PF aponta indicação frustrada de Rosemary para campanha de Haddad

Paulo Vieira, 'chefe' de esquema indicou irmão, diz interceptação da PF.
Irmãos Vieira não atuaram na campanha, informou assessoria de prefeito.

Paulo Toledo Piza, Fabiano Costa e Marcelle Souza Do G1, em São Paulo e Brasília

O diretor afastado da Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Vieira, preso pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro, indicou o irmão Rubens para atuar na elaboração do programa de governo da campanha do então candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, segundo e-mails e conversas telefônicas interceptadas pela PF.

As mensagens indicam que quem intermediou a negociação foi a ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo Rosemary Noronha.
A assessoria do governo de transição, que atuou na campanha petista, informou que Paulo e Rubens Vieira não participaram do programa de governo elaborado pela equipe do prefeito eleito. Os nomes dos irmãos não aparecem no expediente do documento elaborado por Haddad com as metas de sua administração.
Paulo Vieira é apontado pela Polícia Federal como "chefe" de um esquema de fraude em pareceres técnicos de órgãos públicos com a finalidade de beneficiar empresas privadas. Rubens é apontado pela investigação como consultor jurídico do grupo. Os dois foram presos na semana passada, mas tiveram liberdade concedida pela Justiça nesta sexta-feira (30).
Em telefonema datado de 23 de maio deste ano, Paulo Vieira explica ao irmão, também preso na operação, que o PT pediu a Rosemary “uma pessoa para fazer parte da Comissão do Programa de Governo na área de controle, transparência”.
Paulo Vieira diz que o candidato natural seria ele. “Mas eu não vou fazer parte da Comissão para o Fernando Haddad nem aqui nem na China”, afirma.
Por isso, Paulo decide indicar para a função o irmão Rubens Vieira, diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), afastado do cargo após a operação da PF.
“Aí, eu falei para a Rose que o nome ideal seria você”. Rubens, então, pergunta: “Mas de controle?” E Paulo responde: “Claro. Controle é direto e administrativo”.
O diretor afastado da ANA explica ao irmão que fará um e-mail para Rosemary dizendo que Rubens “conhece muito” porque “foi da área de controle por muito tempo como corregedor”. As trocas de mensagens eletrônicas também foram captadas pela PF.
Em 29 de maio, a ex-chefe de gabinete envia um e-mail para Paulo com o assunto “Indicação Rubens”. “Paulo, o pessoal do vereador quer saber a resposta as reuniões começam hoje, ele vem? Ou vc tem outra pessoa para indicar? Rosemary”, diz a mensagem.
Menos de duas horas depois, Paulo responde, com cópia para o irmão, dizendo que o indicado seria mesmo Rubens. “Ele tem muita experiência com o assunto. Vou pedir a ele para te ligar”, disse.
No mesmo dia, Rubens Vieira responde que só pode participar do plano de governo se for “extraoficialmente, pois pode caracterizar atividade partidária". "Ademias [sic], é possível que alguém diga que estamos sacrificando o horário de trabalho. Vamos pensar nisso”, disse em e-mail privativo para Paulo o diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), também afastado por conta da operação.
Em nota divulgada nesta quinta-feira (29), Rosemary afirma que "mesmo perplexa com o caso", tem "absoluta certeza" de sua inocência. "Não cometi tráfico de influência nem qualquer ato de corrupção, como em breve ficará provado."
Operação
A operação Porto Seguro cumpriu 26 mandados de busca e apreensão em São Paulo e 17 no Distrito Federal em 23 de novembro. Dezoito pessoas foram indiciadas por suspeita de participação no esquema criminoso, entre elas Rosemary e José Weber Holanda, número dois na hierarquia da Advocacia-Geral da União (AGU).
No sábado (24), a presidente Dilma Rousseff determinou a exoneração ou afastamento de todos os servidores envolvidos na operação Porto Seguro, da Polícia Federal.