BLOG ORLANDO TAMBOSI
O apoio dos trumpistas raiz é inabalável, mas não significa que o bloco continuará assim até a eleição presidencial de 2024. Vilma Gryzinski:
“Trump
vai ganhar de lavada”. O autor da previsão, Elon Musk, erra muito e
acerta muito. Mais acerta do que erra, considerando-se que vai e volta
como o homem mais rico do planeta.
Musk
fez a previsão na expectativa de Donald Trump ser levado preso por um
caso antigo, algo ridículo, embora com o arcabouço de coisa ilegal, do
pagamento de 130 mil dólares à atriz pornô Stormy Daniels para não falar
sobre o encontro sexual que teve com o então apenas empresário
ambicioso em 2006. Se Trump perder a Casa Branca em 2024 por causa de
uma interação fortuita, terá sido um dos relacionamentos mais caros da
história, ao nível da paixão fatídica de Marco Antônio por Cleópatra.
Tornar
o ex-presidente réu, com todos os procedimentos – algemas, foto com
roupa de presidiário, audiência de custódia – soa como o ápice da
provocação para os trumpistas que o consideram uma vítima de uma eleição
fraudulenta (altamente discutível) e de uma perseguição implacável dos
adversários políticos e da imensa maioria da mídia (verdade).
Mas estarão os trumpistas mobilizados para formar a cadeia humana que Trump quer, para ser levado preso nos braços do povo?
As
punições pesadas, muitas exageradas, recebidas na justiça pelos
manifestantes que entraram no Capitólio em 6 de janeiro de 2021,
inclusive os que não fizeram nada de errado, certamente influenciam na
decisão de participar de novos atos. Em contrapartida, a transformação
de Trump num mártir da perseguição judicial também é um importante
incentivo a seus seguidores para sair às ruas.
Trump
está a um passo de ser tornado réu pelo promotor distrital de
Manhattan, Alvin Bragg, porque comprou o silêncio da esfuziante Stormy,
uma medida perfeitamente legítima, por caminhos tortuosos: o dinheiro
foi pago por Michael Cohen, o advogado de confiança que se tornou
delator. Cohen foi reembolsado. Como era véspera da eleição presidencial
de 2016, o promotor quer configurar o caso como uso não declarado de
verba de campanha.
Não é um caso preto no branco, tanto para a opinião pública quanto para a própria justiça.
Trump
já alegou que mentiu sobre o pagamento porque não queria magoar a
esposa, Melania. Na época do fugaz relacionamento, ela tinha acabado de
dar à luz o filho do casal Barron Trump, um adolescente que fez 17 anos
hoje e mede 2,1 metros de altura. Stormy Daniels, Stephanie Clifford no
registro, já foi condenada a pagar 300 mil dólares em custas de processo
por uma ação por difamação que abriu contra Trump. Na época, ele
comemorou a “vitória total” como um atestado de inocência.
Se
Trump for realmente preso amanhã, deve ser liberado em seguida e um
corpo de jurados composto por pessoas comuns decidirá se o caso deve ser
levado adiante. Vai, obviamente, fazer o maior auê. Como o caso ecoará
durante as primárias e até a eleição de novembro de 2024 é uma questão
em aberto.
Trump
continua à frente de Ron DeSantis, o governador da Flórida que surgiu
como uma alternativa republicana, embora em alguns estados por uma
diferença de apenas três pontos. É um candidato tão considerável, que a
imprensa democrata faz campanha constante contra ele. Última reportagem
investigativa: foi flagrado em 2019 comendo um pudim de chocolate com os
dedos durante uma viagem de avião.
Nossa,
DeSantis deve ter tremido nas bases depois dessa. O governador é
esperto e age estrategicamente, ao contrário do explosivo Trump. É claro
que se sentiu na obrigação de apoiar seu ex-mentor no caso de Nova
York.
As
pesquisas, hoje, mostram um quadro indefinido. Numa das mais recentes,
do Washington Post/ABC News, Trump aparece com 48% dos votos e Joe Biden
com 46%. Se o candidato fosse DeSantis, seria 47% contra 46%. A
quantidade de guinadas que pode acontecer até lá é simplesmente
imensurável.
Estaria Elon Musk certo em sua previsão?
Nesse
caso, Trump estaria torcendo para ser mesmo levado preso, como ele
próprio antecipou. Muitos eleitores, de direita ou de esquerda,
prefeririam outros candidatos em lugar de uma reprise do embate
Trump-Biden.
Mas quem estava achando que seria uma chatice o “não vale a pena ver de novo” tem que reavaliar opiniões.
Um
ex-presidente preso não só é um fato sem precedentes como também
reverbera sobre os acontecimentos políticos no Brasil, onde Jair
Bolsonaro antecipou em muitos anos o pacote Trump, mas depois se viu
como uma espécie de “outro”, um doppelgänger do presidente americano
transposto para o bioma brasiliense.
Detalhe:
Ron DeSantis emagreceu vários quilos nas últimas semanas, um feito
unanimemente atribuído ao Ozempic, o remédio do momento, apesar de
desmentidos. Nada como uma boa ambição eleitoral para colocar candidatos
na linha.
Nem
Joe Biden deve estar acompanhando com tanto interesse os desdobramentos
judiciais do caso que envolve atrás pornô, advogado delator, o primeiro
negro eleito promotor distrital em Nova York e outras personagens do
universo Trump. Alvin Bragg é da ala que quer usar suas prerrogativas
para fazer justiça social, inclusive “aliviando” para os ladrões que
assaltam residências e lojas. Adivinhem o que ele acha de Donald Trump.
O
ódio é amplamente retribuído, claro. “São comunistas, marxistas, RINOs
(republicanos não trumpistas) e fracassados que estão destruindo nosso
país de propósito”, tuitou o possível réu. “Animais e bandidos”. Os
republicanos da Comissão de Justiça da Câmara já estão investigando
Bragg.
Preparem a pipoca: o circo está montado e o espetáculo tem tudo para ser emocionante.
Postado há 6 days ago por Orlando Tambosi
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