Rio de Janeiro, 30 de junho de 2021
– A estratégia da gestão da Petrobrás de vender ativos para se
concentrar nas atividades de exploração e produção no pré-sal já deixou
marcas nas economias das regiões Norte e Nordeste, com perda de emprego e
de renda. É o que mostra estudo do economista Cloviomar Cararine, do
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
(Dieese), realizado a pedido da Federação Única dos Petroleiros (FUP).
De
um total de US$ 36 bilhões contabilizados pela Petrobrás com a venda de
ativos a partir de 2016, US$ 5,4 bilhões (15%) originaram-se dos
desinvestimentos nas regiões Norte e Nordeste (ver lista abaixo).
Estes valores vieram da venda de diferentes negócios: campos de
produção de óleo e gás, em bacias terrestres e marítimas; usinas
termelétricas; unidades petroquímicas e de fertilizantes; gasodutos;
além das quatro usinas eólicas do parque de Mangue Seco, no Rio Grande
do Norte.
A
venda de ativos no Norte e no Nordeste é muito representativa, pois
significa que a Petrobrás está vendendo praticamente todos os seus
ativos nessas regiões. Ou seja, o que está ocorrendo é a saída da maior
companhia do Brasil controlada pelo governo das duas regiões. E isso vem
gerando consequências dramáticas diante da crise socioeconômica
provocada pela pandemia de Covid-19.
“Somente
nos estados do Norte e Nordeste já foram vendidos 104 campos de
petróleo e gás natural e estão à venda outras 81 áreas”, diz Cararine. O
economista ressalta que a Petrobrás sempre vendeu e comprou ativos e
que isso faz parte da estratégia de qualquer empresa, mas não com essa
velocidade e com argumentos falsos, que farão com que a Petrobrás deixe
de ser uma empresa integrada e nacional.
A
estratégia resultou em desemprego e redução de receita gerada pelas
atividades nessas regiões. De 2013 a 2020, houve redução de 65% no
número de trabalhadores próprios da Petrobrás nas regiões Norte e
Nordeste, enquanto no Sudeste a queda foi de 26%. Quando se trata de
trabalhadores terceirizados, houve perda de mais de 22 mil empregos, uma
redução de 48%. “A perda de empregos é um dos impactos mais perversos
do processo de privatização da Petrobrás”, destaca Cararine
PRIVATIZAÇÃO NÃO AUMENTA INVESTIMENTOS E EMPREGOS
Das
nove refinarias colocadas na lista de privatização da Petrobrás, cinco
estão nas regiões Norte e Nordeste. Uma delas é a Refinaria Landulpho
Alves (RLAM), na Bahia, vendida a preço aviltado para o fundo árabe
Mubadala. A operação ainda não foi concluída e é alvo de processos na
Justiça e em outras instâncias, acrescenta o coordenador geral da FUP,
Deyvid Bacelar.
Bacelar
lembrou que a Petrobrás fez investimentos de US$ 23 bilhões na
ampliação de refinarias, em unidades de hidrotratamento (HDT) de diesel e
de gasolina. “Somente na RLAM, foram investidos R$ 6 bilhões, e agora
ela está sendo vendida a preço de banana, por US$ 1,65 bilhão”.
Bacelar
contesta o discurso do governo federal de que a venda de ativos da
Petrobrás irá estimular investimentos e gerar empregos. Para ele, o que
está ocorrendo é simplesmente a transferência de patrimônio público
nacional para a iniciativa privada – que investe e emprega menos que as
estatais.
“Não
se aumenta investimentos vendendo o que já temos. Não somos contrários a
investimentos privados, mas queremos que eles construam novos ativos no
país. Privatizar empresas e ativos públicos é trocar seis por cinco, já
que os agentes privados investem menos e empregam menos. É uma mentira
que a venda de ativos aumenta investimentos e empregos. O campo de
Riacho do Forquilha, no Rio Grande do Norte, por exemplo, empregava 750
trabalhadores, entre próprios e terceirizados da Petrobrás, e esse
número caiu para 400 pessoas depois da privatização, reduzindo a massa
salarial e a geração de riqueza e renda das economias locais.”
SAÍDA DAS RENOVÁVEIS VAI NA CONTRAMÃO DAS PETROLEIRAS MUNDIAIS
Coordenador
técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis (Ineep), William Nozaki reforça a crítica ao processo
de desmonte da Petrobrás no Norte e Nordeste questionando a saída da
empresa da área de fontes renováveis de energia. Além da venda das
usinas eólicas do Rio Grande do Norte, a Petrobrás está saindo da
produção de biodiesel, com a venda da Petrobrás Biocombustível (PBio). A
unidade da PBio de Quixadá, no Ceará, já foi paralisada.
Para
Nozaki, ao vender ativos de energias renováveis para acelerar a
produção do petróleo, a Petrobrás vai na contramão de outras grandes
petroleiras mundiais. ”De acordo com a Agência Internacional de Energia
(AIE), mais de 60% dos investimentos em energias renováveis são feitos
pela indústria petrolífera. E a Petrobras, na contramão das grandes
empresas, tem se desfeito de seus ativos”, observa.
Novamente,
a equivocada decisão empresarial da gestão da Petrobrás penaliza o
Nordeste. A região lidera os índices de vento e radiação solar em todo o
país, potencial que poderia ser explorado pela petroleira com
investimentos em energia eólica e solar.
Além
de estimular o desenvolvimento econômico e social no Nordeste com o
investimento em fontes renováveis, a Petrobrás poderia colaborar na
garantia de oferta de energia elétrica para o país, que está prestes a
sofrer um racionamento por causa da crise hídrica.
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