de cloroquina. Lula tem mais verniz.
O
suposto golpe contra a ex-presidente Dilma sempre volta à cena.
“Esqueceu-se” de dizer que foi constitucionalmente destituída da
Presidência, inclusive com apoio de partidos aliados seus e por
ministros do Supremo por ele e ela indicados. Dilma entregou um país em
ruínas, com queda do PIB, alta taxa de desemprego, expectativas de renda
decrescentes e com a imensa maioria da população com ela descontente.
Não se pode omitir que Dilma é Lula, Dilma é PT. Ela é a sua criatura!
Será que o criador quer renegar a sua criatura dizendo defendê-la?
Por
último, em seu discurso, o ex-presidente insiste em que se dirige aos
progressistas. O que isso significa? Apoio aos ditadores, aos que
destroem a democracia, aos liberticidas, aos que jogam os seus
respectivos povos à pobreza e à cruel repressão? Aos que se comprazem
com narrativas mentirosas? Aos que omitem o que fizeram?
Nenhum comentário:
Postar um comentário