Os
autoproclamados intelectuais, gramscianamente orgânicos desde que o PT
começou a infestar as universidades, foram os grandes derrotados no
expurgo de Dilma. Divorciados da realidade, são ruins de voto para o
partido cujo líder iluminou a filósofa da corte Marilena Chaui. Só lhes
resta, mesmo, ficarem encastelados nas universidades e áreas afins, onde
poderão continuar delirando à vontade. A propósito, segue texto - "O
grande divórcio" - do poeta e tradutor Nelson Ascher, publicado hoje na FSP:
A
segunda-feira ainda não acabou. A torcida do time derrotado continua sob
efeito do placar de 61 a 20. Há abulia, depressão, raiva, violência,
gente depredando o estádio etc.
Só que,
mais dia, menos dia, a terça-feira chega, e o torcedor mais transtornado
descobre que suas economias não sumiram, sua mulher não o abandonou nem
sua casa pegou fogo. A derrota simbólica foi terrível, mas foi
simbólica.
Não há
setor da sociedade ao qual essa comparação se aplique melhor do que à
intelectualidade, cuja adesão ao partido recém-demitido foi quase
unânime. O que se vê nos universos real e virtual é intelectual
histérico, apocalíptico e/ou em pânico a nos ameaçar com um amanhã tão
sombrio quanto o prometido por seus pares britânicos aos compatriotas
caso o Brexit triunfasse.
No
entanto, praticamente nenhum intelectual aqui perdeu ou perderá
dinheiro, poder, influência por causa do impeachment. Seus lugares em
universidades, jornais, editoras, shows e naquela rede de TV seguirão
inalterados.
Nem por
isso a intelectualidade está segura. Não é que seus membros corram o
risco de os camisas-negras do novo presidente ou a polícia secreta da
República de Curitiba sequestrá-los no meio da noite e despachá-los para
Guantánamo.
Não. É
que nesses 13 anos consumou-se um divórcio inédito entre eles e a
maioria dos brasileiros, algo que se patenteou durante as recentes
megamanifestações. Artistas, cantores, autores e jornalistas, como os
que encabeçaram ou inspiraram as Diretas Já, foram para um lado chamando
a população, que, sem qualquer grande personalidade, dirigiu-se
majoritariamente para o sentido oposto.
Nossa
elite intelectual influencia cada vez menos as escolhas políticas dos
concidadãos, para boa parte dos quais anda granjeando fama de áulica e
servil. Será que ela ignora que um dos grandes tabus tácitos do país é
não bajular o chefe, pelo menos não abertamente, em público?
Por mais
maravilhoso que um governo seja, ainda é um governo, e não cai bem
intelectual elogiá-lo anos a fio, sem parar. Pode ser convicção 100%
honesta, mas soa como bajulação. Além disso, nem mesmo o interesse pelo
trabalho específico da casta em questão está em alta.
É claro
que a intelectualidade não precisa estar afinada com a população. Houve
épocas em que muitos escritores e artistas se orgulhavam do contrário,
de serem aristocratas do espírito, distantes da "turba rude". Acontece
que, hoje, dez em dez intelectuais querem ou creem encarnar o papel de
tribuno da plebe e até de psicanalista das massas. Aí, tal descompasso
se torna preocupante.
Vale a
pena também perguntar quem ainda quer o apoio político do grupo. Afinal,
muito do crescente insucesso do partido de partida resulta de ter se
aproximado demais da intelectualidade, pois quanto mais esta o defende
em público, menos eleitores ele atrai, já que o intelectual típico quer
sempre ganhar integralmente toda e qualquer discussão, é insistente,
nunca muda de assunto, não dá trégua e tem certeza de que fala em nome
da história e dos anjos.
Nada disso seduz um público que ou não é religioso ou sabe separar sua religião de sua política.
E já que a
pauta é como hostilizar eleitores e se livrar de seus votos, cabe
observar que, não bastasse o governo demitido ter inundado cidades como
São Paulo com o maior (e menos comentado) tsunami já visto de moradores
de rua, seus defensores saem agora dia e noite perpetrando atos de
depredação, vandalismo e até mesmo tirando desses sem-teto a última
"zona de conforto"que lhes restava.
Eis aí uma forma muito peculiar, especialmente numa democracia, de fazer amigos e influenciar pessoas.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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