As tradicionais definições de Política sempre me incomodaram, via-as como incompletas. Por exemplo, o que normalmente se diz é que “política é a arte da negociação”, isso, na verdade justifica o balcão de trocas e negociatas, do toma lá dá cá, o que, a meu ver, favorece as falcatruas que sempre lemos nas mídias. E infelizmente, a contragosto, aceitamos, porque o mal já se banalizou.
Outra definição é a de Lênin: “Política é a arte de tornar possível o impossível”. E isto justifica o que muitos apregoam como verdadeiro milagre: um torneiro mecânico, um operário tornou-se presidente da República. Mas, segundo penso, fez dois governos sofríveis, em seguida ajudou a Lula II, também conhecida como Dilma e estamos às vésperas de vermos o Lula III Haddad chegar ao trono. E fez conchavos com Maluf e outros que tais da política nacional. Nada de novo no front social.
PRECE DISTORCIDA – Tem outras definições de Política por aí… lamentavelmente distorceram a conhecida Prece atribuída a São Francisco de Assis, e foi assim que surgiu mais uma frase conhecida: “É dando que se recebe”.
Finalmente, a Filosofia me socorre e aprendi a definição de Política do grande pensador grego Platão (428-348 a.C.). Gostei, pois está próxima da Filosofia Budista e chegamos à conclusão de que a chamada política pequena, que muitos escrevem com minúsculas, é a Política do Mal, e a grande política que escrevem com maiúsculas é a Política do Bem.
Nada a ver com religião, são termos constantes em um bom Dicionário de Oxford de Filosofia, editora Zahar, Simon Blackburn, 1997. E independem de esquerdas, direitas ou centros. É da natureza humana dos que praticam as políticas.
DIZIA SÓCRATES – No texto clássico “Alcibíades”, Platão escreve o diálogo entre este jovem e Sócrates. O rapaz quer entrar para a política e o velho Sócrates o aconselha. (Há uma edição portuguesa de 1980, editora Inquérito. A editora da Universidade Federal do Pará também publicou as duas conversas em um único volume: “Alcibíades I e Alcibíades II”.)
As definições são completamente opostas ao que vemos hoje na prática dos parlamentos nacionais: federal, estaduais e municipais. Mas não podemos generalizar, há exceções.
Em seu Dicionário de Obras Filosóficas, Denis Huisman, Martins Fontes, 2000, lemos: “Ainda que escrito por um Platão relativamente jovem, ´Alcibíades I´ desperta grande interesse para o filósofo. Nele são encontrados alguns dos temas principais do pensamento platônico e mesmo da reflexão filosófica ocidental”.
CIÊNCIA DO BEM – Sócrates diz ao rapaz para “tomar consciência de sua verdadeira natureza, a saber, que ele, em primeiro lugar é uma alma”. E o venerável sábio grego fala de política, moral, conhecimento, virtude. Sócrates chama estes itens de “Ciência do Bem” que supõe o discernimento entre o “justo, o injusto e o útil”.
Em outro livro: “100 Obras-Chave de Filosofia”, editora Vozes, 2010, encontramos: “O homem político é o homem virtuoso que propaga a virtude”. E continua: “Política não é uma ciência, ela é como a medicina, uma arte, arte de equilibrar os humores, de encontrar o bom regime, de tecer laços sãos e sólidos entre os cidadãos”.
Sócrates transmite a Alcibíades sua reflexão máxima: “Conhece-te a si mesmo”, mas isso implica recentrar-se no essencial, naquilo que nos assemelha aos deuses. “Conhece-te a si mesmo é aproximar-se do Divino cultivando o Bem”.
E quem é o político que faz isso hoje, que age assim?
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