Especialista comenta sobre a importância de falar sobre o tema, fatores de risco e como ajudar
Foto: Divulgação
A cada 45 minutos, uma pessoa tira a própria vida no Brasil, sendo esta a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Os dados integram o último levantamento do Ministério da Saúde e chamam atenção para a importância de se discutir o tema na sociedade. No mundo, os números são ainda mais alarmantes, com um suicídio a cada 40 segundos.
Considerado o mês mundial da prevenção ao suicídio, o próximo mês vem sendo chamado de Setembro Amarelo e envolve uma série de ações de conscientização como campanhas informativas e iluminação de pontos turísticos e edifícios com a cor amarela.
Mestre em Saúde Coletiva, o psicólogo e professor da UNIFACS Renan Rocha lembra que o assunto já foi considerado um tabu. “Durante muito tempo se acreditou que falar de suicídio levaria as pessoas a pensar em tirar a própria vida, o que é na verdade um grande mito. Quando temos um problema de saúde, precisamos falar sobre ele”, avalia o especialista.
Renan acrescenta ainda que esse é um fenômeno global. “Logo, chamar atenção é muito importante. Com informações sobre o tema, as pessoas podem entender o que sentem e pedir ajuda. Ao silenciarmos a questão, não temos como colaborar nem produzir nenhum tipo de intervenção em saúde qualificada”, observa.
Fatores de risco
Por trás do suicídio, podem existir diversos gatilhos. Um deles está relacionado ao sofrimento psíquico motivado por transtornos mentais, mas o professor explica que são muito comuns os casos ligados às dificuldades do cotidiano, como a inexistência de relacionamentos saudáveis com os outros, desemprego e relações sociais marcadas reiteradamente pela violência, desrespeito, racismo e homofobia.
Para enfrentar o problema, alguns sinais devem ser observados. “Embora não exista uma relação tão direta e determinante, é importante estar atento a alguns comportamentos como isolamento social e estado emocional depressivo”, destaca Renan.
Outro ponto é o discurso da própria pessoa sobre o tema, que envolve três estágios: a fala, o planejamento e o ato. “Se alguém começa a falar recorrentemente em morrer, isso já é um alerta e amplia consideravelmente quando a pessoa planeja a própria morte, por exemplo, dizendo que vai se jogar na frente de um carro em alta velocidade, ou tenta executar o ato”, informa.
Como ajudar?
O entorno das pessoas que passam por um sofrimento psíquico muito grande e pensam em se suicidar pode ser um aliado no enfrentamento da questão. Um passo fundamental é procurar manter canais abertos de diálogo e comunicação com essas pessoas para que elas consigam se expressar e ser ouvidas, sem julgamentos.
“Tratá-las como incapazes de lidar com os próprios problemas, fracas, covardes ou de outra forma pejorativa ou preconceituosa não colabora. É necessária uma comunicação empática, compreensiva e solidária com o sofrimento do outro”, pontua Renan. As redes familiares, de amigos e conhecidos, assim, são muito importantes.
O auxílio também pode vir de desconhecidos, através por exemplo de ligações que podem ser feitas para o telefone 188, do CVV – Centro de Valorização da Vida, que presta apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntaria e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar. Nas ligações, a pessoa não precisa se identificar e o atendimento pode ser feito também por email e chat disponível no site https://www.cvv.org.br/.
Outra maneira de ajudar é a orientação quanto à procura de auxílio profissional adequado. “Afeto e carinho são essenciais, mas não dispensam o acompanhamento psicológico/psicoterapêutico bem como médico/psiquiátrico/neurológico”, destaca. O uso de medicações também pode entrar em cena e deve ser avaliado pelo médico.
O especialista faz uma provocação ainda para o papel da sociedade no combate ao suicídio. “Que tipos de arranjos sociais temos produzido e são tão adoecedores que as pessoas preferem não viver mais aqui? Não adianta falar em suicídio, sem pensar num projeto de sociedade saudável, que valoriza a vida, que quer ver as pessoas vivas e bem. Essa dimensão coletiva da questão é vital”.
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