Chamo atenção para o lúcido artigo publicado por Pedro Henrique Alves (que não conheço) na Gazeta do Povo:
as universidades, em qualquer lugar do mundo - mas principalmente no
Brasil -, constituem de fato o último reduto da esquerda. E isto vale
para as federais, privadas e confessionais - todas dominadas pelo
pensamento único esquerdista:
A
universidade, desde sua origem, tem a única missão (e talvez a mais
digna de todas) de investir esforços estruturais e formativos no
intelecto individual e coletivo da comunidade; tais esforços se destinam
à nobre missão de perscrutar a verdade dos fatos independentemente de
onde ela estiver e sob quais adornos figurarem. Após essa primeira
exploração e conceituação, sua segunda missão passa a ser a apresentação
da verdade à sociedade em forma de princípios compreensíveis e
pragmáticos.
Seja a
Verdade perene e “imorrível”, ou subjetiva e vaporizada, a missão
primeva do culto ao conhecimento é buscá-la e contemplá-la em suas
particularidades e mistérios. Rompendo, assim, o véu obscurantista das
crendices e sobrepujando as sombras aterradoras de nossas cavernas da
ignorância.
Sócrates,
Aristóteles, Platão, Santo Agostinho, Santo Anselmo e São Tomás de
Aquino podem ter discordado pontualmente sobre o que era a Verdade (ou
as verdades), entretanto, para esses grandes homens que cimentaram o
conhecimento ocidental, se o intelecto em perseguição do reto
conhecimento possui algum motivo essencial de existir, esse é tão
somente a busca pela realidade dos fatos, pela verdade substancial. Não
obstante essas obviedades que repeti quase até a exaustão, parece-nos
que tais intuições se perderam em alguma fresta da modernidade.
Assim
que as universidades tornaram-se abertas aos anseios de homens que não
mais queriam o conhecimento para permear o solo da liberdade social, mas
tão somente para erigir seu poderio político e o de seu partido; tais
intentos desviados se coadunaram justamente com a era das ideologias
políticas pós-revolução francesa.
Se os
revolucionários derrubaram as antigas estruturas da aristocracia
encastelada; é certo dizer que os mesmos revolucionários ergueram novas
muralhas, ainda mais altas e imponentes, quase impossíveis de serem
transpostas. Denominamos tais muros de ideologias.
Percebeu-se,
então, que a máxima expressa por Raymond Aron em “O ópio dos
intelectuais”, era profundamente verdadeira: "Toda libertação,
entretanto, traz em si o perigo de uma nova forma de sujeição" (ARON,
2016, p. 32). A universidade sujeitou-se e, se sujeitando, sujou-se no
lamaçal do fanatismo.
Onde começa a treta
Se antes
as universidades serviram ao status quo político e eclesial, não é
nenhuma mentira dizer que hoje elas servem ao status quo
político-estatal. Ora, as universidades são as bases teóricas da
sociedade, o terreno da fertilidade intelectual, onde jazem os
mananciais de uma comunidade ordeira e evoluída. Pois bem, assim como os
mananciais de água são de bem comum em um vilarejo, e invariavelmente a
todos tocam, seria extremamente maléfico caso tais mananciais se
encontrassem polutos numa comunidade delas dependentes.
Caso se
queira destruir ou contaminar uma comunidade inteira de maneira massiva
com qualquer mal, infectar as fontes é um caminho rápido e eficiente;
afinal, cedo ou tarde todos terão que recorrer a elas. A universidade é
uma das fontes de que a sociedade necessita e onde invariavelmente sacia
sua sede de conhecimento; é ela o principal manancial que as ideologias
revolucionárias tomaram para poluir a fim de espalharem seus ideais
políticos por meio da alienação.
Foi isso
que o marxismo adotou como princípio estratégico no final do século XIX
e início do XX, principalmente com o marxista Max Horkheimer e os
demais da escola de Frankfurt. Horkheimer bem entendeu que a sociedade
ocidental se estruturava basicamente sobre três pilares (fontes): a
Igreja, Família e Escola (ou universidade).
Intuíram
os marxistas que: para que houvesse uma revolução profunda, eficaz e
duradoura, antes era necessário “contaminar” essas fontes da sociedade -
fontes essas que mantinham-na num conservadorismo cultural de molde
judaico-cristão. Tal realidade foi vista em toda a Europa, no século
passado, com o surgimento de pensadores radicais que não escondiam suas
oposições ferrenhas a esses três princípios régios.
Contra a
família tradicional, investiu forças o movimento feminista radical,
principalmente com Simone de Beauvoir, Kate Millet, Shulamith Firestone e
Judith Butler. Contra a Igreja, os movimentos eclesiais de base sob o
jugo da Teologia da Libertação, movimento esse que obteve enorme sucesso
na América Latina; seus principais expoentes são: Gustavo Gutiérrez,
Leonardo Boff, Frei Beto, Jon Sobrino e Juan Luis Segundo.
Por fim,
contra a universidade, investiu a conhecida Escola de Frankfurt e seus
descendentes diretos e indiretos (a Escola de Frankfurt foi herdeira
direta do conhecido socialismo científico, linha de reflexão intelectual
criada por Karl Marx), esse foi o movimento intelectual que melhor
conseguiu alcançar seus objetivos revolucionários.
Através
da enculturação das teses marxistas na academia (ao ponto de permear
quase todas as matérias de humanidades com interpretações ramificadas do
marxismo), essa escola conseguiu iniciar com extremo sucesso a
hegemonia intelectual esquerdista que ainda hoje domina as academias de
ensino ao redor do globo.
Seus
expoentes são muitos, tendo ligações diretas ou indiretas com a dita
escola, citarei alguns com o intuito de ilustração: Max Horkheimer,
Jürgen Habermas, Theodor Adorno, György Lukács, Antonio Gramsci, Michel
Foucalt e Jean-Paul Sartre. Para um estudo mais profundo da temática,
recomenda-se a leitura de “Marxismo e Descendência”, do intelectual brasileiro Antonio Paim; e “Pensadores da nova esquerda”, do filósofo inglês Roger Scruton.
Tal
realidade foi descrita por Jean Sévillia, jornalista e ensaísta francês,
como sendo um “terrorismo intelectual”, termo que também dá nome ao seu
livro onde ele mostra que desde “o século XIX, os estudos acadêmicos do
período revolucionário sempre foram de exclusividade da esquerda”
(SÉVILLA, 2009, p. 143).
A
universidade passa, então, assim como a família e a Igreja (religiões de
origem judaico-cristãs), a serem invadidas e contaminadas com o
pensamento marxista de maneira deliberada e estrategicamente pensada.
Em um
primeiro momento tal oposição era feita de maneira mais argumentativa e
agressivamente militante; no entanto, com o advento do pensador italiano
Antonio Gramsci, teorizador da ideia do socialismo cultural, ou como
denominou “bloco hegemônico”, tal agressividade é substituída pela
tomada crescente de espaço cultural e pedagógico na sociedade
organizada.
O
cozimento político e social é vagaroso, porém eficiente. Se lentamente
se tomar posições estratégicas da sociedade, a revolução não precisará
de um levante violento de origem proletária, será necessário tão somente
um autorreconhecimento do poderio político-cultural da massa socialista
que governa as instituições, já que a hegemonia estatal e cultural
serão suas.
Tal
teoria gramscista foi colocada em prática através das universidades e
mídias jornalísticas, afinal, são essas as duas asas da opinião pública.
O sucesso é indiscutível.
"No Brasil, contudo, sempre foi a esquerda um movimento de elites intelectuais que controlam a mídia, as cátedras universitárias e os periódicos de grande circulação" (PENNA, 2017, p. 30).
Dominação no Brasil
As
universidades, no mundo como um todo, principalmente após as décadas de
50 e 60, passam a verborragiar freneticamente um marxismo cada vez mais
pulsante e sufocante. Suas teorias deixam de ser oposição e passam a ser
situação, deixam de ser alternativas e passam a ser status quo. Sobre
isso, afirma Roger Scruton:
O entusiasmo esquerdista que arrebatou as instituições de ensino nos anos 1960 foi uma das mais eficazes revoluções intelectuais na história recente, e recebeu um tal apoio daqueles afetados por ele que pode ser comparável a poucas revoluções no mundo da política (SCRUTON, 2014, p. 135)
O
terreno acadêmico que primeiro foi explorado pela
intelligentsiamarxistas foi o campo da História, a teoria
histórica-econômica da luta de classes foi de fácil transmissão e
aceitação social, apesar de suas falsidades.
Karl Popper chamou a teoria histórica-econômica marxista de “pseudociência”; arguia o filósofo austríaco, em seu livro “A Sociedade Aberta e os Seus Inimigos”,
que o historicismo marxista tende a escolher um posto isolado de
observação da história e, a partir daquela diminuta visão da realidade,
proclamar dogmas históricos inalienáveis.
Um
exemplo é a famigerada “luta de classes”, para os marxistas tudo passa
necessariamente pelo prisma filosófico da luta de classes. Em suma, a
teoria histórica marxista, para Karl Popper, é diminuta, seletiva e
defeituosa; uma teoria histórica amputada e narcisista.
Entretanto,
foi o discurso que mais docemente foi aceito no Brasil e repetido até a
exaustão nas matérias de humanidades até a atualidade. Do direito à
filosofia, da sociologia à economia, da pedagogia à teologia, todos
pensam a partir desse princípio histórico débil e caduco.
Em um
mundo de constantes guerras e inimigos, como foi a década de 50 e 60,
justificar as nossas mazelas sociais e psicológicas a partir de um
inimigo econômico internacional, de uma luta de classes entre um Leviatã
estrangeiro rico e o trabalhador pobre nacional, era um discurso muito
tentador e de fácil explicação e aceitação. Getúlio Vargas, após a
segunda guerra mundial, utilizou-se muito dessa linguagem ideológica.
Não
obstante as duvidosas e, por vezes, infantis teorias interpretativas que
o marxismo oferecia aos intelectos nacionais, as ideias seguiram seu
curso e adentraram com toda a força no sistema educacional do Brasil.
Talvez o expoente mais conhecido dessa era intelectual marxista do
Brasil foi o teórico Paulo Freire, com sua teoria pedagógica inteira
montada sobre o dogma marxista do embate de classe.
Aos
poucos, intelectuais e docentes de todos os níveis educacionais passaram
a repetir as máximas marxistas iniciadas pela teoria histórica. Tal
teoria oferecia uma espécie de óculos universal (um dogma) pelo qual era
possível interpretar toda a realidade sempre pelo mesmo catálogo de
explicações sociais. Tudo era culpa das batalhas eternas entre burguesia
e proletariado, rico e pobre, patrão e empregado.
A intelligentsia nacional
Após tal
contaminação ocorrer de maneira abrangente, há de se erigir os
“clérigos” dessa nova religião civil. Tais clérigos são basicamente
feitos de dois tipos de homens: os intelectuais (intelligentsia) e os
políticos revolucionários; os primeiros ditam as regras e os discursos
que devem ser repetidos de maneira compulsória, e os demais arrebanham
os militantes a fim de conseguir representatividade social e política.
Diz José Osvaldo de Meira Penna:
"Na concepção de Gramsci, o que vale é a existência de uma espécie de clero dominante, algo como a Ordem dos Jesuítas, organizados, obedientes, dogmáticos, revoltados com as injustiças e maldades do mundo, e firmemente dispostos a corrigi-las a qualquer preço" (PENNA, 2017, p. 31).
Durante a
ditadura militar, pode-se ver que, apesar da repressão policial, o
pensamento marxista vigorava com força crescente e constante. Tal fato
ocorria porque os militares não se propuseram a criar um sistema de
ensino para contrapor as ideias marxistas, não prepararam intelectuais
capazes de argumentar de maneira coesa contra as suas investidas
intelectuais do socialismo - principalmente no terreno pedagógico.
Seus
esforços estavam determinados a parar, esconder e reprimir a qualquer
custo o pensamento socialista. Atitude que nada mais fez do instigar a
curiosidade do: “proibido é mais gostoso” dos jovens universitários da
década de 60, 70 e 80; jovens esses que já estavam embebecidos do ideal
hippie do “amor livre”, defensores da ideia do “é proibido proibir”.
Pela
formação positivista dos militares, achou-se que reprimindo a militância
revolucionária a base do medo, cassetete e torturas, acabaria com a
invasão socialista no sistema educacional brasileiro. Porém, os
militares quase nenhuma atenção dispensaram aos intelectuais que
trabalhavam calados, ou em segundo plano, seguindo as diretrizes de
Antonio Gramsci.
Tal
atitude tola do regime militar fez surgir no Brasil um paradoxo que ia
contra as tendências geopolíticas do fim da década de 80; enquanto o
mundo repugnava e abandonava as ideias esquerdistas, após a queda do
muro de Berlim e o desvelamento dos crimes dos governos comunistas ao
redor do globo, o Brasil as abraçavam e fortemente tendiam a erigir uma
república baseada em seus pilares gelatinosos.
Onde foi parar
O
resultado dessa pequena epopeia foi que, ao findar a ditadura militar, e
o mundo acadêmico voltar à suposta normalidade democrática de livre
pensamento, viu-se que quase todos os professores disponíveis tinham
sido formados a partir dos moldes socialistas. Suas mentes, teorias, e
óculos pelos quais enxergavam a realidade, estavam todos pré-definidos
pela mentalidade marxista. E assim as universidades estavam novamente
sujeitas e amarradas, não mais aos crivos das mãos pesadas dos censores
militares, é verdade; mas estava agora de joelhos prestando culto diante
do altar pensamento marxista, incapaz de conceber maneiras diversas de
pensar, fanatizada por sua ideologia-deus.
Hoje é
impossível negar os verdadeiros hospícios socialistas que se tornaram as
universidades brasileiras. Situações escabrosas e deploráveis como o de
professores, que são abertamente conservadores ou liberais, como o caso
do professor de filosofia da UFPE Rodrigo Jungmann, ou Ricardo Felício
da USP, sendo intimidados, ameaçados, boicotados.
Em alguns casos, até tendo seus bens depredados. Isso tão somente
porque suas ideias não estão inseridas nos catálogos de permissão
ideológica do esquerdismo.
Alunos
que não coadunam com o pensamento socialista são rechaçados e agredidos.
Como no caso da exibição documentário do filósofo conservador, Olavo de
Carvalho, na UFPE, onde ao terminar o cine-debate os espectadores foram cercados, ameaçados e agredidos.
Outras situações mais aterradoras se acumulam nesse mar aberrante das
universidades brasileiras; cenas de mostras culturais que mais parecem
cenas de filmes de terror, manifestos histéricos e cognitivamente
desconexos da realidade que fazem jus à teoria de Lyle H. Rossiter de que o socialismo se tornou doença mental.
O
pensamento esquerdista, na universidade brasileira, tornou-se hegemônico
e manteve-se dogmático (dois princípios extremamente perigosos quando
unidos); contrariá-lo ou questioná-lo é crime “lesa-pátria” que pode
render hematomas e queimas de reputação pessoal e acadêmica.
Não há
espaço para contrapontos e debates saudáveis na academia brasileira;
quem já foi universitário na área de humanidades e tentou se opor à
doutrinação sabe que tal realidade é cortante e inegável.
Chegou-se ao ponto de ser preciso uma decisão judicial para garantir a liberdade de consciência dos universitários de não participar de oficinas de ideologia de gênero e movimento LGBT
na universidade de Lavras, sem que com isso os estudantes sejam
expulsos. Uma sociedade equilibrada não precisaria de assinaturas de
juízes para que a garantia primordial de liberdade de consciência fosse
respeitada.
Outro
caso, e a mais recente aberração acadêmica, que não sem motivo está
sendo tratado pelos sensatos como sendo uma afronta às instituições
nacionais, é o “curso contra o golpe”. Várias universidades já aderiram ao “curso contra o golpe”, se referindo ao processo de impedimento da ex-presidente Dilma Rousseff.
Ainda
que o processo tenha seguido todos os trâmites legais da constituição,
tenha tido aporte da Suprema Corte e da vontade maciça da população, não
se cansa de apregoar um “golpe” fictício a fim de justificar suas
militâncias. Em suma, as universidades brasileiras contarão uma mentira,
endossarão um discurso irreal. Atiçarão no campo do direito, ao nível
universitário, a maior das desonras que o mundo das ciências jurídicas
pode imaginar para si, isto é: o ativismo jurídico em prol de uma
ideologia política; a prostituição da reta doutrina judicial (que
deveria ser imparcial) em favor de um partido. Não se trata de
interpretação diversa, se trata de apologia deliberada a um ideal
político; um parcialismo aberrante e vergonhoso em favor de um partido
ou causa ideológica.
O Ministério da Verdade
Esse
curso acima citado, me faz lembrar vividamente de 1984, aclamada obra do
socialista consciente: George Orwell. O personagem principal, Winston,
era funcionário do Estado totalitário da trama, trabalhava ele para o
Ministério da Verdade, organização estatal encarregada de apagar e
modificar os fatos históricos para que realidade se amoldasse à
ideologia do Estado e mantivesse intacta a imagem messiânica do supremo
líder.
Com esse
trabalho, Winston ajudava o Grande Irmão a se manter onipotente no
poder e revigorar na consciência coletiva da população a doutrina da
ideologia salvífica e inerrante do Estado. No caso do Brasil, a situação
é assustadoramente análoga, a intenção é criar uma “verdade” histórica
inexistente: o “golpe contra Dilma”. Todos os elementos são
assustadoramente parelhos. As universidades brasileiras estão atuando
como o Ministério da Verdade, encaixotando os fatos históricos entre as
paredes claustrofóbicas da ideologia socialista para dar-lhe o formato
que seja favorável às causas que defendem.
Aliás, constantemente vemos isso no comunismo, Dmitri Volkognov, em sua obra Stalin; Alexander Soljenítsin, com a obra Gulag; e Svetlana Aleksiévitch,
em Vozes de Tchernóbil, concordam em afirmar que o governo soviético
era mestre em ocultar, modificar e ditar qual deveria ser a história
oficial.
Não
raramente víamos Soljenítsin gastar páginas e mais páginas para nos
contar com detalhes aterradores sobre os teatros e alegorias judiciárias
criadas pela URSS a fim de esconder suas incompetências e erigir bodes
expiatórios. Nunca era culpa do partido, nunca é culpa do PT, da Dilma
ou do Lula; sempre havia uma conspiração a ser suprimida pelo partido na
URSS, sempre há um golpe a ser combatido no Brasil.
A
propaganda, baseada na construção falsária da história, serviu de
impulso e manutenção dos dois principais regimes totalitários do século
XX: o comunismo e o nacional-socialismo. Mas, sem sobra de dúvida, o
comunismo se valeu dessa arma com muito mais destreza e eficiência;
basta ver que se utiliza dela até hoje.
A luta
de classes como motor da história, o maior embuste teórico já criado,
continua a ser o filtro pelo qual quase todas as universidades e mídias
julgam a realidade. Ainda que mais de 100 anos de estatismo republicano,
de protecionismo mercantil, tenha legado ao Brasil uma herança pobre em
desenvolvimento científico, econômico, social e intelectual, a
propaganda sindical e estatista continua a vigorar com enorme sucesso
nas penas e bocas dos formadores de opinião. Ainda que a esquizofrenia
ideológica deixada pelo esquerdismo tenha historicamente deixado um mar
de sangue, ainda sim se pensa que o socialismo é a defesa da paz.
Enfim, o
socialismo se graduou na arte de propagandear sua teoria apesar da
verdade dos fatos; e quando necessário foi, ousou encaixar a realidade
nas suas formas ao invés de acatar o imperativo do real.
A liberdade pede licença
A
liberdade é um princípio que se autoimpõe; os indivíduos sentem que a
liberdade é uma realidade que os acompanham e de alguma maneira clama
sem cessar por suas consciências. Assim como a esquerda triunfou, apesar
da censura e do regiscismo militar, o contraponto conservador e liberal
se erguerá independentemente dos esforços de censura das universidades.
Chega a ser paradoxal e terrível ter que concluir que a universidade,
hoje, é o grande censor da democracia nacional; o lugar onde a liberdade
deveria figurar como regra, ela tornou-se maldição.
Uma
universidade que se diz aberta por dar cotas e apregoar a diversidade de
gênero, ao mesmo tempo que emudece o conservador e rechaça o liberal, é
tudo, menos livre.
É refém
de uma mentalidade enganosa, pútrida e verdadeiramente escravizante. O
local onde sustentar ideias diferentes seja motivo de expulsão ou
humilhação, não pode arrogar ser um centro democrático de ensino; é
antes um campo de concentração onde os judeus são nossas consciências.
Uma
sociedade só é livre onde o ensino é livre. Dentro das paredes de uma
universidade, a confluência de ideias diferentes não deveria ser algo
forçoso, mas sim necessário. A diversidade de ideias forma o arcabouço
científico e filosófico de uma sociedade madura capaz de conviver com o
diferente.
Não é
impondo o alternativo que a tolerância se tornará uma virtude, mas sim
fazendo com que o alternativo e o ortodoxo convivam em harmonia e tenham
liberdade para discordarem, debaterem e se converterem (caso seja de
livre escolha) a alguma corrente de ideia que julgar mais coerente; é
dessa maneira que poderemos alcançar uma democracia possível, onde as
universidades sejam distribuidoras de conhecimentos e não catequistas de
ideologias.
Conclusão
As
universidades brasileiras se encontram acanhadas em suas utopias, olham
para as paredes de seu bunker ideológico, pintadas de mundos ideais, e
figuram em suas mentes imagens de êxtases revolucionários e inimigos
imaginários sem se dar conta daquilo que ocorre do lado de fora de seu
mundinho fictício.
Mal
percebem que boa parte dos brasileiros abandonaram as ideias socialistas
e começaram a requisitar espaço nas universidades PÚBLICAS do país a
fim de ensinar e propagar novas ideias. “Ideias, somente ideias, podem
iluminar a escuridão” (MISES, 2017, p. 213), dizia Mises. Nunca foi tão
atual e profético.
Os
clérigos socialistas (aqui no Brasil esse termo se torna paradoxalmente
metáfora e realidade), ao olharem pela porta de seu bunker, percebem o
avançar ininterrupto de jovens que não mais se amedrontam com
intimidações acadêmicas ou com opressões midiáticas; tais jovens
começaram a estudar apesar da lacuna propositalmente deixada na ementa
do conhecimento político do país.
Levantam-se
nas salas de aulas do país e questionam seus docentes sobre a teoria de
Eric Voegelin que demonstrou que o socialismo é baseado no mito amorfo
de Joaquim de Fiore; questionam sobre Ludwig von Mises e Friedrich Hayek
que demonstraram que o socialismo econômico é inviável; questionam
sobre as revelações históricas aterradoras feita por Alexander
Soljenítsin, Robert Sérvice, Tmothy Snyder e Stéphane Courtois sobre os
morticínios demoníacos deixado como legado do comunismo.
No
Brasil, as universidades se tornaram praticamente o último bunker da
esquerda. Os sindicatos se encontram desunidos e agonizantes após o
corte em seus orçamentos feitos pela nova lei trabalhista que desobriga o
trabalhador a pagá-los; no terreno dos três poderes, a partir das
eleições de 2018, a tendência está claramente à direita. É de opinião
quase que unânime que após as eleições teremos uma guinada significativa
para as pautas tidas como “conservadoras” e de “livre mercado.
Roger Kimball em seu livro Radicais na universidade,
nos diz: “A verdadeira tirania é privar os alunos do melhor que foi
pensado e dito em nome de uma ou outra versão de retidão política”
(KIMBALL, 2009. p. 267). Ou a universidade se abre ao diferente, ou ela
irá ruir unida à sua arrogância fanática!
As
universidades brasileiras mostram-se a última trincheira a ser
transposta para fora desse terreno inóspito da doutrinação política e
pedagógica. De duas uma: ou a universidade se reinventa e deixa de
tratar com hostilidade o pensamento liberal e conservador, abrindo
espaço para outras teorias e modos de ver a realidade; ou ela se fechará
ainda mais em sua bolha ideológica, assistindo vagarosamente o avanço
irrefreável dos conservadores e liberais brasileiros.
Diante
da missão primeva da universidade: a busca pela Verdade; nenhuma gaiola
ideológica pode impedi-la por muito tempo de procurar pelo objeto de sua
vocação. Se a Verdade pudesse dizer-nos algo diante da censura
ideológica moderna, repetiria exatamente o que Irmã Branca dizia no
Diálogo das Carmelitas: “Morro toda noite para ressuscitar a cada manhã”
(BERNANOS, 2013, p. 22). A liberdade de pensamento avançará com ou sem
esses intelectuais encastelados nas universidades.
Referências
ARON, Raymond. O ópio dos intelectuais, Três estrelas: São Paulo, 2016.
BERNANOS, Georges. Diálogo das Carmelitas, São Paulo: É realizações, 2013
KIMBALL,
Roger. Radicais na universidade: como a política corrompeu o ensino
superior nos Estados Unidos da América, São Paulo: Peixoto Neto, 2009.
MISES, Ludwig von. As seis lições: reflexões sobre política econômica para hoje e amanhã, 8ª Ed, São Paulo: LVM, 2017.
PENNA,
J. O. de Meira. A ideologia do século XX: Ensaios sobre o
nacional-socialismo, o marxismo, o terceiro-mundismo e a ideologia
brasileira, 2ª Ed, São Paulo: Vide Editorial, 2017.
SÉVILLIA, Jean. O terrorismo intelectual: de 1945 aos nossos dias, São Paulo: Peixoto Neto, 2009.
SCRUTON, Roger. Pensadores da nova esquerda, São Paulo: É realizações, 2014.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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