E de mostrar “prazeres extravagantes”. Também precisam respeitar “a ordem pública e os bons costumes”. Já no TikTok para os ocidentais, vale tudo. Vilma Gryzinski:
Para
quem acha que a China representa “uma luz contra a absoluta decadência e
escuridão” do Ocidente, mais uma prova da superioridade chinesa: as
celebridades precisam “se opor às ideias decadentes de culto ao
dinheiro, ao hedonismo e ao individualismo extremo”.
Além
de não exibir riqueza e outras extravagâncias, os famosos têm que
seguir o slogan: “Amor ao partido, amor ao país, defesa da moralidade e
da arte”.
Também
não podem divulgar boatos nem incentivar rivalidades entre seguidores.
Nem divulgar conteúdos que “induzam seguidores a adorar cegamente” as
celebridades.
Isso praticamente eliminaria uns 90% dos influencers em qualquer quadrante.
As
novas instruções fazem parte de uma volta aos princípios esquerdistas
comandada por Xi Jinping, abrangendo todas as esferas, desde a economia,
onde os novos milionários estão tendo as asinhas cortadas, até a
educação e o campo cultural.
Como
estudiosos do comunismo, Xi e sua corte entendem muito bem a
importância dos meios culturais, o que hoje inclui o infinito mundo da
internet.
Em
ordens anteriores, as empresas de games foram instruídas a permitir
apenas três horas por semana para crianças e adolescentes e cantores ou
atores que imitam os modismos sul-coreanos ficaram sabendo que não podem
usar figurinos “afeminados”. A proibição foi reiterada agora pelo
Departamento de Ciberespaço da China, com a qualificação de “estética
anormal”.
O
poder do Estado para impor as novas diretivas, ou o que mais for
decidido, é avassalador. O caso da atriz Zhao Wei, também conhecida pelo
nome ocidentalizado de Vicky Zhao, mostrou isso. Ela literalmente sumiu
do mapa.
Todas
as referências a Zhao Wei no mundo digital foram apagadas, enquanto
circulam boatos de que seu caso envolve delitos fiscais. Nunca foi dada
uma justificativa oficial para o cancelamento maciço.
Enquanto
acatam as ordens de cima para “moralizar” o mundo digital, empresas
chinesas como a TikTok deixam rolar “desafios” como o feito a alunos
adolescentes para vandalizar banheiros de escolas e desacatar
professores. Vários episódios desse comportamento destrutivo foram
postados nos Estados Unidos.
Num
caso mais extremo, no País de Gales, professores chegaram a
simplesmente desistir da carreira por causa de vídeos no TikTok com
montagens onde seus rostos são colados com palavrões ou a cenas
pornográficas. Um foi chamado de pedófilo, rótulo terrível para um
inocente.
“Temos
funcionários vivendo num regime de medo, imaginando que serão mostrados
em vídeos ofensivos”, disse uma diretora de escola galesa.
A
criatividade, o bom humor, a originalidade e até a falta de jeito
fizeram a fama dos vídeos do TikTok. É triste que sejam usados para
constranger ou desmoralizar terceiros. Ninguém pensa em coibir a rede
social, embora haja formas legítimas de controlar a incitação a
comportamentos criminosos de adolescentes.
O
regime de partido único do país que representa “uma luz”, segundo as
palavras admiradas de uma ex-mandatária brasileira, nem precisa disso.
Manda e quem tem juízo obedece – o sonho de tantos ditadores internos
que nos habitam.
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