MEDIÇÃO DE TERRA

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sábado, 11 de março de 2023

Dois anos da morte de Helio Fernandes, um jornalista que honrou a profissão

 



Documentário mostra perseguição do regime militar ao jornalista brasileiro Hélio Fernandes - LatAm Journalism Review by the Knight Center

Nenhum jornalista foi tão perseguido e censurado como Helio

José Carlos Werneck

Quero hoje aqui lembrar o grande jornalista Helio Fernandes, que nos deixou em 10 de março de 2021, aos 100 anos, tendo se mantido ativo como jornalista até o fim. Sua trajetória profissional confunde-se com a própria história da “Tribuna da Imprensa”, título de que era proprietário desde 1962.

Helio foi pai dos jornalistas Rodolfo Fernandes e Helio Fernandes Filho e irmão do notável jornalista e humorista Millôr Fernandes, todos já falecidos. Deixou também outros três filhos – Bruno, que é cineasta, Isabela, produtora cinematográfica, e Ana Carolina, premiada fotógrafa, que trabalhou na IstoÉ e na Folha.

NASCEU JORNALISTA – Helio começou sua exitosa carreira prematuramente, pois tinha apenas 13 anos quando começou a trabalhar na extinta revista “O Cruzeiro”, onde entrou a pedido do tio, gráfico de profissão, permanecendo lá por aproximadamente 16 anos, junto com seu irmão mais novo Millôr Fernandes.

Depois foi para o “Diário Carioca”, onde chefiou a Editoria de Esportes, tendo depois chegado ao cargo de secretário, semelhante ao de chefe de redação. Foi também diretor da revista Manchete.

Com o fim da ditadura de Getúlio Vargas, em 1945, Helio Fernandes cobriu a Assembléia Constituinte de 1946, quando conheceu o jornalista Carlos Lacerda, com quem teve longa relação profissional e de amizade.

CENSURADO POR JK – Foi assessor de imprensa de Juscelino Kubitschek durante a campanha à presidência da República em 1955, quando viajou por todo o País, em companhia do então candidato. Após a campanha, polêmico como sempre, voltou ao jornalismo de oposição ao governo que ajudara a eleger.

Trabalhou, também, na televisão, no programa Noite de Gala, líder de audiência, onde atuou brilhantemente, comentando o cenário político, até ser proibido de aparecer na TV junto com o irmão Millôr, por ordem expressa de Kubitschek.

Em 1962, Helio Fernandes adquiriu de Francisco Nascimento Brito o controle do jornal Tribuna da Imprensa, fundado em 1949 por Carlos Lacerda, que tinha se desligado do jornalismo e era então o primeiro governador eleito do recém-criado estado da Guanabara. Vários jornalistas importantes dessa época ganharam destaque na Tribuna da Imprensa, como Paulo Francis, Sebastião Nery, Carlos Chagas e Pedro do Coutto.

PERSEGUIDO POR JANGO – Sempre polêmico e fazendo oposição, Helio Fernandes foi perseguido pelo então presidente João Goulart, que tentou prendê-lo, mas foi derrotado no Supremo.

No início do regime militar, lançou-se candidato a deputado federal pelo MDB e liderava as pesquisas, quando teve seus direitos políticos cassados em 1966.

Em meio à censura à imprensa imposta principalmente com o AI-5, em 1968, foi preso quatro vezes, inclusive no DOI-CODI, e afastado compulsoriamente do Rio de Janeiro sendo obrigado a passar períodos de confinamento em Fernando de Noronha, Pirassununga (SP) e em Campo Grande (MT).

SEMPRE PERSEGUIDO – O diretor da Tribuna da Imprensa continuou a ser perseguido durante todo o regime militar de 1964. Seu jornal foi o único a sofrer censura prévia em caráter permanente, durante dez anos, de 1968 a 1978.

Ao contrário de outros proprietários de jornal, jamais aceitou a censura e nunca deixou de tentar publicar as notícias naquele conturbado período da história política brasileira. Depois, foi redator do manifesto pela Frente Ampla, lançado por Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda e João Goulart.

Implacável em seus textos, o que fazia parte do seu gênio e integrava seu DNA, Helio Fernandes foi um apaixonado pelo que fazia e era extremamente polêmico, como Carlos Lacerda, seu amigo e outro grande nome do jornalismo brasileiro.

EM NOME DA VERDADE – Sabia-se que Helio Fernandes perdia o amigo, mas não abria mão da verdade, embora não guardasse ódios pessoais. Suas divergências eram sempre no campo das ideias.

No final do regime militar, a sede da Tribuna da Imprensa sofreu um atentado a bomba, em 26 de março de 1981, poucos dias antes da explosão no RioCentro. Mesmo assim, o jornal continuou a circular e no dia seguinte já estava nas bancas.

Helio Fernandes só deu motivos de orgulho a quem com ele conviveu. A este querido amigo, quero aqui reiterar minhas sinceras homenagens e grande admiração por sua bonita história de vida, que serve de exemplo a todos os brasileiros. Helio Fernandes não passou pela vida. Ele viveu realmente a vida. E isso é fundamental.

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