O caso de Charlene, casada com o príncipe Albert de Mônaco e agora internada numa clínica na Suíça, é o mais recente de uma longa série. Vilma Gryzinski:
Em
dezembro do ano passado, a princesa consorte Charlene de Mônaco, uma
ex-nadadora profissional com pose de modelo, apareceu com um corte
moicano no cabelo, com a lateral raspada.
Todos
entenderam que era um momento Britney Spears, não uma experimentação
estética ou uma provocação aos padrões de comportamento que uma princesa
deve seguir, mas a manifestação de um problema emocional profundo.
Depois
disso, ela retornou à África do Sul, postou muitas fotos em incursões
de proteção aos rinocerontes e foi arranjando desculpas para continuar
em seu país natal, longe do marido e, principalmente, do casal de filhos
gêmeos.
O
moicano radical voltou e ela parecia cada vez mais magra e abatida, um
caso típico da “doença das princesas”, anorexia ou bulimia, os dois
distúrbios alimentares que acometem não apenas jovens mulheres que
integram famílias reais, mas também modelos, bailarinas, atletas,
atrizes e outras beldades que se sentem extremamente cobradas a manter a
beleza enxuta que, para começar, as empurrou para posições de destaque.
Isso
para não falar nas adolescentes e jovens que se “julgam” nos tribunais
das redes sociais e são acometidas pelos dois distúrbios ainda não
inteiramente entendidos pela medicina: a anorexia, que é a recusa a
ingerir alimentos em quantidade suficiente para manter a vida, e a
bulimia, o perigoso ciclo de se entupir de comida e depois provocar o
vômito, devastadora para o sistema digestivo.
Charlene
provavelmente sofre de algum desses distúrbios e de outros mais. Assim
que retornou a Mônaco, na semana passada, a família, incluindo seus
irmãos, foi convocada por Albert e fez uma “intervenção”, o procedimento
extremo usado para parentes que precisam de ajuda urgente, em especial
por distúrbios psiquiátricos ou vícios. Com sua concordância, ela foi
internada numa clínica na Suíça.
O
caso mais notório de distúrbio alimentar em famílias reais foi o da
princesa Diana, que sofreu de bulimia durante quase dez anos. Ela dizia
que havia começado o processo autodestrutivo exatamente no momento em
que o mundo se deslumbrou com seu primeiro vestido de gala, um
tomara-que-caia preto que mostrava o colo, os braços e o rosto radiante
de uma jovem ainda adolescente – 19 anos -, saindo pela primeira vez
para um compromisso noturno com o futuro marido, o príncipe Charles.
“Estamos um pouco cheinhas, não?”, comentou Charles, com a mão na cintura dela, segundo o relato da princesa.
Detalhe cruel que ela ainda desconhecia: Camilla, a mulher que ele realmente amava, tinha vários contornos mais “cheinhos”.
A
princesa Victoria, futura rainha da Suécia, já assumiu ter sofrido de
anorexia na mesma faixa etária de Diana, dos vinte anos, quando passou a
ter um papel oficial como herdeira do trono. Naturalmente mais
“cheinha”, ela ainda sofria com as comparações nada disfarçadas com a
irmã mais nova, Madeleine, loira, linda e esbelta.
Outras
que já despertaram comentários pela extrema magreza: as rainhas Letizia
da Espanha e Rania da Jordânia. Kate, que assumirá o título de Diana,
de princesa de Gales, quando o sogro se tornar rei, também, já enfrentou
as mesmas suspeitas, apesar dos olhos e cabelos brilhantes, um
indicador de saúde.
Toda
elas são naturalmente magras, mas é evidente que perderam vários dos
quilos a mais que teriam em condições normais, se não tivessem que viver
sob o escrutínio de câmeras e se cobrassem uma apresentação nada menos
que perfeita.
Para
manter a cintura de 59 centímetros e os 53 quilos depois de três filhos
e aos 39 anos, Kate, formalmente chamada pelo título de duquesa de
Cambridge, segue um regime alimentar e de exercícios espartano.
O
perfeccionismo é uma característica comum também de mulheres em
carreiras que exigem alto desempenho. A lista de atrizes e cantoras
anoréxicas ou bulímicas é assustadora.
Inclui
Jane Fonda, que sofreu de bulimia até já entrada nos 40 anos; Lady Gaga
(“Queria ser magrinha como uma bailarina”); Taylor Swift e Jessica
Alba. Demi Lovato era tão controlada pelos responsáveis por sua carreira
que, ao fazer aniversário, ganhava um bolo de melancia, não para cortar
o açúcar de cana, mas o da própria fruta, que nunca podia comer. Fez
uma música a respeito.
Analisando
com os olhos de hoje fatos do passado, especialistas em distúrbios
alimentares identificam a anorexia entre beatas e santas que faziam
jejuns prolongados como forma de se concentrar na adoração a Deus.
Geralmente eram freiras que já viviam em ambientes monásticos.
Muitas
das mulheres que padecem desses distúrbios relatam que não comer é uma
forma de exercer controle sobre si mesmas. A magreza extrema que
cultivam como ideal também atenua características sexuais, como seios e
quadris arredondados, e até a própria menstruação, o que pode ser um dos
objetivos mascarados do distúrbio.
Por
que um “sadhu” hinduísta (ou uma sadhvine) pode passar uma longa vida
ingerindo um mínimo extremo de comida e anoréxicas chegam a morrer nos
casos intratáveis do distúrbio?
A
recusa à alimentação por motivos religiosos tem até uma designação,
anorexia mirabilis, ou miraculosa, para distingui-la da anorexia
nervosa, movida a dismorfia.
Ainda
há muito a ser entendido, embora os casos doentios do corte de
alimentação sejam todos ligados à imagem e à confiança em si mesmos dos
doentes. Jovens já muito magras desenvolvem uma repulsa profunda aos
próprios corpos, dos quais têm uma imagem distorcida. As redes sociais
propiciam comunidades unidas pelo mesmo distúrbio e quebrar essa cadeia é
um dos aspectos mais difíceis no seu tratamento.
Demi
Lovato, que começou a carreira como atriz infantil, diz que sofreu os
primeiros episódios de bulimia aos oito anos de idade. Aos 18, foi
internada numa clínica de reabilitação pela primeira vez e já teve
vários episódios de overdose.
Princesas da vida real ou princesas da Disney podem ter uma vida danada de difícil.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário