Reconhecer fatos e mudar de ideia são características de quem quer pensar bem - até quando isso parece, equivocadamente, “premiar negacionistas. Vilma Gryzinski:
É
dura a vida de quem pelo menos tenta não ser engolfado por opiniões
ideologizadas, um fenômeno que contaminou até cientistas que deveriam
ser a última linha de defesa contra a politização de sua atividade.
Alguns
acontecimentos dos últimos dias dá um certo alívio para os que
mantiveram a independência e são algo duros de engolir para quem
acreditou firmemente que os “negacionistas” seriam punidos por seus
múltiplos pecados durante a pandemia.
Obviamente,
os fatos não têm nada a ver com opiniões formadas com base em posições
políticas – progressistas, em geral, louvando a ciência, essa coitada
tão abusada, e conservadores insurgindo-se contra a obrigatoriedade de
medidas como máscaras, lockdowns e vacinas.
No
olho do furação, a maioria de nós quis acreditar que uma camadinha de
pano ou de papel na frente do rosto nos protegeria do vírus e que ficar
em casa era o preço a pagar pela sobrevivência a uma praga incontrolável
saída da natureza para, como sempre, punir os humanos por invadir
habitats animais.
No fundo, era nossa culpa e precisamos expiá-la.
Fato:
o Departamento de Energia dos Estados Unidos e o FBI fizeram
declarações apontando uma razoável convicção de que o vírus da Covid-19
escapou por acidente do laboratório chinês onde era estudado.
Parecia
um absurdo lógico imaginar que o vírus aflorado na cidade de Wuhan,
onde funciona um laboratório de estudos desse tipo de agente patológico,
tivesse saído por acaso de um morcego que infectou um animal
intermediário que infectou humanos. Mas quem disse isso chegou a ser
chamado de racista.
Outro
tijolinho recente: a revelação de que a França havia encerrado a
colaboração com o laboratório de Wuhan e avisado que ele estava sendo
usado para fins militares.
Fato:
uma instituição chamada Cochrane Library, considerada a mais respeitada
na análise de intervenções médicas em escala mundial, concluiu que
máscaras comuns ou as usadas por profissionais de saúde, as N95,
“provavelmente fizeram pouca ou nenhuma diferença” na propagação da
doença. Antes da pandemia, serviços médicos de diferentes países e a
Organização Mundial de Saúde não consideravam as máscaras efetivas para
conter o contágio de doenças respiratórias.
Fato,
ou fatos: uma montanha de e-mails provenientes do ex-secretário da
Saúde do Reino Unido Matt Hancock comprova o que muita gente já tinha
concluído. Ou seja, que o governo na época chefiado por Boris Johnson
tomava providências com base em pesquisas de opinião e não na mais pura e
elevada ciência.
Não
é exatamente uma surpresa — e todos os políticos precisam realmente
levar em consideração o que o povo está pensando. Mas ver a manipulação
nua e crua desse conceito é chocante.
Um
exemplo, no mar de mensagens: as crianças das escolas inglesas para
alunos a partir dos onze anos foram obrigadas a usar máscaras sem nenhum
embasamento científico, mas sim um puro cálculo político. A
primeira-ministra da Escócia na época, Nicola Sturgeon, havia
determinado a restrição e Boris concluiu que não valia a pena “comprar
essa briga”. Não queria parecer menos durão do que a rival escocesa.
O
primeiro-ministro também se deixou convencer a não reabrir as escolas
fechadas — com grandes prejuízos para os alunos, como está acontecendo
até hoje — porque “os pais já achavam mesmo que não haveria volta às
aulas” até o início do ano letivo, em setembro.
Hancock
e outros funcionários ironizaram as pessoas que precisavam voltar ao
país e fora, durante um certo período, obrigadas a aceitar — e pagar —
para ficar dez dias em isolamento em hotéis perto de aeroportos,
“trancadas em caixas de sapato”. “Hilário”, diz um deles.
Os
exemplos de decisões sem motivos sólidos são inúmeros — e provavelmente
seriam similares se outros governos pudessem ser vasculhados de forma
tão definitiva.
Um
dos raros países que já fizeram isso foi a Suécia, que se distinguiu de
todos os outros países desenvolvidos por não mandar a população se
trancar em casa e manter abertas as escolas para jovens e crianças. Foi
uma decisão “fundamentalmente correta”, concluiu a Comissão do
Coronavírus.
Outra
conclusão: vários outros países que implantaram o lockdown “tiveram
resultados significativamente piores” do que os da Suécia.
As
autoridades médicas, únicas responsáveis pelas medidas oficiais,
pecaram por demorar muito para alertar a população e houve aglomerações
que deveriam ter sido restringidas, criticou a Comissão.
Em
resumo, muitas das orientações e das consequências do combate à
Covid-19 só estão sendo estudadas agora, enquanto autoridades médicas e
governamentais tiveram que reagir no calor dos acontecimentos, em meio a
um estado mundial de pânico e prognósticos cataclísmicos.
Quanto
mais a ciência verdadeira — e jornalistas inquisitivos — perscrutarem
de onde se originou a pandemia, como se propagou, o que funcionou e o
que não funcionou no seu combate, mais teremos a ganhar.
Reconhecer
fatos não é “premiar” os negacionistas — uma palavra odiosa, por evocar
uma horrível comparação com os degenerados que rejeitam as conclusões
sobre o genocídio dos judeus pelos nazistas. É jogar a favor de toda a
humanidade.
Escrevendo
na Spectator com sua inteligência brilhante e seu pendor para a
polêmica, Rod Liddle anotou sobre a situação na Inglaterra: “Eu não
tinha — e não tenho — grandes objeções ao primeiro lockdown ou mesmo às
primeiras recomendações para usarmos máscaras ou esfregarmos as mãos com
álcool a cada poucos segundos. Não sabíamos o que estávamos
enfrentando”.
Liddle
obviamente é um conservador e escreve que “muito do que fomos proibidos
de dizer, sob pena de sermos banidos das redes sociais ou demitidos de
nossos empregos, revelou ter considerável substância”.
Só mesmo um intelecto superior para usar a expressão “considerável substância” no lugar de “estão vendo só, nós tínhamos razão”.
Quem
preferir, pode ignorar essa parte e se ater aos fatos que estão
contando uma história à qual não deveríamos fechar nossos ouvidos.
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