Coluna de Carlos Brickmann, desta vez decepcionante em relação ao diabólico Lázaro (que o inferno o tenha), publicada nos jornais de quarta-feira, dia 30 de junho:
Os
comandantes dos policiais que mataram Lázaro puseram o corpo na viatura
e festejaram. O presidente Jair Bolsonaro, que não perde oportunidade
de fazer pouco da morte dos outros, divulgou um CPF Cancelado e fez
piada: “Ué, ele não morreu de Covid?”. Muita gente entrou nas redes
sociais para cobrar de quem não fosse bárbaro alguma crítica à vida
humana destruída.
Lázaro
era bandido feroz, perigoso, impiedoso. Mas era gente: o Brasil não tem
pena de morte para que a pena de morte não seja aplicada. As coisas são
simples: podemos estar ao lado da civilização ou da barbárie. Ficar com
a barbárie atinge a consciência; ficar com a civilização traz problemas
que são difíceis de resolver. É mais fácil ficar ao lado da barbárie,
eliminando as vidas que, a nosso critério, sejam repugnantes ao convívio
civilizado. O mais correto é fazer com que as leis sejam cumpridas e o
mal sofra punição.
Nos
Dez Mandamentos, berço das religiões com base no Deus único, há a
determinação Não Matarás. Houve mortes? Houve, e não poucas; vindas,
porém, do mau uso de Suas palavras. O Talmud, livro de estudos da Lei
dos judeus, determina que quem salva uma vida salva Humanidade O belo
poema do pastor anglicano John Donne ensina que nenhum homem é uma ilha;
“A morte de qualquer pessoa me diminui, porque sou parte do gênero
humano.
“Por isso não pergunte por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.”
Entre a civilização e a barbárie, fiquemos sempre com a civilização.
A caminho do impeachment
O
presidente Bolsonaro garantiu que não compraria a CoronaVac, feita em
cooperação pelo laboratório chinês Sinovac e o Instituto Butantan, de
São Paulo. Foi aquele episódio em que o ministro Pazuello tinha comprado
46 milhões de doses e, graças aos protestos de um adolescente
bolsonarista, que não queria crescer com uma vacina comunista, Bolsonaro
o obrigou a dizer que não ia comprar vacina (ou “vachina”, como disse).
A
partir daí, só houve confusão. As vacinas AstraZeneca, que a Fiocruz
iria produzir, se atrasaram. A Pfizer ficou na fila. A CoronaVac acabou
sendo comprada. E aí entrou em cena a Covachin indiana. Esta custava
caríssimo, foi prometida por algo como US$ 1,5, mas saía mesmo por US$
15,55 - mil vezes mais. Não vinha direto dos laboratório, mas de
intermediários.... E correu frouxa no mercado, sem que ninguém a
contestasse.
Ou
melhor: dizem que um servidor público, irmão de um parlamentar
bolsonarista, foi ao presidente e fez a denúncia. E daí? Daí, o maninho
botou a boca no trombone e está dificílimo segurar os escândalos em
série. Já há representações ao Supremo, já se prepara um super pedido de
impeachment, o deputado diz que ele jamais gravaria o presidente da
República, mas que, afinal de contas, ele não estava sozinho na conversa
com Jair Bolsonaro e não sabe se outra pessoa andou gravando.
As pedras no caminho
Vale
a pena prestar atenção no texto dos jornais que andam publicando as
informações sobre possíveis irregularidades nas negociações do Governo
Bolsonaro. “Informações a que este jornal teve acesso” querem dizer que
pessoas do Poder estão envolvidas na distribuição de notícias. Isso quer
dizer que tiveram, sim, e é melhor não perder tempo com desmentidos.
E
quando começam a aparecer os parentes dos réus, aí é sinal de que a
vaca se dirige rapidamente ao brejo. A oferta de um depoimento sobre seu
ex-marido, proposta há poucos dias pela ex-senhora Pazuello, pode ser
uma iniciativa devastadora. Mulheres o marido troca, mas ex-mulheres são
para sempre.
Poeta do passado
Há
uns 70 anos, José Alcides, Sátiro Francisco e Tancredo Silva criaram um
ponto de macumba que, na voz de Blecaute, virou sucesso nacional. Na
época nem havia um general famoso chamado Mourão, mas escolheram seu
nome: “Chegou o general da banda ê ê; chegou o general da banda, ê a;
Mourão, Mourão, vara madura que não cai; Mourão, Mourão, Mourão, catuca
por baixo que ele vai”.
Em
64, catorze anos mais tarde, um Mourão, com o mesmo nome do general da
banda, foi catucado por baixo e levou suas tropas ao Rio para derrubar o
presidente João Goulart. Derrubou-o sem disparar um tiro e, embora
trouxesse suas tropas, entregou o Ministério da Guerra ao general mais
antigo, Arthur da Costa e Silva.
Agora,
surge um problema conhecido: para fazer o impeachment do presidente, é
preciso ter o apoio do vice, ainda mais quando o titular ameaça usar
tropas para manter-se no cargo. Será que o vice, várias vezes
desautorizado pelo presidente da República, estará ou não disposto a ser
destratado mais vezes e ignorado na execução de tarefas que lhe foram
designadas pelo próprio presidente?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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