O sistema eleitoral brasileiro está bichado e só será reformado se a sociedade pressionar. Carlos Alberto Di Franco para o Estadão:
Em
decisão típica da pornopolítica, que envergonha o Brasil, o Congresso
decidiu dar uma baita turbinada no financiamento das campanhas
eleitorais de 2022 com uma mudança nas regras apresentada de última
hora. A alteração na construção do Orçamento do próximo ano, aprovada
por deputados e senadores, reserva R$ 5,7 bilhões para as campanhas do
ano que vem. Esse montante (sem descontar a inflação) de dinheiro
público do chamado fundo eleitoral representa um aumento de 185% do
valor que os partidos obtiveram em 2020 para as disputas municipais – R$
2 bilhões. É também mais que o triplo do que foi destinado às eleições
de 2018, quando foi distribuído R$ 1,8 bilhão.
Num
país sem saneamento básico, em plena pandemia, com escolas fechadas há
um ano e meio e desemprego altíssimo, o relator, deputado Juscelino
Filho (DEM-MA), acha o gasto mais que necessário “para o exercício da
democracia dos partidos políticos”. Cinismo na veia. Bofetada na
sociedade.
O
Congresso Nacional está de costas para a sociedade. Está “se lixando”
para a opinião pública. A prioridade dos parlamentares é garantir o
poder. É tremendo. Mas é assim. Alguns parlamentares, no entanto,
honraram seu mandato e disseram não ao aumento imoral. Veja a relação de
quem votou e como em
https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2021/07/15/veja-como-deputados-votaram-lei-de-diretrizes-orcamentarias-2022.htm.
Nas próximas eleições você já sabe em quem deve ou não votar.
A
política brasileira está podre. Ela é movida a dinheiro e poder.
Dinheiro compra poder e poder é uma ferramenta poderosa para se obter
dinheiro. É disto que se trata as eleições: o poder arrecada o dinheiro
que vai alçar os candidatos ao poder. Saiba que, atualmente, você não
faz diferença alguma quando aperta o botão verde da urna eletrônica,
auditada ou não, para apoiar aquele candidato que, quem sabe, possa
virar o jogo. No Brasil, não importa o Estado, a única coisa que vira o
jogo é uma avalanche de dinheiro. O jogo é comprado, vence quem paga
mais.
Em
resumo, durante os governos petistas, ancorados num ambicioso projeto
de perpetuação no poder, os contratos da maior empresa estatal
brasileira com grandes empreiteiras eram usados como fonte de propina
para partidos e políticos. Dá para entender as razões da vergonhosa
crise da Petrobrás – pilhagem, saque, banditismo, estratégia hegemônica
–, que atingiu em cheio os governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff.
O
escândalo da Petrobrás é a ponta do iceberg de algo mais profundo: o
sistema eleitoral brasileiro está bichado e só será reformado se a
sociedade pressionar para valer. Hoje, teoricamente, as eleições são
livres, embora o resultado seja bastante previsível. Não se elegem os
melhores, mas os que têm mais dinheiro para financiar campanhas
sofisticadas e milionárias. Empresas, discreta e disfarçadamente,
investem nos candidatos sem nenhum idealismo. É negócio. Espera-se
retorno do investimento. A máquina de fazer dinheiro para perpetuar o
poder tem engrenagens bem conhecidas no mundo político: emendas
parlamentares, convênios fajutos e licitações com cartas marcadas.
É
isso que precisa mudar. Mas o Congresso, por óbvio, não quer. Enquanto o
Brasil precisa desesperadamente de reformas, ajustes, cortes, o
Congresso se autopremia com um fundo eleitoral bilionário.
Na
verdade, nenhum valor pode ser considerado razoável para compor o tal
fundo, porque a própria existência do financiamento público contraria a
essência da democracia representativa, na qual os partidos, como
entidades privadas, devem ser financiados por seus apoiadores pessoas
físicas, e somente por eles. Com o fundo público, todos os contribuintes
são obrigados a pagar as despesas de partidos com os quais não têm
nenhuma afinidade. É a eterna confusão entre o público e o privado no
Brasil.
Por
outro lado, a Operação Lava Jato, grande esperança da cidadania, foi
meticulosamente destruída pelo Supremo Tribunal Federal. E a cereja do
bolo foi a absolvição de Lula e a condenação de Sergio Moro. Em decisão
que afrontou a lei e a ética, a Corte concedeu a um criminoso
reiteradamente condenado o passaporte para disputar a eleição
presidencial. E Lula, armado de sua astúcia sem limites, constrói uma
narrativa, mais uma, vestindo a máscara de perseguido político e
injustiçado.
Assistimos,
todos, a um jogo de aparência perverso e vergonhoso. Como se não
existissem confissões documentadas, provas robustas e milhões devolvidos
aos cofres como resultado de acordos bilionários. Quem devolve, por
óbvio, reconhece o roubo. Para essa gente, no entanto, tudo isso precisa
ser apagado com a força da pedagogia da mentira.
O
combate à corrupção é uma das demandas mais fortes da sociedade. A
corrupção algema a sociedade. Desvia para o ralo da bandidagem recursos
que podiam ser investidos em saúde, educação, segurança pública, etc. O
Brasil não vai mais contemporizar.
Nós,
jornalistas e formadores de opinião, temos o dever profissional e ético
de jogar muita luz nas trevas da corrupção. É preciso rasgar narrativas
falsas e mostrar a verdade dos fatos. E você, amigo leitor, dê um basta
ao cinismo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário