É este Lula, fiel escudeiro de regimes carniceiros latino-americanos, que se apresentará ao eleitor brasileiro em 2022 posando de representante da “democracia”. Editorial da Gazeta do Povo:
Quando
o Partido dos Trabalhadores exaltou a vitória nada limpa do ditador
Daniel Ortega na mais recente farsa eleitoral da Nicarágua, a
repercussão foi tão negativa que a cúpula do partido resolveu tirar a
nota do ar, alegando que o texto “não foi submetido à direção
partidária”. Mas Lula acaba de demonstrar que o amor do petismo pelos
regimes ditatoriais é muito mais forte que qualquer tentativa de parecer
comedido às vésperas de uma eleição presidencial. Em entrevista ao
jornal El País, Lula, em uma tacada só, defendeu as ditaduras cubana,
venezuelana e nicaraguense, usando comparações que ofendem a
inteligência de qualquer um que tenha a mínima noção do que se passa
nestes países.
“Por
que Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder, e Daniel Ortega não? Por
que Margaret Thatcher pode ficar 12 anos no poder, e Chávez não? Por
que Felipe González pode ficar 14 anos no poder?”, questionou Lula na
entrevista. Como seria ingenuidade demais crer que o ex-presidente,
ex-presidiário e ex-condenado petista não saiba a diferença entre
regimes presidencialistas (com suas limitações de mandatos) e
parlamentaristas (caso da Alemanha, do Reino Unido e da Espanha), sobra
apenas a intenção descarada de confundir os leitores. Especialmente
irônica é a comparação entre Ortega e Merkel, pois a chanceler alemã
está deixando voluntariamente o poder, enquanto o ditador nicaraguense
se apega a ele a qualquer custo (Thatcher renunciou à liderança de seu
partido em 1990; González foi derrotado pela oposição em 1996).
Além
disso, não há o menor indício de que Merkel, Thatcher e González tenham
recorrido a alterações constitucionais casuístas, à repressão violenta
de opositores e à fraude eleitoral pura e simples para se manterem no
poder. E aqui temos a resposta a Lula: o trio de primeiros-ministros
longevos conquistou mandatos dentro da regra do jogo político de seus
países, respeitando todas as liberdades democráticas, sem reprimir a
oposição ou a imprensa, sem aparelhar Legislativos e Judiciários. Já os
ditadores amados por Lula só se garantem no poder à base de muita
coerção, violência, prisões políticas, fraude, subserviência dos demais
poderes e supressão de direitos. Ortega, Chávez, Maduro e Evo Morales
(para incluir também dois autocratas amados por Lula, mas não
mencionados na entrevista) são a antítese de Merkel, Thatcher e
González.
Como
não poderia deixar de ser, Lula também fez a defesa da mais nefasta e
assassina das ditaduras latino-americanas, e a mais adorada pelo
petismo. Em nova comparação esdrúxula, o ex-presidente comparou a
repressão do regime cubano aos protestos pedindo liberdade à ação de
polícias mundo afora que ocasionalmente reagem com violência a
manifestações. “Essas coisas não acontecem só em Cuba, mas no mundo
inteiro. A polícia bate em muita gente, é violenta”, diz o petista. O
que não “acontece no mundo inteiro”, e que Lula omite, é o fato de Cuba
nem sequer tolerar manifestações de oposição, reagir com violência mesmo
quando o ato é pacífico, prender dissidentes simplesmente por criticar o
governo e chegar ao ponto de derrubar as conexões de internet para que
imagens dos protestos não sejam divulgadas.
Nos
últimos dias, a lista de declarações antidemocráticas do petismo não se
limita à defesa apaixonada do que há de pior na América Latina: Dilma
Rousseff também se desmanchou em elogios à ditadura chinesa – aquela que
destruiu a democracia em Hong Kong, promove o genocídio dos muçulmanos
uigures e, mais recentemente, entrou na mira da comunidade esportiva
internacional pela censura e desaparecimento de uma tenista após
acusações de abuso sexual contra um ex-vice-primeiro-ministro do país. E
o mesmo Lula, em seu passeio pela Europa, voltou a defender o controle
(eufemisticamente chamado de “regulamentação” e “democratização”) da
imprensa e, também, das mídias sociais.
Desta
vez não há como o PT minimizar as frases claramente antidemocráticas de
Lula e alegar que elas “não foram submetidas à direção partidária”,
pois é a direção partidária que se submete a Lula; sua palavra é a lei
suprema no petismo. É este Lula, fiel escudeiro de regimes carniceiros
latino-americanos, que se apresentará ao eleitor brasileiro em 2022
posando de representante da “democracia”, contando com a ajuda de
formadores de opinião mais comprometidos com a ideologia que com a
verdade dos fatos. Lula não é um democrata, o PT não é democrata – e sua
paixão por regimes autoritários é tanta que nem o pragmatismo
eleitoral, que aconselharia moderação, consegue frear a ânsia petista de
vir a público defender seus ditadores de estimação. Que ninguém se
iluda: Lula não quer ser Merkel, Thatcher ou González; sua inspiração
está em outro lugar.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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