Na foto, o governador assumidamente hétero Tyson Apollo num momento de descontração, empunhando sua motosserra. Paulo Polzonoff via Gazeta do Povo:
O
governador Tyson Apollo surpreendeu todo o país ao anunciar sua
heterossexualidade. “Sou hétero. E com muito orgulho”, disse ele ao
entrevistador não-binário que se identifica apenas como Pedre Biau. Com
essas palavras, Apolo se torna o primeiro governador assumidamente
heterossexual do Brasil. Políticos, estivadores, borracheiros e
ativistas repercutiram a declaração.
“Tenho
orgulho de poder aqui dizer sobre a minha orientação sexual, quem eu
sou, embora devêssemos viver num país em que isso fosse uma
não-questão”, disse Apollo a um Biau visivelmente emocionado. "Eu sou
hétero. E sou um governador hétero, e não um hétero governador. E tenho
orgulho disso", completou, para delírio da plateia.
Ou
melhor, de parte dela. Porque as declarações de Tyson Apollo geraram
controvérsia entre políticos, estivadores, borracheiros e sobretudo
ativistas do movimento HMHM (Héteros, Mas Héteros Mesmo). Se por um lado
o deputade Oscar Selvagem o elogiou, dizendo que as palavras de Apollo
são "atitude necessária para ajudar héteros que lutam pelo fim da
discriminação", por outro o ex-deputado Homem de Melo chamou a atenção
para o oportunismo da declaração.
“Não
interessa se o Tyson gosta de mulher, de homem ou de lobisomem. O fato é
que ele apoiou a eleição do presidente mais heterofóbico da história
desse país”, disse Homem de Melo por meio de sua assessoria. Mais tarde,
nas redes sociais, Homem de Melo foi mais enfático nas críticas,
acusando Tyson Apollo de nunca ter batido uma laje na vida.
Os
trabalhadores da estiva, tradicional reduto eleitoral de Tyson Apollo,
comemoraram a saída do armário de seu maior líder. “Ainda viverei um dia
para ver um arroto hétero na tevê”, disse Agenor Paranhos, chorando, a
este repórter. Quando lhe ofereci um lenço, contudo, o estivador ficou
furioso. “Por acaso eu tenho cara de quem chora?”, perguntou ele, entre
lágrimas e soluços, antes de pegar um saco de 50kg de café e jogá-lo
sobre as musculosas costas douradas pelo sol e úmidas de suor.
Ao
lado de Paranhos, um estivador velho e cansado (que por razões óbvias
preferiu se manter no anonimato) anunciou que, por inspiração de Tyson
Apollo, pretendia ainda naquela noite assumir também sua
heterossexualidade para a família. “Tenho certeza de que eles vão
compreender. Além do mais, eu trabalho na estiva, né? Eles já devem
estar desconfiados”, disse.
Já
os borracheiros, eleitores contumazes de candidatos que se declaram
héteros ou semi-héteros, deram de ombros para as palavras de Apollo.
“Tava na cara que ele era hétero”, disse Zé Graxa Preta, da Borracharia
Maxu’s. “Outro dia mesmo ele esteve aqui e trocou sozinho os 18 pneus
dessa Scania aí, ó”, acusou, apontando para um caminhão todo colorido.
“Depois ainda tomou uma Kaiser e fumou meio maço de Continental sem
filtro de uma vez só”, acrescentou.
Entre
os ativistas do movimento HMHM, contudo, o bafafá foi bem diferente.
“Não me interessam as preferências sexuais do governador Apollo. O que
me interessa é saber se ele é um bom governador. Chega de simbolismos!
Que políticas públicas de proteção a nós, heterossexuais marginalizados,
esse senhor implementou em seu estado?”, perguntou todo revoltado Pedro
d’Anuzio, o Pedrão da Massa, presidente do Conselhão Nacional em Defesa
dos Héteros.
Mais
agressivo foi Rodrigo dos Prazeres, diretor-executivo da ONG Vidas
Héteras Importam, organizador da Marcha pelos Machos e, nas horas vagas,
animador de torcida organizada. “Se fosse há 20 ou 30 anos, eu estaria
dando os parabéns pro Tyson. Mas hoje... Hoje é fácil. Hoje se declarar
hétero é um asset político. Esse cara tá tentando se promover em cima de
uma causa legítima de uma minoria discriminada”, disse.
Caso
decida mesmo se lançar à presidência, Tyson Apollo será o primeiro
candidato assumidamente hétero a concorrer ao Planalto. Certamente um
marco para a causa HMHM.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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