Ana Regina Caminha Braga, psicopedagoga especialista em Gestão Escolar e Educação Inclusiva , fala sobre indícios físicos e emocionais manifestados em casos de maus tratos
CURITIBA, 12/07/2021 – De acordo com um levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), na última década, cerca de 100 mil crianças e adolescentes com idades até 19 anos morreram vítimas de agressão em todo o país. Destas, aproximadamente 2 mil tinham idades abaixo de 4 anos. As estatísticas impactantes trazem à tona uma discussão que precisa ser abordada de forma categórica pela sociedade: como os professores e adultos que convivem com crianças podem identificar indícios de abuso?
“Todo episódio ou circunstância de maus tratos causa efeitos comportamentais. Nós adultos, como únicos elementos capazes de livrar a criança deste tipo de situação precisamos estar atentos as alterações de conduta em todos os ambientes sociais”, aponta a psicopedagoga Ana Regina Caminha Braga, especialista em Gestão Escolar e Educação Inclusiva. A condição de abuso causa medo e insegurança na criança gerando dificuldade em falar sobre o assunto. Portanto, em geral, elas acabam manifestando de maneira implícita. ”Nesses contextos, o mais importante é observar e conhecer muito bem a criança pelo qual se é responsável. É necessário perceber, por exemplo, se repentinamente ela começa apresentar uma agressividade ou sensibilidade fora do normal, se a criança é agitada e passou a ficar muito silenciosa e, até mesmo, se ela apresentou queda no desempenho escolar. Sempre há indicativos de que há algo errado”, alerta a especialista.
De acordo com a psicopedagoga, os sinais mais comuns são: falta de apetite; agressividade; choros fora do normal; não querer ficar sozinho; no caso de crianças maiores, voltar a fazer xixi na cama ou as necessidades nas roupas; pesadelos; passar a roer unhas; apatia; e sintomas físicos frequentes ligados a stress e ansiedade, entre eles diarreia, dor de estômago, tontura, náusea, vômito, taquicardia, alergias e dermatites. Além disso, é imprescindível ouvir, respeitar e investigar as vontades ou recusas da criança. “É preciso estar atento se a criança repete muito que não quer ir à escola, ou a casa de alguém, ou estar em determinado lugar. Se não gosta de estar perto de certo adulto, se desvia o olhar dessa pessoa ou se passa a mentir para evitar ir a lugares ou conviver com a pessoa. Crianças são imaturas e têm total confiança nos adultos. Ela busca acolhimento no adulto com o qual se sente segura, e se isso não é ouvido, vai demostrar de outras formas. Crianças replicam exemplos e sentimentos que vivenciam. Se ela passa a morder e beliscar os colegas na escola, pode estar acontecendo algo”, explica.
“Birra” ou socorro?
Há comportamentos e alterações na conduta infantil que muitas vezes são encarados como “birra” e prontamente repreendidos. Mas como diferenciar a birra de um pedido de socorro inconsciente por parte da criança? Para Ana Regina Caminha Braga, a identificação parte da observação e diálogo. “A birra é uma explosão de sentimentos. Mesmo que a motivação seja banal, é uma forma da criança expressar frustração e descontentamento. Ela usa esse recurso para mostrar que está emocionalmente abalada. A questão aqui é o responsável observar se a ‘birra’ está muito fora do comum ou aparecendo de maneira frequente. Se isso acontecer, é importante conversar com a criança e criar uma abertura para ela contar tudo o que está sentindo”, diz.
Outra atitude bem importante é não duvidar dos sentimentos da criança, do que ela fala ou demonstra. “Precisamos deixar o termo ‘geração mimimi’ de lado. É muito preocupante ver pais e responsáveis dizendo que não se pode falar mais nada e denominando determinadas reações e comportamentos infantis como bobagens, sendo que muitas vezes pode ser um pedido de ajuda que está sendo negligenciado por quem deveria promover a proteção dessa criança”, completa a especialista.
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