No momento, o ex-ministro Sergio Moro já aparece como alternativa entre Lula e Bolsonaro, escreve Merval Pereira:
Desmentindo
grande parte dos políticos, e mesmo eleitores, que não viam nele
condições de se sair bem numa disputa à Presidência da República, o
ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro teve uma boa largada no primeiro
discurso público como pré-candidato, na assinatura de sua filiação ao
Podemos. A manhã já fora de boas notícias para ele, com a pesquisa
Quaest/Genial o colocando como terceira opção dos eleitores no momento, à
frente numericamente de Ciro Gomes, mas empatado tecnicamente.
Ciro
está em sua quarta eleição presidencial e acaba de dar uma demonstração
de força dentro do PDT, levando o partido a reverter os votos na PEC
dos Precatórios, votando majoritariamente contra. O fato de Luiz
Henrique Mandetta ter sido o único dos pré-candidatos da terceira via a
ter ido à solenidade demonstra não apenas que eles reconhecem pelo menos
o potencial que Moro representa, mas também como será difícil haver uma
união entre eles para uma candidatura única contra Lula e Bolsonaro.
A
de Moro tem a possibilidade, como demonstrou em seu discurso, de
abocanhar pedaço importante do eleitorado de Bolsonaro, como também de
impedir que esses eleitores decepcionados com o presidente,
especialmente a classe média brasileira, se voltem para o voto nulo ou
até mesmo para Lula.
O
próprio PT está trabalhando para isso, pois assusta essa mesma classe
média quando dá ares democráticos à “eleição” do ditador da Nicarágua
Daniel Ortega ou quando Lula afirmou, meses atrás, que o Partido
Comunista da China deveria ser exemplo para outros países. Confirmando,
assim, o que disse sobre a Venezuela de Maduro, que teria “democracia em
excesso”.
Moro
foi inteligente para não deixar que os adversários explorassem sua voz
característica, assim como Doria já desmontou a ironia bolsonarista de
suas calças apertadas. Disse Moro: “O Brasil não precisa de líderes que
tenham voz bonita. O Brasil precisa de líderes que ouçam a voz do povo
brasileiro”. Mas ficou evidente que ele andou tomando aulas de dicção.
A
defesa do combate à corrupção e, sobretudo, da Operação Lava-Jato era
parte necessária do discurso, embora Moro tenha acertado ao não
restringi-lo ao tema. Mas, no momento em que os procuradores de Curitiba
estão sendo perseguidos pelo Tribunal de Contas da União (TCU) sobre
diárias e passagens já aprovadas tecnicamente pelos próprios órgãos
fiscalizadores do mesmo TCU, era preciso defender sua atuação, pois esse
é obviamente o flanco exposto depois que o Supremo Tribunal Federal
(STF) o considerou suspeito nos processos contra o ex-presidente Lula.
“Eu
sempre fui considerado um juiz firme e fiz justiça na forma da lei”,
afirmou. E passou a relatar os sucessos da operação, que recuperou cerca
de R$ 14 bilhões roubados do dinheiro público. Nesse ponto, Moro
revelou que foi aconselhado a não falar sobre corrupção, que já não
seria o tema principal da agenda brasileira, mas falou: “Precisamos
falar sobre corrupção. (…) As estruturas do poder foram capturadas. A
busca do interesse público foi substituída pela busca egoísta dos
interesses próprios e dos interesses pessoais e partidários.”
Outro
flanco que terá de defender durante a campanha, Moro já começou a
abordar no discurso de ontem: o fato de ter aceitado ser ministro da
Justiça e Segurança Pública de Bolsonaro. Disse ter sido “boicotado”
pelo presidente e que “continuar como ministro seria apenas uma farsa.
Nenhum cargo vale a sua alma”. A seu favor, o fato de ter pedido
demissão, abrindo mão de uma possível indicação para o Supremo caso
seguisse sem reagir às orientações de Bolsonaro.
O
pré-candidato do Podemos não deixou de lado os problemas atuais
prementes, como desigualdade e pobreza, anunciando que criará uma
“força-tarefa de erradicação da pobreza”, além de uma “Corte nacional
anticorrupção”, provavelmente retirando do STF os processos criminais.
Abordou questões como meio ambiente, prometendo retomar a liderança no
combate à poluição ambiental e ao desmatamento da Amazônia. Aos órfãos
da política liberal de Paulo Guedes, defendeu a abertura da economia e o
livre mercado, mas “com solidariedade e compaixão”.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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