Haddad, ele mesmo denunciado na Operação Lava Jato, não quis ficar só: o
tesoureiro de campanha que escolheu, Francisco Macena, também é réu.
Coluna dominical de Carlos Brickmann:
Bolsonaro é autossuficiente. Quem tem a seu lado o general Mourão não
precisa de inimigos. Fernando Haddad é não-suficiente: em boa parte do
país há apreensão de material de campanha petista que, sem dar nomes,
manda votar no 13 – e põe, ao lado, o retrato de Lula. A vida é dura:
Bolsonaro, tão fã de militares, tem de mandar um general ficar
quietinho. E Haddad? Estudar tanto, por tantos anos, para virar genérico
de presidiário?
Os problemas de ambos, porém, não se limitam aos aliados. Chegam
agora a seus eleitores, em reportagens de capa nas grandes revistas
semanais. Haddad, mostra a IstoÉ, tem a campanha comandada de dentro da
cela de Lula, preso em Curitiba. E Bolsonaro: é capa da Veja, com base
no processo em que se separou de Ana Cristina Siqueira Valle. Ela o
acusou de ocultar da Justiça Eleitoral, em 2006, três casas, um
apartamento, uma sala comercial e cinco lotes. E de ter rendimentos
superiores ao triplo do salário de deputado somado aos proventos de
militar da reserva. Quem pagava o extra? Ela não esclarece. Ainda o
acusa de ter furtado, do cofre dela no Banco do Brasil, R$ 600 mil, mais
US$ 30 mil, mais joias. E de tê-la ameaçado de tal maneira que ela foi
morar na Noruega.
Verdades ou mentiras? O fato é que o processo estava arquivado e Veja
teve que desarquivá-lo. Ana Cristina hoje apoia Bolsonaro, mora no
Brasil, diz que exagerou na ação e adotou o nome eleitoral de Cristina
Bolsonaro.
Com quem andas
Haddad, ele mesmo denunciado na Operação Lava Jato, não quis ficar
só: o tesoureiro de campanha que escolheu, Francisco Macena, também é
réu. Acusação: receber R$ 2, 6 milhões de pixuleco da empreiteira UTC
para pagar dívidas de campanha. Mônica Moura, mulher do marqueteiro João
Santana, reforça as denúncias de uso intensivo do caixa 2. Três
tesoureiros do PT foram condenados e há outros dois citados por
delatores.
Do zero ao infinito
Mas o grande problema atual da chapa do PT não é a corrupção. É a
capa da revista IstoÉ desta semana: mostra como o ex-presidente Lula,
cumprindo pena por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, de dentro da
prisão comanda a campanha de Haddad; “De lá”, diz a revista, “o petista
articula a cooptação de caciques regionais e até entregas de dinheiro
por meio de jatinhos”. Um caso, com nomes citados: “Ao descobrir que um
dos motores da candidatura de Ciro no Maranhão era o deputado Weverton
Rocha (PDT-MA), candidato ao Senado, Lula, por meio de Gilberto
Carvalho, enviou uma importante mensagem a Valdemar Costa Neto
(ex-presidente nacional do PTB, preso em regime semiaberto): ‘Faça
chegar dinheiro à campanha de Weverton Rocha’. O deputado, conforme
informações colhidas por Lula da prisão, precisava de R$ 6 milhões para
deslanchar sua campanha. (...) Valdemar deflagrou a operação para o
envio do dinheiro ao Maranhão”. A verba foi enviada num avião Cirrus, a
serviço da empreiteira CLC, diz IstoÉ. O avião caiu em Boa Viagem,
Pernambuco, mas sem vítimas nem danos à carga. O dinheiro, completa a
revista, foi entregue ao candidato, que então cortou o apoio a Ciro e o
deu a Haddad.
A revista publica textos de bilhetes, diz quem são os portadores que
vão à prisão ver o Chefe e lá recebem as mensagens de comando aos
políticos da aliança. Na campanha, pelo que está publicado em IstoÉ, só
resta um papel a Haddad: fingir que ele não é ele, mas Lula. Não lhe
deve ser difícil.
Ruim até para Alckmin
Este é um final de semana de más notícias para os candidatos – até
para os que estão com as intenções de voto lá em baixo. Alckmin, por
exemplo, que imaginava estar deslanchando a essa altura da campanha,
pelo domínio do tempo de TV, ainda encontrou espaço para levar mais uma
pancada – e em Goiás, onde os tucanos estão no poder há longo anos, onde
o candidato do partido ao Senado, Marconi Perillo, é também um dos
coordenadores da campanha tucana à Presidência. Na manhã de sexta-feira,
a Polícia Federal desfechou a Operação Cash Delivery, que investiga
pagamentos irregulares a agentes públicos. Um dos alvos da Cash Delivery
é Marconi Perillo, citado em delações de executivos da Odebrecht. A
defesa do governador (e candidato ao Senado) afirmou que a operação foi
desfechada agora para prejudicar a campanha. De acordo com as delações,
Perillo teria obtido duas doações da Odebrecht, uma de R$ 2 milhões, em
2010, outra de R$ 10 milhões, em 2014. Se não se eleger, Perillo perde o
foro privilegiado.
A facada e a leitura
Depois do atentado a Bolsonaro, a leitura de artigos sobre ele
triplicou: é o que indica a pesquisa da Taboola, plataforma
internacional de descoberta de conteúdo, líder mundial no setor. A
leitura on-line passou de 7,6 milhões para 20,71 milhões em um mês. As
datas de maior crescimento foram a do atentado, dia 7, e a da segunda
cirurgia de emergência, dia 13.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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