Conheci Miguel Costa Matos há uns meses. Um jornal perguntou-lhe se preferia Trump ou Xi Jinping, o prodígio preferia o déspota chinês ao presidente americano. Percebi logo: tínhamos idiota. Via Observador, a crônica semanal de Alberto Gonçalves:
Não
é novidade que a nossa vida pública está repleta de idiotas, e quem
achar isto polémico é provavelmente um deles. O idiota distingue-se
sobretudo pela coerência em expelir idiotices, que possui em quantidades
abundantes e em princípio inesgotáveis. Mas não só: além do que diz,
que é idiota, o modo como o diz também é idiota. Em casos frequentes,
Deus os perdoe, até a cara com que o diz é idiota – quando diz e quando
está calada. Será injusto pensar que o idiota prospera principalmente
nos ramos da política e do desporto (e no comentário político e
desportivo): sucede que as actividades em questão beneficiam de mais
notoriedade que outras, as quais certamente terão inúmeros espécimes de
apreciáveis, embora obscuros, idiotas. A história da Covid, por exemplo,
trouxe à ribalta resmas de “especialistas” cuja idiotia passava antes
despercebida em gabinetes sombrios.
É
evidente que o idiota não nasceu ontem. Ou anteontem. Embora possa
haver um aperfeiçoamento gradual das suas capacidades, não restam
dúvidas de que o rematado idiota de hoje já mostraria sinais promissores
na infância e na juventude. Um Marques Mendes ou um Fernando Medina não
atingiram aquele grau de perfeição do dia para a noite. Uma Catarina
Martins e um, ou dois, Eduardo Cabrita não caem do céu. Os “politólogos”
que dissertam nas televisões têm decerto décadas de empenho em cima. E
aqueles “especialistas” em virologia que há ano e meio alertam para o
carácter decisivo “das próximas duas ou três semanas” treinaram as
“valências” (e as sevilhas) durante toda a carreira, por sorte sem que
alguém os ouvisse. A verdade é que nem sempre é possível apanhar o
idiota nas fascinantes fases em que se forma e desabrocha. Porque em
geral as televisões não exibem o processo, o cidadão comum não
testemunha a transição da larva toscamente idiota para a borboleta
orgulhosa e radiante de idiotia. É por isso que Miguel Costa Matos,
deputado do PS e chefe da Juventude Socialista, é uma excepção que se
saúda, e apetece regar com melaço quente.
Miguel
Costa Matos é um meteoro a rasgar o vasto firmamento de idiotas
caseiros. Aos 26 aninhos, está para a idiotia como Pelé aos 17 e T.S.
Eliot aos 23 estavam para as respectivas profissões. À semelhança do que
acontecia com estes, Miguel Costa Matos leva-nos a questionar se
existem limites à evolução, para cúmulo numa carreira política, com
margem de progressão bem superior ao futebol e à poesia. Se, no que toca
a idiotas, o PS é uma formidável escola de formação, um prodígio
imediata e fatalmente destaca-se.
Conheci
– salvo seja – Miguel Costa Matos há uns meses. Um jornal perguntou-lhe
se preferia Trump ou Xi Jinping, o prodígio preferia o déspota chinês
ao presidente americano. Percebi logo: tínhamos idiota. E dos bons,
abençoado pelo talento inato, por um percurso profissional alheio ao
trabalho, por uma fácies aparentada com a de Jorge Lacão e pelo ar de
acólito que distingue alguns dos maiores idiotas nacionais. Notava-se
que o rapaz ia longe.
E
tem ido. Desde então, Miguel Costa Matos vem realizando o tipo de
exibições de luxo que caracterizam os idiotas eleitos (e nomeados).
Nunca falha: ele é contra a “desinformação” (leia-se é a favor da
censura), ele é contra os “difusores do ódio” (e odeia gente assim), ele
é contra o “racismo” (se as cores em causa forem as “correctas”), ele é
contra o “machismo” (o que, corajosamente, o levou a pintar os lábios
de vermelho para uma fotografia: nos idiotas refinados, às vezes os 26
anos equivalem a uma cabecinha de 5), ele é contra a carência de regras
para as prostitutas (que escreve “prostitutx”, provando que as regras do
português não o interessam tanto). E estes são os momentos banais de
Miguel Costa Matos. Os momentos restantes são puro deslumbre.
Os
aficionados da idiotia não se esquecem da recusa do idiota em aprovar o
voto de pesar pela morte de Marcelino da Mata, optando por experimentar
arrepios eróticos com a barbicha do “Che”. Nem da crítica à Hungria por
proibir cartilhas LGBT, enquanto o idiota exalta os palestinianos que
enfiam homossexuais na cadeia. Nem da aflição do idiota com ameaças
gravíssimas aos “direitos humanos” (a venda desregulada de haxixe, juro)
e, em simultâneo, a devoção beata à quadrilha que enterrou a
Constituição e aboliu as liberdades básicas. Nem da acusação ao governo
de Pedro Passos Coelho, que o idiota acha responsável pelo
empobrecimento de um país que o PS arruinara antes e volta a arruinar
agora. Nem das declarações canalhas do idiota a propósito dos 4 anos dos
incêndios de Pedrógão Grande: “Não esqueceremos. Que não deixemos que
se repita” (até a gramática é idiota). Nem da reunião por “Zoom” em que o
idiota participou com máscara., decerto por recear os vírus
informáticos. Aqui há lata. Aqui há atraso de vida. Aqui há cegueira.
Aqui há obediência. Aqui há ignorância. Aqui há pulhice. Aqui há
boçalidade. Aqui há, enfim, os ingredientes essenciais ao idiota. Miguel
Costa Matos não se limita a prometer: faz questão de cumprir. A
obsessão do idiota com a cannabis não é inconsequente.
Esta
semana, disseram-me que Miguel Costa Matos realizou na TVI uma das
prestações mais ridículas desde qualquer declaração pública de Meryl
Streep. Mandaram-me um vídeo com o resumo. Fiquei fascinado. Mesmo numa
terra de muitos idiotas, e num partido com muitíssimos idiotas, o moço é
um caso à parte. Em poucos minutos, sem um lampejo do que antigamente
se chamava raciocínio, espirrou dezenas de patranhas tão delirantes,
evangélicas e subservientes que envergonhariam um servente de Maduro.
Não liguem às más-línguas que desvalorizam Miguel Costa Matos por apenas
parecer idiota: ele é idiota, um idiota perfeito e um perfeito idiota,
uma esponja de reverência e clichés com um futuro radioso num país que,
por estas e por outras, não tem futuro nenhum.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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