Ana Paula do Vôlei, comentando o novo livro de Guilherme Fiuza, Manual do covarde: do Palácio à cadeia sem tirar a máscara (Editora Record):
Para tentar entender a sucessão presidencial mais enrolada da
história recente é preciso, para início de conversa, admitir o seguinte:
o governo do PT foi cassado, mas sobreviveu como assombração.
Depois do impeachment que lavou a alma dos brasileiros assaltados, se
iniciou um dos períodos mais conturbados da história recente – dominado
por conspirações e pistas falsas. Não sei se você notou, mas as
digitais do PT estão impressas em todas essas escaramuças, com a
finalidade óbvia: sabotar a reconstrução do país e tentar retomar o
poder.
A tal assombração conseguiu a proeza, após dois anos de entra e sai
de petistas na cadeia, de trazer o chefe do bando – condenado e
trancafiado – para o centro do debate eleitoral. Contando ninguém
acredita.
Quando a gente acha que Guilherme Fiuza não pode se superar, ele
dobra a meta. O primeiro e único dilmólogo do mundo, aquele que dissecou
como ninguém o governo da mãe do PAC e madrasta do Brasil, volta às
livrarias com a bússola para os que estão perdidos nestes dois anos
pós-impeachment. Ou seja, para todos nós. O Manual do Covarde – Do
palácio à cadeia sem tirar a máscara, que acaba de ser lançado pela
editora Record, é pra morrer de rir pra não morrer de raiva.
É preciso coragem para escrever o “Manual do Covarde”. Nada a temer.
Fiuza, inspirado como nunca e genial como sempre, explica a mágica
petista de caminhar “do palácio à cadeia sem tirar a máscara” que só os
políticos engajados do Brasil seriam capazes de produzir. Para dar algum
sentido ao país da presidente cassada que concorre ao senado, ao
ex-presidente preso que faz campanha para voltar ao Planalto, só a mente
de quem já nos deu “Meu Nome Não é Johnny”, “3000 Dias no Bunker” e
“Não é a Mamãe”, entre outras pérolas da literatura nacional. Fiuza
responde molecagem política com molecagem literária. Deliciosa e
profunda, diga-se de passagem.
O novo livro do melhor cronista político do país não fala apenas do
atual morador de uma cela curitibana ou de sua sucessora, mas de
personagens igualmente infames como Rodrigo Janot (ou “Enganot” para o
autor), os irmãos Batista (os “Free-Boys”), alguns ministros do STF e
muito mais. Para quem acompanha o noticiário diariamente, ver o conjunto
da obra destas figuras é ao mesmo tempo surpreendente, revoltante e
hipnotizador. Aposto que você, ao terminar a primeira página, vai ter a
certeza de que a próxima parada é apenas na última.
Você tem todo direito de desconfiar do meu entusiasmo, sou mesmo
amiga, fã e cheerleader do autor. Não sou e nunca serei “isenta” quando o
assunto é Fiuza, mas acredite que, a despeito de todo amor, amizade,
admiração e carinho que sinto por ele, “Manual do Covarde” é tudo que
promete e muito mais. É o Brasil traduzido, desenhado e explicado pelo
seu observador mais crítico, destemido, lúcido e bem humorado. Uma
versão em inglês resolveria metade dos meus problemas na América quando o
assunto é explicar o (inexplicável) Brasil.
Fiuza não paga pedágio ideológico, não faz concessões ao
politicamente correto, é a dura realidade brasileira vestida com a saia
justa dos fatos e as pérolas de um texto ao mesmo tempo divertido,
agudo, preciso e original como tudo que ele faz. Não há um único
analista que tenha escrutinado, para ficarmos num exemplo real e
gritante, a “Operação Janoesley” com uma insistência quase fanática dos
que não brincam com coisa séria, mesmo que entre uma boutade deliciosa
ou outra. O golpe real que quase salvou os réus do golpe de faz-de-conta
nunca foi ou será tão bem resumido quanto no “Manual do Covarde”.
Na orelha do livro, outro craque, o incomparável Augusto Nunes,
define o enredo como “a crônica política do esfacelamento de Lula, o
mito – passo a passo, com toda a teia da covardia politicamente correta
que vive pendurada nele”. O próprio Fiuza complementa: “a grande
covardia do mundo atual é a simulação de altruísmo para obtenção de
ganhos pessoais e paroquiais – ou seja, um paradoxo. Você pode hoje
tranquilamente conquistar espaço, voto e grana só com slogans
politicamente corretos, sendo a pessoa mais egoísta do mundo. Ninguém
nota!” Para o autor, “A demagogia coitada é o investimento mais seguro
para o picareta moderno.” Viva!
O mais famoso presidiário do país, finalmente declarado inelegível
pela justiça eleitoral (outra jabuticaba que nem tento explicar em
terras ianques), já disse que lê quase um livro por dia na cela. Se
puder dar uma dica, que alguém presenteie Lula com “Manual do Covarde”, o
melhor registro já feito das peripécias recentes do seu grupo político e
dele mesmo. O único problema é que já vem com spoiler, inclusive para o
condenado em questão: para felicidade geral da nação, ele termina preso
no final.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
O tempo vai condenar vocês. A História não perdoará aos traidores da pátria. #lulalivre
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