Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais de quarta-feira, dia 24 de novembro:
O
PSDB, que elegeu duas vezes o presidente da República, que disputou o
segundo turno até 2014, resolveu fazer prévias para escolher quem seria o
seu candidato no ano que vem– e, ao mesmo tempo, ocupar o noticiário.
Pois não conseguiu escolher o candidato; mostrou-se capaz de ocupar o
noticiário, mostrando-se incapaz sequer de promover as prévias;
revelou-se totalmente rachado, com acusações pesadas entre os
candidatos, com uma deputada saindo do partido porque, disse, o que
queria mesmo era reeleger Bolsonaro.
Eleição
não é para amadores. Nos Estados Unidos, depois de ser batido por
Obama, o republicano Joe McCain foi cumprimentá-lo e oferecer-lhe sua
cooperação. Os repórteres lhe perguntaram o motivo da gentileza, depois
da troca pesada de ataques na campanha. McCain foi claro: “Na campanha
ele era meu adversário. Agora é meu presidente”. Mas Sérgio Motta,
Montoro, Covas e outros profissionais morreram. Fernando Henrique, o
profissional por excelência, já não participa da vida partidária.
Restaram os briguentos.
Bolsonaro,
mesmo com a caneta na mão e verbas ilimitadas, fartamente distribuídas,
não consegue fazer nem com que o chanceler que indicou seja sabatinado
pelo Senado. Derrapa nas declarações (comemorou, por exemplo, o “bom dia
especial” que tinha dado à esposa, indicando, pelo estardalhaço, que
isso não deve ser tão comum; prometeu privatizar a Telebrás, que deixou
de ser do Governo há muitos anos). E nega o desmatamento da Amazônia.
E Lula?
Lula
mentiu muito em sua viagem à Europa, dizendo, por exemplo, que foi
declarado inocente (na verdade, seus julgamentos foram anulados por
questões técnicas. E, embora isso não vá dar em nada, têm de ser
refeitos). Mas é inegável que fez sucesso, sendo bem recebido por
dirigentes que não deram a menor bola a Bolsonaro. E como aproveitou o
sucesso? Elogiando o ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, que acaba de
se reeleger pela quarta vez, agora após colocar na prisão seus sete
maiores adversários.
Quis
comparar Ortega com Angela Merkel – logo ela, que nunca foi acusada de
corrupção, que ganhou eleições sem prender ninguém. E que é eficiente.
Há
mais: quando presos políticos fizeram greve de fome em Cuba, e um
morreu, Lula foi fotografado ao lado de Raul Castro, o ditador da época,
às gargalhadas, e acusou as vítimas da violência de serem reles
bandidos.
Por
algum motivo, Lula se sente compelido a falar bem de Cuba. No caso da
atual repressão a protestos, disse que isso acontece não apenas em Cuba,
mas no mundo inteiro. Quando isso aconteceu no Brasil, aí ele reclamou
muito. Repressão no lombo dos outros não dói no dele.
E Moro?
Há
quem diga que Sergio Moro é um Bolsonaro que come com talheres. Talvez
se possa dizer que Bolsonaro carrega a arma nas mãos, e Moro numa caixa
de violino. Moro bateu duro no PT e em Lula, por terem elogiado as
eleições da Nicarágua apesar da prisão dos opositores, e por tentarem
minimizar a repressão aos protestos em Cuba. Disse que “não dá para
flertar com o autoritarismo”. Mas manteve pessoas presas por prazos
longos, sem julgamento, até que, para poder sair da cadeia, fizeram
acordos de delação premiada. A propósito, já circula por aí um vídeo em
que Moro, há poucos anos, garantia que jamais faria política.
Fez: não só aceitou o convite de Bolsonaro para ser seu ministro como agora é candidato à Presidência.
O caminho do meio
Quem
não quer Lula nem Bolsonaro terá dificuldade para achar um candidato.
Boa parte dos políticos está envolvida com alguma coisa. A última: cada
um dos 302 deputados que elegeram Arthur Lira presidente da Câmara
recebeu oferta de R$ 10 milhões para aplicar em emendas, via orçamento
secreto. Quem revela a bandalha é o deputado Delegado Waldir
(PSL-Goiás), líder do partido enquanto aguentou Bolsonaro. Arthur Lira
não se preocupa: agora, articula a escolha de um vice de seu PP para
Bolsonaro.
Religião ameaçada
Em
Sumaré, SP, três terreiros de umbanda foram depredados em poucos dias.
Os sacerdotes fizeram Boletim de Ocorrência, mas a Polícia se recusou a
registrar o caso como intolerância religiosa: registrou-o somente como
invasão. A Prefeitura só sugeriu que os terreiros contratassem
seguranças. Os fieis filmaram um carro Corsa cujo motorista fotografava
quem ia a esses terreiros. Acontece que a placa do Corsa era
originalmente de um Meriva. Nem assim as autoridades se mexeram. Alô,
governador João Doria!
OAB obrigatória
Atenção,
advogados: a eleição para a OAB-SP, a maior do país, é amanhã, das 9h
às 17h, e o voto é obrigatório, sob pena de multa. Houve mudanças: para
saber onde votar, veja bit.ly/OABSP2021ondevotar.
De acordo com a pesquisa do Estadão, duas chapas disputam cabeça a
cabeça: a situação, de Caio Augusto, e a 14, de Patrícia Vanzolini e
Leonardo Sica, de oposição.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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