MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Esquerda? Que esquerda? A do PDT?


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Charge do Chico Caruso, reprodução de O Globo
Marcelo Câmara
Alguns internautas receberam o primeiro artigo desta série, dedicado ao PT, como uma intenção deliberada deste jornalista de livrar uma suposta Esquerda do partido da responsabilidade pelos males causados ao País. Não. Absolutamente. Nada disso. Três foram os objetivos daquele artigo: procurar demonstrar que as ações dos governos do PT não se coadunam, em tese, com os valores e a ética de uma doutrina socialista democrática; que os verdadeiros socialistas que estiveram no PT o deixaram a partir das condutas iniciais do primeiro governo Lula; e que, como se comprovará ao final da série, os verdadeiros socialistas, com as suas naturais virtudes, pecados e erros, não habitam os partidos ditos “de Esquerda” no País, estão distantes do processo político-partidário, ocupados em outros ofícios e missões, ideológicas ou não.
Aqui, numa segunda reflexão, perguntamos: Há Trabalhistas de Esquerda no atual PDT? Evidentemente que não. Talvez, uns poucos, franciscana e saudosamente, em desconforto, sem ter para onde ir, que, ao agirem, de acordo com as suas convicções, estão sendo marginalizados ou processados para a expulsão do partido.
Há exceções. Alguns intelectuais de Esquerda, incrivelmente, permanecem no PDT, ainda integram o partido, como o brilhante jornalista e historiador José Augusto Ribeiro, autor dos três volumes esgotadíssimos de A Era Vargas. Há alguns outros valorosos trabalhistas-socialistas, aqui e acolá, com a carteirinha do partido, frequentando-o.
SUMIÇO – Mas, onde está a maciça, a expressiva Esquerda Trabalhista, Brizolista, do PDT? A maioria está fora da vida político-partidária, votando, consciente e responsavelmente “nulo” ou “em branco” a cada eleição, desde a partida de Brizola. “Se, no Brasil, o Trabalhismo é uma ideologia na gaveta e se não existe partido trabalhista, não há em quem e porque votar” – argumentam.
Em 1980, o PDT foi a alternativa de Leonel de Moura Brizola, após perder a histórica sigla PTB para Ivete Vargas, numa complexa e maquiavélica manobra do General Golbery do Couto e Silva, o mesmo que ajudou a inventar Lula. No ano anterior, em Portugal, Brizola e mais 125 Trabalhistas, gente de várias latitudes sociais e diversos talentos, como Darcy Ribeiro, Francisco Julião, Doutel de Andrade e Herbert de Souza, o Betinho, elaboram e assinam a Carta de Lisboa, manifesto político, documento social, econômico e cultural, socialista e nacionalista, que marcaria o renascimento do velho PTB, mas acabou sendo o “registro de nascimento” do PDT, “um partido nacional, popular e democrático”.
Essa Carta transformou-se no ideário e no programa básico do PDT. Nela, Brizola prega uma “solução trabalhista para o País, despida de soluções importadas” e convoca para a participação e o debate todas as forças populares, democráticas e progressistas visando à “construção de uma sociedade socialista, fraterna e solidária, em Democracia e Liberdade”.
TOLERANTE E FRATERNO – Após prever um partido que deve praticar a tolerância, a fraternidade, o pluralismo e condenar a manipulação de sindicatos e organizações populares, Brizola diz que deseja “recuperar o papel renovador que desempenhava os trabalhistas antes de 64”.
Além de condenar todas as formas de censura, defender os direitos dos trabalhadores e, indiscriminadamente, os direitos humanos, a Carta enumera quatro missões então urgentes do novo partido, diante o drama social que a Nação vivia, sob a Ditadura Militar:
1) salvar as crianças do abandono e da fome, e, da delinqüência, os jovens “analfabetos e descrentes da sua Pátria”; 2) viabilizar o exercício dos direitos dos negros e índios, fazendo-lhes justiça; 3) dar a mais séria atenção às mulheres brasileiras, espoliadas em sua cidadania e no seu trabalho; 4) assumir a Nação a causa do Povo Trabalhador do Norte e Nordeste, vítimas de cruel e permanente “colonialismo interno”. Brizola coloca o Povo Brasileiro como “sujeito e criador do seu próprio futuro”, sublinhando “o caráter coletivo, comunitário e não individualista da visão Trabalhista”.
E encerra a Carta, asseverando que, com a organização do PTB – sonhava ele – “continuaremos firmemente, sob a inspiração da Carta Testamento do Presidente Getúlio Vargas, a caminhada junto ao povo que nos levará à emancipação da Pátria”.
O PDT ATUAL – Tomemos a ideologia Trabalhista que tem no Trabalho e nos Trabalhadores os valores primaciais de uma Nação, para a construção do Estado e suas instituições, a evolução política, o desenvolvimento socioeconômico e cultural de um país. Em seguida, viajemos pela História do Trabalhismo Brasileiro cuja semente está na Revolução Farroupilha, na luta pela República e sua afirmação, no Governo gaúcho positivista de Júlio de Castilhos. Depois, com Getúlio Vargas, Alberto Pasqualini pensou e sistematizou a doutrina. Marcondes Filho organizou o sindicalismo e ajudou a dar face trabalhista a um partido, liderado por Vargas. Vieram Jango e Brizola para consolidar a ideologia definitivamente.
Meditemos sobre os percursos político-ideológicos de Vargas, o Estadista do Século XX, que fundou e estruturou o Estado Brasileiro, praticou, efetivamente, o Trabalhismo em suas decisões e feitos, em toda a sua dimensão humana e social, estabeleceu os alicerces da economia nacional; de Jango com as Reformas de Base, seu governo nacionalista e popular, o golpe que, por isto, sofreu e por causa dele morreu.
CONCLUSÃO – Reflitamos sobre a Carta de Lisboa, seus fundamentos, sua crítica, seus objetivos, o que o PDT nela buscou e dela cumpriu. Analisemos, por último (e nada aconteceu depois) a brilhante, coerente e vitoriosa caminhada de Brizola como líder político, nacional e trabalhista, prefeito, deputado estadual e federal, o único brasileiro governador em dois Estados, sua conduta de estadista, seus extraordinários feitos como administrador, sua rica biografia, bem como as vitórias e derrotas do PDT.
Então, estamos prontos para questionar: Esse PDT que sobreviveu após a partida do “Doutor Leonel”, e que está aí, flagelado, raquítico, canhestro, manco, contraditório, vendido, desfigurado, aliado ao PT, com o liliputiano Carlos Lupi no leme e o patético Ciro Gomes na proa, fazendo composições esdrúxulas regionalmente, tem algo a ver com o Trabalhismo Brasileiro? Com o Trabalhismo Socialista? Com a Esquerda? Deixo as perguntas aos leitores.
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