A presidente Dilma, em seu discurso de vitória,
disse estar preparada para o diálogo e que deseja a união em favor da pátria.
Tarde demais, “presidenta”. Nem sua roupa branca convenceu, pois como disse
Reinaldo Azevedo, a alma continua vermelha. Essa “pátria” que você e seu partido
desejam não é a nossa, da outra metade que ama a liberdade e a democracia.
Apesar das palavras, que chegam muito tarde e de
forma oportunista após uma campanha nojenta de difamação, não houve
correspondência nos gestos. Aécio Neves, que lutou com dignidade, sequer foi
mencionado em seu discurso. E a primeira coisa que puxou da cartola foi um
plebiscito, bem nos moldes bolivarianos.
Aécio, por sinal, tentou vestir a camisa de
estadista derrotado, e disse que a “maior de todas as prioridades” é unir o
país. Há controvérsias. Tenho profundo respeito pelo candidato e senador,
especialmente depois desse combate. Lutou a boa luta. Mas terá de aprender,
junto com seu partido, a ser oposição de verdade. Agora mais do que nunca.
Quem dividiu o Brasil, que fique bem claro, foi o
próprio PT. Sua campanha reforçou muito aquele discurso que já vinha de longa
data, de “nós contra eles”, de criar inimigos fantasmas, como a “elite”, os
“preconceituosos”, os “ricos incomodados com a ascensão dos pobres”, etc. Agora
querem falar em união? Só na hora de passar o chapéu, ou melhor, de apontar uma
arma e pegar nossa carteira?
Sinto muito, mas não vai rolar. O país está
dividido, e não é hora de união. Que união é essa em que um lado entra com o
bolso e o outro com o populismo? O povo brasileiro está rachado por que o PT
rachou o povo brasileiro. E nunca ficou tão nítida a divisão, entre aqueles que
não ligam a mínima para a corrupção, e aqueles que trabalham para pagar a conta
dessa corrupção; entre aqueles que não se importam com o autoritarismo, e
aqueles que querem preservar a democracia sólida.
Não sou daqueles que faz campanha contra o
nordeste, até porque estou no Rio, que vergonhosamente deu a vitória para Dilma
também. Mas é inegável que há uma divisão geográfica no país. Basta olhar o mapa
acima. E não sou radicalmente contra movimentos pacíficos separatistas.
Afinal, como sabiam os “pais fundadores” dos
Estados Unidos, nação democrática com a mesma Constituição há mais de 200 anos,
o direito de secessão é uma prerrogativa legítima justamente
para preservar a paz e a democracia. O federalismo serve para
descentralizar o poder e permitir o voto com os pés.
Tiradentes, não custa lembrar, tentou exatamente
isso, inspirado nas ideias iluministas. Queria Minas independente da Coroa
portuguesa. E hoje, se não somos mais súditos de Portugal, somos de Brasília. A
Inconfidência se rebelou contra o “quinto”, e nós já pagamos “dois quintos” a
fundo perdido para um estado obeso e corrupto.
Dilma quer falar em plebiscito? Então por que
seria absurdo falar em plebiscito de segregação voluntária? Não é melhor do que
integração forçada? O Canadá já fez isso. A Escócia acabou de fazer. Catalunha
na Espanha deve fazer em breve. Se há uma clara divisão, se um lado quer ser
governado pelo PT, e o outro rejeita veementemente o PT, não seria mais
democrático dar o direito a cada um de ser governado por quem deseja?
Sei que é inconstitucional e sei que não vai
acontecer. Não é também o que estou defendendo aqui. Estou apenas chamando a
atenção do leitor para o que realmente está em jogo: aqueles que acusam os
paulistas e sulistas de “preconceito” querem, no fundo, que eles paguem a conta
de sua demagogia, que explora a miséria e a ignorância país afora, especialmente
no nordeste pobre. Se esses locais tivessem que pagar sozinhos a fatura, a
história seria bem diferente. O PT necessita da miséria e ignorância para ser
eleito, e da riqueza de baixo para pagar as contas.
Quero um Brasil unido. Quero ver o povo que fala
a mesma língua (ou quase) e desfruta das mesmas raízes junto, lutando
efetivamente em prol da pátria. Mas aí é que está o busílis da questão: isso é
impossível com o PT no poder. O PT é o partido da discórdia, que semeia vento e
colhe tempestade. E tem um projeto autoritário de poder, inspirado nos
bolivarianos, que a turma do sul e boa parte do sudeste rejeitou claramente.
Que os tucanos, em vez de costurar uma união com
quem quer destruí-los, saibam fazer oposição de verdade. Até porque o PT vai,
agora, indicar mais ministros para o STF, e ao término do mandato poderão ser
dez apontados pelo partido de onze no total. No passado, até petista de
carteirinha sem qualificação técnica passou na “sabatina” do Senado. Dormiram no
ponto. Que estejam mais vigilantes agora!
Rodrigo Constantino

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