Coluna de J. R. Guzzo na edição impressa da revista Exame, abordando a rapinagem do Estado sobre o FGTS do trabalhador:
O ex-candidato presidencial João Amoêdo tem um problema sem solução
junto à maioria dos economistas brasileiros. Quando diz alguma coisa
sobre economia, em geral todo mundo entende na hora — e, como se sabe,
nada deixa um economista brasileiro tão incomodado quanto ouvir alguém
falando em português compreensível para o cidadão comum. Acham que não é
“sério”, nem aceitável “a nível” acadêmico, nem à altura do que definem
como “ciência econômica”. (Essa impaciência é especialmente aguda entre
as autoridades universitárias, ou descritas como tal, que são ouvidas
regularmente pela mídia na condição de “especialistas” em economia.)
Amoêdo fez há pouco, num de seus canais de comunicação pela internet, a
seguinte continha: um brasileiro que tinha 1.000 reais depositados no
seu Fundo de Garantia em 2008 tem hoje 1.510, enquanto um outro, que
colocou os mesmos 1.000 reais, no mesmo ano, numa aplicação de Tesouro
Direto, está com 2.800. É quase o dobro — só isso. E qualquer pessoa
alfabetizada é capaz de ver, na hora, quem ganhou e quem levou na cabeça
nesse negócio.
A conta de padaria feita por Amoêdo comprova mais uma vez o fabuloso
conto do vigário contido na ideia segundo a qual o “Estado” tem um papel
essencial na redistribuição de renda no Brasil. O papel do Estado é
essencial, sim, mas para fazer exatamente o contrário do que se diz:
concentrar renda, transferir dinheiro do mais pobre para o mais rico e
deixar o trabalhador no prejuízo em qualquer negócio que faça, enquanto
mantém de pé uma monstruosa estrutura de “proteção social” que serve
sobretudo aos que mandam na máquina pública. Dão uns trocadinhos para o
pobre diabo que dizem proteger — mas cuidam, quase o tempo todo, dos
interesses, salários, benefícios e privilégios dos seus próprios
funcionários, sobretudo os mais bem pagos, e dos grandes reformadores
sociais que inventaram essa aberração toda. O demonstrativo de João
Amoêdo não é novidade, nem vai lhe valer um prêmio Nobel de Economia. É
apenas claríssimo. Pronto: é o suficiente para ser dado como
“simplista”, “ingênuo” etc. — e por isso mesmo vamos continuar assim,
decidindo em mesas redondas na televisão como promover a justiça social
no Brasil através de atos administrativos e recomendações de professores
universitários.
Naturalmente, não há nada de errado em lucrar investindo dinheiro
ganho honestamente em títulos no Tesouro Nacional. O que há de errado é a
farsa de um “Fundo de Garantia”, pago integralmente pelo empregador
privado, que só garante mesmo uma coisa: que o sujeito vai ser roubado
todos os dias nas contas que calculam seu saldo, e roubado justamente
pelo Estado que gere esse seu dinheiro e diz ser o seu protetor. A
trapaça do FGTS é apenas uma, entre as dezenas de exemplos de
“programas” de governo que funcionam ao contrário do que dizem ser.
“Somos 200 milhões de trouxas explorados por algumas empresas neste
país”, disse há pouco o ministro Paulo Guedes numa palestra em São
Paulo. “Duas empreiteiras, quatro bancos, seis distribuidoras de gás,
uma produtora de petróleo…” É difícil fazer um resumo melhor de como
funciona, na vida real, a economia brasileira — um Estado que manda em
tudo, com a desculpa de que pensa e gasta para todos, e só dá vida boa a
uns poucos. Nessa balada pelo “social”, na teoria, e pelo magnata, na
prática, o “Estado forte” torra a maior parte do que o país produz. “O
gasto público”, disse Guedes, “é o grande vilão do Brasil nos últimos 40
anos”.
Com diagnósticos como esse, Guedes nunca terá, também ele, grande
cartaz junto à maior parte dos nossos professores de economia. Claro que
não: como pensadores de esquerda, eles acham que quanto mais um governo
gasta, e quanto mais fica devendo, mais admirável será como executor de
“políticas sociais”. Custa uns 500 bilhões de reais por ano, ou algo
assim, em pagamento de juros para os infames “rentistas” que tanto
abominam — metade do que se vai economizar em dez anos com a reforma da
Previdência. Mas e daí?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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