Rodrigo Constantino analisa criticamente alguns artigos publicados na imprensa sobre as eleições presidenciais:
Quando formadores de opinião falam dos riscos que nossa democracia
corre, puxam da cartola o livro do momento Quando as democracias morrem,
e alertam para o iminente perigo de uma vitória de Jair Bolsonaro, só
posso concluir que hibernaram nas últimas duas décadas, e continuam
hibernando.
Afinal de contas, o adversário direto de Bolsonaro é ninguém menos do
que Lula, disfarçado de Haddad. É o PT, que tentou um golpe e pretende,
se vitorioso, dobrar a aposta e partir para uma Constituinte. São
promessas de campanha, não teorias conspiratórias.
O jornalista Brian Winter, com quem já conversei por telefone sobre a política brasileira, publicou um texto
na Folha deste sábado com uma análise correta de como a oposição a
Bolsonaro repete os erros da esquerda americana anti-Trump. Conversei
exatamente sobre isso com ele, argumentando como a bolha “progressista”
vive em seu mundo de ilusões com pautas sem qualquer apelo ao eleitor
de carne e osso. Diz ele:
O que aconteceu nos Estados Unidos, então? Basicamente, Hillary e
seus partidários se concentraram tanto na oposição a Trump que se
esqueceram de falar sobre as questões que importavam para a maioria dos
eleitores: desemprego, imigração e assim por diante.
Jamais esquecerei de uma mulher que estava assistindo a um comício de
Trump: questionada por um repórter de TV como ela justificava votar em
um homem como ele, ela respondeu: “Trump pode dizer o que quiser, desde
que ajude meu marido a arrumar emprego”, foi a resposta.
Brian Winter também reconhece o estrago causado pelo PT em sua
passagem pelo poder: “O PT causou a pior recessão do Brasil em um
século, seu principal líder está na cadeia, e o crime disparou nos 13
anos em que o partido esteve no poder”.
Mas vejam que curioso: mesmo alguém que entende tudo isso acaba
concluindo que Bolsonaro é, de fato, uma ameaça maior para nossa
democracia, e que o PT precisa mudar a estratégia e o discurso para
vencer e “salvar nossa democracia”. Eis o que ele diz:
"Para Haddad e o PT, isso significa que o caminho mais efetivo seria
combinar ataques contra Bolsonaro a uma agenda clara quanto aos
problemas mais urgentes do Brasil.
Isso inclui uma estratégia nacional mais efetiva de combate ao crime,
reconhecimento dos erros passados do partido quanto à corrupção e
deixar claro que a política econômica será mais parecida com a do
primeiro mandato de Lula do que com a do primeiro mandato de Dilma.
Isso é pedir muito, dada a recente insistência do partido quanto a
narrativas de perseguição e nostalgia. Talvez seja impossível. Mas o
futuro da democracia brasileira pode depender disso".
Reparem como o jornalista estrangeiro quer acreditar num PT capaz de
aprender com seus “erros”, para que possa impedir uma “desgraça” à nossa
democracia. Seu futuro depende disso! O futuro da democracia pode
depender, diz, de o PT ser mais pragmático. É o desejo do establishment
de crer num Haddad “moderado e pragmático”, em vez de acreditar no que o
próprio PT prega, na fala de Dirceu, no fato de que quem comanda o show
é um presidiário em busca de vingança contra a Justiça e que mira no
modelo venezuelano.
Demétrio Magnoli, que também faz comparações entre Trump e Bolsonaro em sua coluna
de hoje, conclui que Haddad vence fácil um eventual segundo turno, em
parte porque poderá se pintar como defensor da democracia contra um
candidato autoritário:
"O nosso Trump é o sonho de consumo de Haddad. No turno final, o
avatar de Lula teria o duplo privilégio de falar como representante dos
pobres, contra os ricos, e como campeão das liberdades e da democracia,
contra o autoritarismo. É vitória certa".
Só seria “vitória certa” se o povo todo fosse como a elite de
sociólogos, antropólogos, psicanalistas e artistas, que realmente
acredita numa narrativa de PT como defensor dos pobres e da democracia.
Justo o PT, que pariu milhões de desempregados e pretende dar um golpe
totalitário contra nossa democracia. Essa turma confunde o Leblon com o
Brasil. A maioria da população sabe muito bem quem representa a real
ameaça à democracia. Até o esquerdista Aloysio Nunes reconhece que Bolsonaro não traria qualquer retrocesso para a democracia:
"No Brasil, não há o menor risco de retrocesso em relação à
democracia. Ela é solidamente estabelecida na opinião dos brasileiros,
nas instituições jurídicas. Não há o menor risco de retrocesso em
matéria democrática.
Há hoje duas candidaturas que se colocam como antípodas no universo
político brasileiro, que são as candidaturas que estão hoje na frente
(Bolsonaro/PSL e Fernando Haddad/PT), mas nenhuma delas contesta o
regime democrático, tanto é que se apresentaram perante o eleitorado
para obter os seus sufrágios. O deputado Jair Bolsonaro joga de acordo
com as regras da democracia. Tanto é que é deputado há 30 anos".
Ele está errado no que diz respeito ao PT, claro. É o velho ranço
socialista falando mais alto. Para concluir isso, o ministro teve que
ignorar a declaração do próprio José Dirceu, assim como o programa de
governo do PT. O editorial do Estadão colocou os pingos nos is:
"Um regime autoritário pode se instalar da maneira clássica, por meio
de um golpe, ou como resultado de um paulatino processo de captura do
poder por um determinado grupo político, que assegura sua hegemonia a
partir do aparelhamento do Estado. De um modo ou de outro, o resultado é
sempre o mesmo: a submissão do Estado – e da Nação – aos interesses de
quem o controla, o exato oposto de uma democracia. É precisamente isso o
que o PT tentará fazer se esse partido conseguir vencer a eleição
presidencial.
Para os que ainda concedem ao PT o benefício da dúvida, enxergando
naquele partido credenciais democráticas que a sigla há muito perdeu –
se é que um dia as teve -, recomenda-se a leitura de uma entrevista que o
“companheiro” José Dirceu deu ao jornal El País.
Na entrevista, o jornal pergunta ao ex-ministro, deputado cassado e
réu triplamente condenado se ele acredita na possibilidade de que o PT
seja impedido de assumir a Presidência caso vença a eleição – ou seja,
se pode haver um golpe. José Dirceu considera essa hipótese
“improvável”, pois significaria colocar o Brasil na rota do “desastre
total”, uma vez que “na comunidade internacional isso não vai ser
aceito”. Mas então Dirceu, condenado a mais de 33 anos de prisão por
corrupção no âmbito da Lava Jato, deixa claro que, para o PT, as
eleições, afinal, são apenas uma etapa na tomada do poder. “Dentro do
país é uma questão de tempo para a gente tomar o poder. Aí nos vamos
tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição”, explicou o
ex-ministro.
Não é preciso grande esforço para perceber o projeto antidemocrático
petista nessas poucas palavras. Quando diz que “tomar o poder” é
diferente de “ganhar uma eleição”, significa que o poder pode ser
conquistado e consolidado à margem ou mesmo a despeito do natural
processo democrático – que, justamente, tem como um de seus fundamentos a
alternância de governantes, para evitar a cristalização de um
determinado grupo político-partidário na máquina estatal".
As cartas estão colocadas na mesa para todos que querem enxerga-las.
De um lado temos uma quadrilha disfarçada de partido, comandada de
dentro da carceragem em Curitiba por um bandido condenado, amigo dos
piores ditadores do mundo, que não esconde sua sede por vingança e sua
ânsia por poder, participando do Foro de São Paulo como fundador e tendo
em Maduro sua referência “democrática”. Do outro lado temos um deputado
em seu sétimo mandato, cercado dos melhores economistas liberais,
repetindo que seu governo seguirá rigorosamente a Constituição. Mas os
“formadores de opinião” preferem acreditar que é Bolsonaro quem
representa um risco maior para nossa capenga democracia, já quase
destruída antes pelo mesmo PT de Haddad…
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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