BLOG ORLANDO TAMBOSI
O cerrar dos blocos na Guerra Fria é claro, e, para os europeus, a possibilidade de prosseguir uma terceira via na sua relação com a China é cada vez menos realista. Madalena Meyer Resende para o Observador:
Não
é só na Ucrânia que a guerra avança, criando um ambiente de polarização
cada vez mais extremado. Durante o último mês tornou-se muito mais
evidente a profunda crispação da relação entre a China os Estados
Unidos. Esta semana, o líder da China, Xi Jinping, e o seu ministro dos
negócios estrangeiros acusaram Washington de reprimir o desenvolvimento
da China e fomentar o conflito entre os dois países. Pequim, segundo Xi,
enfrenta “contenção, cerco e supressão” nas mãos das nações ocidentais
em aliança com os EUA. Por seu lado, a administração Biden acusa o
regime chinês de estar a preparar o envio de armamento para a Rússia.
Para os Europeus, esta evolução significa a necessidade, cada vez mais
premente, de clarificarem a sua relação com a China.
O
espírito da Guerra Fria é visível no alinhamento cada vez mais claro
das potências pró-ocidentais. Do lado Ocidental, a primeira evidência de
que as fileiras se estão a cerrar vem de Londres. Sete anos depois do
referendo do Brexit, a Presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der
Leyen, e o Primeiro-Ministro britânico, Rishi Sunak, concluíram o acordo
de Windsor, que propõe uma solução amigável para o problema da Irlanda
do Norte. É agora uma distinta possibilidade que estejamos a atingir a
pacificação das relações entre o Reino Unido e a União Europeia. Para
trás ficam anos de acrimónia sobre os termos do Brexit, tendo-se notado o
abandono de uma atitude punitiva por parte da Comissão Europeia em
relação à Grã-Bretanha. Certamente que a pressão americana para que os
aliados se entendam no contexto da Guerra na Ucrânia foi um fator
determinante para o fecho do último acordo do Brexit.
Talvez
também por isso, e por ser entusiasta defensora do apoio à Ucrânia e do
estreitamento dos laços transatlânticos, Ursula von der Leyen tem
agendada uma visita à Casa Branca, na semana que vem. Mais um passo –
também este muito importante – uma vez que até há muito pouco tempo, a
União Europeia (o que não significa os estados europeus) eram uma quase
inexistência para Washington.
Os
sinais que vêm de Berlim são igualmente claros. O Chanceler alemão Olaf
Scholz, regressado do encontro com Biden em Washington, na
segunda-feira, implementou a expulsão da Huawei das redes de 5G da
Alemanha. A presença de componentes das companhias tecnológicas chinesas
nas novas redes de telecomunicação, consideradas há muito um risco de
segurança, tinha permanecido intacta, apesar das declarações de Angela
Merkel e do governo de Scholz. Os passos concretos para que as
companhias alemãs os substituam por componentes seguros estarão agora a
ser dados.
Entre
os Estados Unidos e a Europa, o espinho espetado pela adoção do
Inflation Reduction Act nas relações entre os dois lados do Atlântico
está a ser negociado. O Presidente Biden e a Comissão iniciaram
conversas sobre um acordo para o comércio de minerais críticos para a
construção de baterias, que permitiria aos Europeus comercializar os
seus veículos elétricos nos EUA. Simultaneamente, o G7 pretende criar um
“clube de clientes” que seja economicamente persuasivo para os países
com recursos minerais críticos, de forma a que o Ocidente se torne
autónomo da China.
O
cerrar dos blocos na Guerra Fria é claro, e, para os Europeus, a
possibilidade de prosseguir uma terceira via na sua relação com a China é
cada vez menos realista.
Postado há 6 days ago por Orlando Tambosi
Nenhum comentário:
Postar um comentário