Em texto publicado em seu blog, o ex-ministro da Educação Ricardo Vélez-Rodrígues analisa as propostas do presidenciável Sergio Moro:
É
saudável, para a democracia, o debate ao ensejo das eleições,
especialmente as presidenciais. Muitos acham que debate é coisa ruim,
equivalente a uma briga. Ora, precisamos saber que o debate é essencial à
vida democrática. Como na sociedade não há unanimidade e tudo se
constrói pelo caminho da negociação entre interesses diversos, sem
debate não haveria o necessário consenso. No caso das eleições
presidenciais, o debate deve ser presidido pela discussão dos temas
presentes nos diversos programas. É ruim para a vida democrática o clima
de “já ganhou”, que muitos utilizam para potencializar a expectativa do
seu respectivo candidato. Ora, pesquisas eleitorais jamais podem
substituir a decisão das urnas. O debate claro e aberto entre as várias
propostas é vital para a preservação da democracia. Infelizmente, na
nossa história republicana, temos tido vários períodos autoritários que
são responsáveis pela pouca valorização dos debates, ao ensejo da
tentativa de alguns espíritos absolutistas de querer impor os seus
pontos de vista e os seus candidatos. Contra esse clima de intolerância e
de falta de lucidez é necessário reagir com força.
O
fato de termos a nossa preferência num pleito eleitoral, não nos exime
do esforço de conhecer os programas dos demais candidatos.
Liberal-conservador por convicção, para o pleito do ano que vem tenho o
propósito de conhecer os programas dos vários candidatos. Claro que
escolherei aquele que melhor se afinar com as minhas prioridades
axiológicas e com a defesa dos meus interesses. Mas, como professor,
esforçar-me-ei, também, por conhecer os demais programas, a fim de
conversar sobre esse tema com os meus alunos, amigos e conhecidos.
O
primeiro plano de voo que me vem às mãos é o do ex-ministro Sérgio
Moro, a quem conheci no primeiro gabinete do atual governo, como
ministro da Justiça e Segurança Pública. Eu ocupava o cargo de Ministro
da Educação. Durante a Transição e ao longo dos três meses que permaneci
no governo, tive a oportunidade de conversar com o Ministro Moro sobre
assuntos que tangiam à minha pasta e colaborei com ele na discussão das
suas propostas acerca do Projeto de Política de Segurança Pública e
Combate ao Crime Organizado, que seria apresentado ao Presidente
Bolsonaro, para ser encaminhado ao Congresso.
De
outro lado, cumprindo com a promessa que eu tinha feito quando tomei
posse, no sentido de coibir as práticas administrativas corruptas, foi
assinado por mim, em 14 de fevereiro de 2019, um Protocolo de Intenções
junto com o Ministro da Justiça e Segurança Pública, com o Ministro
Wagner Rosário da Controladoria Geral da União, com André Mendonça,
titular da Advocacia Geral da União e com a participação do Diretor
Geral da Polícia Federal. Do Ministro Moro recebi atenção especial na
confecção e debate desse Protocolo, que foi denominado de “Lava-Jato do
MEC” e que visava a identificar irregularidades na gestão de algumas
repartições do Ministério.
Passo,
a seguir, a mencionar e analisar, brevemente, os pontos que me
pareceram mais destacados no discurso de Sergio Moro, quando da sua
filiação ao Partido Podemos, em Brasília, no dia 10 de novembro deste
ano.
1
– “Para que possamos demonstrar com sinceridade o nosso desejo de
reconstruir o País e de reformar as instituições, nós precisamos provar
que estamos dispostos a sacrifícios”.
Nesse
contexto, Sérgio Moro propôs que a classe política deixasse de ter como
foco aumentar o seu poder ou os seus privilégios, passando a cuidar do
bem comum e do interesse público. Para tanto, ele propôs o fim do foro
privilegiado, que trata o político ou a autoridade “como alguém superior
ao cidadão comum”. O foro privilegiado “não deve existir para ninguém e
para nenhum cargo, nem para o presidente da República”. Quanto à
reeleição para cargos no poder executivo, devemos admitir que é uma
experiência que não funcionou em nosso País. Nesse contexto de igualdade
democrática, Moro propôs o fim da reeleição “para cargos no poder
executivo”.
2 – “A Petrobrás foi saqueada, dia e noite, por interesses políticos, como ‘nunca antes na história deste País’ ”.
A
consequência direta desse fato criminoso é, hoje, uma persistente
recessão provocada pelos mesmos governos que permitiram tudo isso, com
as pessoas comuns desempregadas e empobrecendo. Pode Lula falar no
Parlamento Europeu quanto quiser, que os seus desfeitos para com o
Brasil não desaparecerão da memória coletiva num passe de mágica. Pior:
estão trazendo, como consequência catastrófica, dor, frustração,
desemprego e fome.
3 – “Conseguimos de fato, em 2019, diminuir a criminalidade violenta e enfrentamos para valer o crime organizado”.
Ninguém
combateu o crime organizado de forma mais vigorosa do que o Ministério
da Justiça na gestão de Sérgio Moro. Lembrou o ex-ministro que
“aproximadamente dez mil vidas brasileiras deixaram de ser ceifadas pelo
crime”. As lideranças das gangues mais perigosas foram isoladas em
presídios federais. A propósito, o ex-ministro frisou: “Disseram que
reduzir crimes no Brasil e combater o crime organizado era impossível,
mas isso foi feito”.
4
– “O meu desejo era continuar atuando, como ministro, em favor dos
brasileiros. Infelizmente, não pude prosseguir no governo. Quando
aceitei o cargo, não o fiz por poder ou prestígio. Eu acreditava em uma
missão”.
Quando
o ex-ministro viu que não contava com o apoio do chefe do Executivo no
seu combate ao crime organizado, deixou o Ministério para não coonestar
com uma farsa. E frisou, determinado: “Nenhum cargo vale a sua alma”.
Infelizmente, destaca o ex-ministro, “os avanços no combate à corrupção
perderam a força. Foram aprovadas medidas que dificultam o trabalho da
polícia, de juízes e de procuradores. É um engano dizer que acabou a
corrupção quando na verdade enfraqueceram as ferramentas para
combatê-la”.
5
– “Ao olharmos para as reformas que estão sendo aprovadas, o que a
gente percebe é que ninguém está pensando nas pessoas”. Em que pese o
fato de se apresentarem iniciativas boas como o aumento do
Auxílio-Brasil ou do Bolsa-Família, estas vêm acompanhadas de algo ruim
como o calote às dívidas, “o furo no teto de gastos e o aumento de
recursos para outras coisas que não são prioridades”.
6
– “A degeneração maior da vida política consiste em que a busca do
interesse público foi substituída pela busca egoísta dos interesses
próprios e dos interesses pessoais e partidários”.
Esse
defeito ocorre quando a máquina pública está voltada para si mesma.
Isso explica por que “o Brasil continua sem futuro, com o povo
brasileiro sem justiça, sem emprego e sem comida”. Ninguém pode ter a
pretensão de elaborar um projeto só para si mesmo. Para reagir contra
esse despropósito, frisou o ex-ministro, “resolvi entrar na vida
política e filiar-me ao Podemos, um partido que apoia as pautas da Lava
Jato. Mas esse não é o projeto somente de um partido, é um projeto de
País aberto para adesão por todos os demais partidos, pela sociedade
brasileira, do empresário ao trabalhador (...). Queremos juntos
construir hoje o Brasil do futuro.”
7 –“ Nossas únicas armas serão a verdade, a ciência e a justiça. Trataremos a todos com caridade e sem malícia”.
O
ex-ministro fez questão de sublinhar que “O Brasil é de todos os
brasileiros e nosso caminho jamais será o da mentira, das verdades
alternativas ou de fomentar divisões ou agressões de brasileiro contra
brasileiro”. Sérgio Moro destacou que “Jamais iremos propor o controle
sobre a imprensa (...). Isso vale para mim e para qualquer pessoa que
queira nos apoiar”.
8
– “Precisamos proteger a família brasileira contra a violência, contra a
desagregação e contra as drogas. Propomos incentivar a virtude e não o
vício, uma sólida formação moral e cidadã”.
O
projeto de redução da criminalidade violenta, do combate ao crime
organizado e ao tráfico de drogas deve ser realizado “com todo o vigor,
sempre na forma da Lei, e buscando recuperar aqueles que se desviaram do
bom caminho”. Paralelamente, destacou o ex-Ministro, “precisamos de uma
sociedade inclusiva, que acolha as diferenças, e precisamos também de
uma sociedade que respeite todas as crenças e religiões”.
9
– “Por acreditarmos no potencial de cada um, defendemos o livre
mercado, a livre empresa e a livre iniciativa, sem que o governo tenha
que interferir em todos os aspectos da vida das pessoas”.
Isso
implica na realização da reforma tributária e a retomada das
privatizações. É necessário abrir e modernizar a economia buscando
mercados externos.
10
– “Uma das prioridades do nosso projeto será erradicar a pobreza,
acabar de vez com a miséria. (...) Para tanto, precisamos mais do que
programas de transferência de renda (...), identificar o que cada pessoa
necessita para sair da pobreza”.
O
caminho deve ser simples e concreto: garantir “uma vaga no ensino, um
tratamento de saúde ou uma oportunidade de trabalho”. Como ponto de
partida, o ex-ministro propôs “a criação da Força-Tarefa de Erradicação
da Pobreza, convocando servidores e especialistas das estruturas já
existentes”.
11
– “Propomos investir na educação de qualidade. Quem vai para a escola
pública tem que encontrar ensino da mesma qualidade que o das escolas
privadas”.
O
ex-ministro propôs “tornar real em todo o País, o que a lei já
autoriza: que os alunos possam escolher parte das disciplinas e, fazendo
isso, estudarem com maior motivação”. Além disso, propôs, também,
expandir o ensino em tempo integral, começando pelos lugares mais
carentes. Frisou que é necessário, outrossim, fazer chegar a todas as
escolas públicas a tecnologia e a internet.
12
– “Propomos, sem mais delongas, aprovar a volta da execução da
condenação criminal em segunda instância, para que a realização da
justiça deixe de ser uma miragem”.
O
ex-ministro frisa que é necessário garantir a independência do
Ministério Público, bem como a autonomia da Polícia com mandatos para os
diretores, a fim de evitar a interferência política. E propôs a criação
de uma Corte Nacional Anticorrupção, à semelhança da iniciativa
realizada em outros países.
13
– “A floresta é um patrimônio valioso e precisamos mudar a percepção do
mundo a nosso respeito. Precisamos dar oportunidades de desenvolvimento
para quem vive na região da Amazônia, mas precisamos proibir o
desmatamento e as queimadas ilegais”.
O
Brasil, além de ser celeiro do mundo, pode exercer também a liderança
na preservação da floresta e na exploração de energias limpas, criando
uma economia verde autossustentável e de baixo carbono.
14 – “Precisamos cuidar da defesa nacional e de nossa soberania. Vamos valorizar as Forças Armadas”.
Todos
somos brasileiros e devemos zelar pela preservação das nossas Forças
Armadas, evitando coloca-las a serviço de ambições pessoais ou
interesses eleitorais. “As forças Armadas pertencem aos brasileiros e
não ao governo”.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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