E ninguém ainda sabe o motivo da única boa notícia da epidemia que tira o
mundo dos eixos: a ausência de mortes de crianças abaixo dos 9 anos. Vilma Gryzinski:
Contra argumentos não há fatos e a irracionalidade que acompanha a expansão do coronavírus é a maior comprovação disso.
Até profissionais do mundo da saúde estão, irresponsavelmente,
contribuindo para tocar o terror. Uma dessas “contribuições” veio da
Inglaterra, onde o tradicional sangue frio inglês anda fervendo.
“Médicos qualificados” mencionados pela imprensa – sem nomes, claro –
declararam que protocolos sobre classificação de risco poderiam
significar que, numa crise de grandes proporções, pacientes idosos em
estado muito grave não teriam acesso a leitos de UTI e respiração
artificial.
Em inglês, o procedimento é chamado de protocolo dos “three wise men”
– uma referência aos sábios conhecidos na tradição latina como Reis
Magos.
No caso, significa que três especialistas de cada hospital
escolheriam quais doentes teriam acesso a recursos, obviamente,
limitados.
O princípio é que “todos os pacientes são igualmente importantes”,
mas isso não significa que todos receberão o mesmo tratamento.
Tradução: os mais velhos e com menos chances de sobrevivência ficam
no fim da fila. Não é, obviamente, uma hipótese única para o caso de uma
epidemia de coronavírus que ultrapasse a capacidade de atendimento do
sistema de saúde.
Escolher quem vai viver e quem vai morrer é, de muitas maneiras, um
dos maiores ônus dos profissionais de saúde nas grandes emergências.
Isso está muito, muito longe de acontecer no caso do coronavírus.
Muito provavelmente nunca acontecerá, pelo menos fora da China, onde o
pior também parece já ter passado do pico.
Mas os três meses que transcorreram desde que foi identificado o
primeiro caso da doença, agora oficialmente chamada Covid-19, permitiram
uma quantidade razoável de indicadores numéricos.
O melhor deles, entre tantas más notícias: não houve nenhum caso de
crianças abaixo de nove anos vitimadas pela doença respiratória.
Ao contrário do que acontece com os surtos de gripe, que afetam as
extremidades etárias, o novo corona está poupando as crianças, não só da
letalidade, mas da infecção.
Algumas crianças, mesmo infectadas, possivelmente nem desenvolvem
sintomas da doença. O vírus também poupa recém-nascidos com mães
doentes, segundo um estudo, ainda limitado, feito na China – uma alegria
para quem se lembra do que o vírus zika fez tem regiões do Brasil.
Na população em geral, 80% têm sintomas leves, comparáveis a um
resfriado comum. Nas crianças, parecem ser mais amenos ainda. Fora as
especulações sobre a imunidade recebida das mães, as causas ainda estão
sendo estudadas.
Em compensação, o coronavírus é mais letal para homens. E quanto mais velhos, pior.
O índice geral de mortalidade é de 2,8% para o sexo masculino e 1,7%
para mulheres. Disparidade similar ou até maior foi registrada com
outras doenças virais que afetam o sistema respiratório, como as
síndromes Sars e Mers.
“As mulheres combatem esses vírus melhor”, disse para o New York Times a pesquisadora Sabra Klein.
O sistema imunológico mais engatilhado é, notoriamente, responsável
pela enorme disparidade entre os sexos no número de afetados por doenças
autoimunes. Lúpus e artrite reumatóide são doenças tipicamente
“femininas”, com 80% de vítimas mulheres.
Até a faixa dos 49 anos, a taxa de mortalidade do coronavírus não
passa de 0,4%. Salta para 8% nos que têm de 70 a 79 anos e chega 14,8%
na faixa acima dos 80.
Obviamente, os números disponíveis até agora para os estudos mais
amplos são referentes à China, com as características locais dos
pacientes, um leque enorme que vai ao uso do cigarro – altíssimo,
principalmente entre os mais velhos – a indicadores como pressão alta e
diabetes.
O coronavírus já fez um estrago monumental, afetando a economia
global numa escala cujas consequências ainda estão sendo avaliadas.
Um dos cálculos reduz o crescimento da economia mundial este ano de 2,9% para 2,5%.
Mesmo quem não tem um centavo em investimentos ficou mais pobre
depois dessa semana catastrófica para as bolsas, culminando na
Sexta-Feira Negra.
O corona vai provocar uma recessão recorde? impedir a reeleição de
Trump? Derrubar Bolsonaro? Matar milhões nos Estados Unidos? Acabar com o
capitalismo?
Todos os que participam do grande debate público têm a obrigação
moral e ética de tomar muito cuidado com o que especulam (ou até
desejam, sem muitos disfarces).
Uma doença contagiosa que mata especialmente idosos e se espalha pelo
mundo num ritmo que ainda está em fluxo já é suficientemente
preocupante.
Quem incentiva histeria em massa corre o risco de ficar na mesma ala reservada aos idiotas terminais como Nicolás Maduro.
“É preciso erguer a voz e dar o alerta. Que o coronavírus não seja
uma arma de guerra utilizada contra a China e contra os povos do mundo
em geral”, disse o elemento.
Alguém quer ficar nessa companhia?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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