A natureza humana tende ao corrompimento pelas mãos do poder, do dinheiro e do sexo. Luiz Felipe Pondé via FSP:
Concupiscência significa uma atração irresistível pelo vício. Termo comumente usado por Santo Agostinho (354-430)
para se referir à nossa natureza humana. Contrato de concupiscência,
nesse sentido, seria o contrato social mediado pelas variadas formas de
vícios que compõem o tecido humano e suas instituições.
A
corrupção, diretamente ligada à concupiscência, habita a estrutura
profunda da realidade. Está em toda parte, mas em algumas ela faz maior
estrago porque as instituições são mais frágeis, e, portanto, a
corrupção salta aos olhos.
Onde
houver dinheiro, poder e sexo, a corrupção estará. Você conhece algum
lugar em que esse tripé, que move o mundo, não esteja contemplado do
cotidiano comum às profundezas institucionais?
A
instituição que melhor entende do assunto é a Igreja Católica: 2.000
anos no mercado. Toda e qualquer instituição, religiosa ou não, navega
por águas tempestuosas quando se trata do caráter humano.
O Ministério da Saúde
é sabidamente um dos maiores “clusters” —aglomerados— de corrupção em
Brasília. Lida com o essencial: vida e morte. Importação de
medicamentos, tecnologia, enfim, a peste só poderia ser uma imensa
janela de oportunidades. A rede de corrupção, portanto, se pôs a
funcionar. E todo mundo sabe disso. E por que ninguém faz nada? Simples:
a corrupção faz parte do jogo, em maior ou menor grau.
Estamos
diante de uma gramática do poder: aqui a virtude é que atrapalha.
Quando vivemos num contrato de vícios, a economia moral é da mesma
natureza.
A
natureza humana tende à corrupção e, portanto, como diz o filósofo e
historiador do pensamento conservador anglo-americano Russel Kirk, no
seu magnífico “The Conservative Mind”, traduzido no Brasil pela É
Realizações (“A Mentalidade Conservadora”), o problema é moral, antes de
político.
Casos
como esses podem ser encontrados em grandes empresas que emplacam um
branding politicamente correto, mas molham a mão de quem for necessário
para agilizar negócios do bem.
Em
se tratando dos três Poderes da República, você pode fazer carreira
pregando o combate à desigualdade social e estar envolvido em todo tipo
de corrupção, como vimos na recente história de partidos à esquerda no
Brasil. Bolsonaro está corrompendo as polícias com uma política de acesso à casa própria, na nossa cara.
Você
pode ver figuras do Legislativo pedindo a cabeça do Poder Executivo
federal —com razão— pela morte de milhares de brasileiros pela Covid-19,
que, todos suspeitam, estão historicamente envolvidos com trilhas de
corrupção em grande escala, em seus domínios de poder. A ideia de que o
Judiciário esteja à parte dessa contaminação é para iniciantes ou para
medrosos que morrem de medo do poder da toga.
O
Estado brasileiro é inteiramente rasgado pela corrupção. Sem ela, ele
não anda. O problema vai dos fiscais ao rei, claro, com honrosas
exceções, que, provavelmente, não terão grande sucesso na carreira, como
policiais pobres.
A
corrupção pode funcionar no nível da microfísica do poder, alimentada
pela vaidade que busca a relevância pública, aprovação em concursos,
promoções profissionais, indicação para cargos de confiança —
denominação irônica, não? Neste caso, a expressão “uma mão lava a outra”
é conceito e não ditado popular. Se não envolver dinheiro, envolve
poder ou sexo.
Ninguém
pode denunciar de modo radical esse nível da corrupção porque, se o
fizer, perde amigos, trabalho, futuro e o casamento — ficará pobre
facilmente.
Você
pode fazer carreira combatendo institucionalmente a corrupção em busca
de sucesso, dinheiro, poder e sexo, e quando estes elementos estão
presentes, a corrupção pode vir pelas mãos da beleza, da doçura e da
amizade. Pessoas bem-educadas não perdem a compostura diante dos vícios
alheios porque elas têm os seus próprios.
A
vida é frágil, bruta e breve, logo, aberta a qualquer esquema que a
torne mais forte, suave e longa. Quando a cidade é corrupta, melhor se
abrigar da tempestade de água e areia que a devasta, e viver à distância
do poder, disse Platão na “República”.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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