MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Jornais desapareceram no tempo, enquanto suas edições online estão crescendo sem parar

 


Edições online ganham cada vez mais destaque ao longo dos anos

Pedro do Coutto

A leitura da explicação da Folha de S.Paulo de terça-feira, afirmando que fez uma revisão de sua política para a retirada e atualização de conteúdo na internet, me conduziu a escrever sobre uma comparação que há tempos pensei em escrever sobre os jornais impressos e os jornais online que têm a vantagem de estabelecer informações imediatas, mas não têm, a meu ver, o mesmo poder das edições impressas, pois estas permitem pausas maiores na leitura, o que conduz a melhores reflexões e, em consequência, uma percepção mais aprimorada.

Os jornais impressos, como é o caso dos quatro principais do país, a própria Folha de S. Paulo, O Globo, o Estado de S. Paulo e o Valor, influem consideravelmente na opinião pública, dando margem a um desenvolvimento cultural mais sólido exatamente pelo manuseio e leitura de suas diversas páginas. Quando digo cultura, falo em tudo que ocorre no mundo, tanto no campo político, quanto no plano econômico ou das artes em geral.

INFLUENCIADORES – Faço esse registro porque estamos em uma época na qual as pessoas que escrevem na internet apresentam-se e, surpreendentemente, são aceitas, como influenciadoras. Francamente, assim qualquer um pode se tornar influenciador, bastando que acrescente algo ao processo da verdade e da lógica.  Influenciadores são os quatros maiores jornais que se destacam na vida brasileira.

Mas a preocupação da Folha de S. Paulo revela a importância cada vez maior das edições online e o registro da existência cada vez menor dos jornais impressos. Ao longo dos últimos 60 anos, desapareceram o Correio da Manhã após o desastre de suas administrações a partir da saída de Luiz Alberto Bahia, o redator-chefe que entusiasmou a redação na qual trabalhei, além do Diário de Notícias, o Diário Carioca, O Jornal, Diário da Noite, Última Hora e finalmente para não alongar a lista, o centenário Jornal do Brasil. Em São Paulo ficou na névoa da estrada o Correio Paulistano. No Rio Grande do Sul desapareceu o Correio do Povo e na capital do país parece que desapareceu o Jornal de Brasília.

O fato que me preocupa é a perda de terreno das edições impressas, mesmo dos quatro grandes veículos, para as edições online. Tal processo implica na queda de um conteúdo que proporciona melhor informação e melhor análise aos leitores dos jornais de papel – papel também democrático – que permitem a leitura online, mas não conduzem a quem toma conhecimento dos fatos por esse meio a mesma profundidade de observação que registram as folhas tradicionais que nasceram no mundo com Gutemberg há 600 anos. Esta é a minha opinião e creio que uma reflexão conduzirá os leitores a espontaneamente concordarem comigo.

OBJETIVIDADE E CLAREZA – Entretanto, devo assinalar, os jornais impressos necessitam observar mais atentamente o fenômeno e selecionar textos com mais objetividade, clareza e, sobretudo, com mais elo com a realidade. Verifico muitas vezes, principalmente quanto aos artigos de colaboradores, uma falta de sentido mais concreto de seus temas e de suas palavras. O sentido mais concreto é aquele através do qual os jornalistas representam a própria sociedade do país. Seus problemas, anseios, vontade de perceber mais das coisas em consequência do foco em pontos nevrálgicos das questões.  

As reportagens dos quatro maiores jornais do país são infinitamente melhores que a maioria dos artigos, ressalvando os casos de Ruy Castro, Hélio Schwartsman, Elio Gaspari, Bernardo Mello Franco, Lauro Jardim, e Dorrit Harazim, entre outros. Na parte editorial, uma tradição da imprensa, os editoriais de hoje (opinião do próprio jornal) não se igualam aos editorialistas que viveram no passado, cujos estilos e vigor deixam saudade. Cito aqui Otto Maria Carpeaux, Franklin de Oliveira, embaixador Álvaro Lins, João Neves da Fontoura, JE Macedo Soares, Carlos Lacerda, Pedro Gomes e Hélio Fernandes.

FOCO – Atualmente, os melhores editoriais, principalmente o de alto de página, são os do Estado de S.Paulo. Não cito os autores,  pois não os conheço. Os editoriais devem ser focos das edições impressas, pois as opiniões nos laptops e celulares não alcançam o mesmo efeito.

Um editorialista tem o espírito e o impulso de um personagem de Alexandre Dumas (pai) que criou o personagem D’artagnan. O editorialista é alguém com uma espada ou florete na mão  que entra em cena para confrontar o poder. É preciso ter essa vibração, esse sentimento, para que alguém reviva hoje os mosqueteiros do passado.

LULA E BOLSONARO – Na edição de ontem da Folha de S. Paulo, o jornal publicou matéria sobre entrevistas de Lula da Silva e Jair Bolsonaro manifestando descrédito para a hipótese do surgimento de um terceiro candidato às urnas de 2022, como previu o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo.

Também, Bruno Bogossian, na Folha de S.Paulo, comentou o assunto, manifestando sua opinião sobre a possibilidade da terceira opção. Hélio Schwartsman, também no jornal, manifestou sua esperança, embora esteja voltada para a derrota de Jair Bolsonaro.

ESQUERDA BRASILEIRA – Em artigo na Folha de S.Paulo, Marcelo Coelho sustenta que o apoio ao governo de Cuba não acrescenta nada à esquerda brasileira. Afirma com razão: “Ditaduras e autoritarismos não são modelo para coisa nenhuma”.

Tem razão o autor. A esquerda brasileira há muito tempo não tem nada a ver com o comunismo que enfrenta a deterioração em Cuba, como aconteceu em uma série de países, sobretudo os da cortina de ferro. Ser de esquerda no Brasil, penso, é ocupar uma posição em favor de uma reforma social bastante ampla, não se conformar com o desemprego de 14 milhões de pessoas da nossa mão-de-obra ativa, de rejeitar o congelamento de salários.

Ser de esquerda é ter um pensamento cristão, é desejar uma reforma social que equilibre capital e trabalho, o que não aconteceu nos milênios da civilização humana. Dividir resultados não é dividir por dois como os conservadores tentam fazer crer. O produto bruto universal está entre US$ 120 bilhões e US$ 130 bilhões. Se 10% fossem destinados ao desenvolvimento social, a fome e a habitação já teriam sido resolvidas. Uma vergonha para todos nós.

SELEÇÃO FEMININA – Fascinado por histórias de bola, pela arte, pela técnica, pelo esforço físico e até pelo heroísmo dos atletas, não costumo perder um jogo importante de futebol. Ontem, por exemplo, às 5h da manhã estava diante da TV acompanhando a partida. O resultado de 5 x 0 não reflete o que foi o jogo até a metade do segundo tempo. Vencíamos por 2 x 0 e Galvão Bueno observou que a goleira Bárbara fez três defesas espetaculares e a China chutou três bolas na trave.

No segundo tempo, a China partiu para frente, perdeu o fôlego e sua defesa ficou vulnerável. Foi um jogo interessante até os seus 70 minutos. Hoje, quinta-feira,  estou à espera da partida Brasil e Alemanha do futebol masculino.

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