Correio Braziliense
A Operação Lava-Jato pode se tornar um problemão para o governo de Michel Temer e pôr em risco o pacote fiscal que visa a resgatar o crescimento econômico. A queda de Romero Jucá, que foi apeado do Ministério do Planejamento acusado de tramar contra as investigações de corrupção na Petrobras, explicitou que outros ministros podem ser atingidos por denúncias semelhantes, desestabilizando a coalização que o peemedebista montou e tanto precisa para aprovar medidas relevantes no Congresso Nacional.
O baque provocado pelo afastamento de Jucá foi tão forte, que o Palácio do Planalto deu início a uma operação para abortar qualquer outro escândalo antes que contamine o governo. Temer está decidido a demitir imediatamente quem for pego em falso, pois já foi avisado de que a rejeição a ele só tende a aumentar caso mais um auxiliar seja associado a atos ilícitos. E a possibilidade de isso acontecer é alta. Não à toa, o mercado minimizou o impacto das medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Na cabeça dos investidores, o pacote preparado pelo governo é relevante, sobretudo por prever um teto para o aumento dos gastos públicos. Mas, com as gravações de Sérgio Machado, que pegaram em cheio Jucá, o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o ex-presidente José Sarney, um enorme flanco foi aberto. A cúpula do PMDB está sob ataque. E, certamente, isso terá reflexo na administração de Temer. A pergunta que todos se fazem é como o presidente interino conseguirá driblar tanta instabilidade política.
SEM FORÇA NO CONGRESSO
O maior medo dos investidores é o de que o governo Temer acabe ficando muito parecido com o de Dilma, ou seja, sem força no Congresso para aprovar os projetos que podem ajustar as contas públicas. A aprovação da meta fiscal, que prevê rombo de até R$ 170,5 bilhões neste ano, foi uma vitória importante do peemedebista, mas não significa que a base aliada lhe será fiel o tempo todo. Tudo vai depender do que a Lava-Jato revelará em relação a integrantes do governo e como o peemedebista reagirá.
A decisão de antecipar a nomeação dos bancos públicos faz parte da estratégia do Planalto de atuar em duas frentes. A primeira, manter o apoio do PP ao nomear Gilberto Occhi para a presidência da Caixa Econômica Federal. Havia uma grande resistência de Meirelles em relação a indicações políticas para o banco, dada à saúde frágil da instituição, que pode precisar de socorro do Tesouro Nacional. Mas a ansiedade e o descontentamento do comando do partido com a demora na nomeação falaram mais alto. O ministro da Fazenda foi recompensado ao colocar um técnico gabaritado, Paulo Rogério Caffarelli, na presidência do Banco do Brasil.
A segunda frente é pôr fim às especulações do mercado quanto ao futuro dos bancos públicos, que foram usados por Dilma Rousseff para as pedaladas fiscais que devem lhe custar o mandato caso o Senado aprove, em definitivo, o impeachment. Os investidores estavam apostando todas as fichas que Meirelles acabaria se impondo sobre as pressões dos partidos e limparia as instituições controladas pelo Tesouro da ingerência política. Tiveram que se contentar com um trabalho pela metade. Apenas o BB e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com Maria Sílvia Bastos Marques, foram, de certa forma, blindados.
RUMO DO GOVERNO
Para Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Partners, com a Lava-Jato à espreita, Temer não pode titubear. Se já havia pressa para a aprovação de medidas fiscais pelo Congresso, a urgência aumentou. “A bola está com o presidente interino. É ele quem dirá em qual direção o governo irá”, diz. Na visão de Velho, duas semanas se passaram do novo governo e a sensação é de que tudo está amarrado, sob ameaça. “Portanto, Temer deve usar as reconhecidas habilidades políticas para acelerar os trabalhos do Congresso e apresentar uma nova rodada de medidas que tenham efeitos a mais curto prazo”, emenda.
No entender de Carlos Thadeu Filho, sócio da consultoria MacroAgro, os investidores já anteciparam o pacote de medidas que Temer anunciou. Quer dizer: daqui por diante, será preciso mostrar resultados práticos. “Ninguém quer mais comprar promessas. Os investidores estão como São Tomé, querem ver para crer. Isso exigirá um esforço redobrado do governo para resgatar a credibilidade da política econômica”, afirma.
BOAS PERSPECTIVAS
A avaliação de Thadeu é de que, independentemente dos desdobramentos da Lava-Jato, Temer tem condições de sair vitorioso no projeto de tirar o Brasil da recessão. O tempo é curto, reconhece. Mas, para ele, se o presidente interino conseguir se desvincular das denúncias, inclusive se antecipando e trocando pessoas citadas nas investigações por auxiliares fichas limpas, tudo ficará mais fácil. “O peemedebista tem tudo para sair bem de todo esse processo conturbado, colocando o Brasil na rota do crescimento sustentado. Isso, é claro, passa pela aprovação das reformas da Previdência e trabalhista”, assinala.
Os próximos dias serão decisivos para a consolidação do governo Temer. Ele precisará que os partidos da base aliada mostrem engajamento real às medidas propostas pela equipe de Meirelles. Se o debate mostrar divisão quanto aos temas, o risco de fracasso aumentará. As apostas do mercado estão na mesa.
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